Projeto
20
ATLAS LINGUÍSTICO DO BRASIL (Projeto ALiB)
Coordenadoras:
Jacyra Andrade Mota - jacymota@gmail.com
Vanderci Aguilera - vanderciagui@gmail.com
_______________________________________
XX CONGRESSO INTERNACIONAL DA ALFAL
Concepción -
Chile
22 a 26 de janeiro
de 2024
CONVITE
ATLAS LINGUÍSTICO DO BRASIL
CHAMADA
PARA APRESENTAÇÃO DE TRABALHOS
Convidamos
os colegas para a apresentação de propostas de comunicação sobre dados
dialetológicos caracterizadores de áreas brasileiras, no XX Congresso
Internacional da ALFAL, a ser realizado na Universidade de Concepción/Chile, de
22 a 26 de janeiro de 2024.
A
submissão deve ser realizada no site do Congresso, no link https://alfal2024.cl/formulario/. Ao inscrever-se, indicar explicitamente o Projeto 20: “ATLAS LINGUÍSTICO DO BRASIL”
O XX Congresso Internacional da ALFAL tem
como tema "Discursos ecológicos y significados esperançosos".
O
Projeto Atlas Linguístico do Brasil (ALiB),
iniciado em 1996 durante o Seminário Caminhos e Perspectivas da Geolinguística
no Brasil, realizado na Universidade Federal da Bahia, publicou, em 2014, os
dois primeiros volumes: Apresentação (v. 1) e Cartas (v. 2) e, em 2023, o v. 3,
contendo os estudos dos temas relativos a aspectos fonéticos, lexicais,
morfossintáticos e prosódicos, coletados nas capitais brasileiras e veiculados
nas cartas do 2º volume.
Para
o quadriênio 2023-2026, propõe a publicação dos volumes subsequentes envolvendo
dados das 25 capitais não explorados no volume 2 e
aqueles coletados nas demais 225 localidades não-capitais que compõem a rede de
pontos do ALiB.
Diante
desse panorama, com o propósito de promover o encontro de dialetólogos e
sociolinguistas do Brasil e de demais países integrantes da ALFAL, propomos:
(i) reunir pesquisadores que desenvolvem temas relativos aos fatos do Português
Brasileiro apresentados no volume 2 do ALiB; (ii)
expor os resultados parciais ou totais dos temas selecionados para o volume 4
(dados das capitais) e volumes subsequentes (dados das não-capitais); (iii)
discutir comparativamente dados geolinguísticos do Português Brasileiro com os
das Línguas românicas; (iv) incentivar jovens pesquisadores para atuarem nas
áreas da Geolinguística e da Dialetologia Pluridimensional.
INFORMAÇÕES GERAIS:
(a)
Os resumos das comunicações devem ser redigidos em fonte Times New Roman 12 e
ter no máximo 300 palavras. Devem ser especificados: o tema, os objetivos, a
metodologia, a fonte de dados e os resultados obtidos na análise.
(b) O resumo deve ser enviado também aos
coordenadores do Projeto 20: jacymota@gmail.com; vanderciagui@gmail.com
(c) Dados para as apresentações:
Comunicação (20 minutos de exposição e 10 minutos
para perguntas)
Pôster digital (1 x 0.80)
(d) DATAS IMPORTANTES:
Data
para o envio de propostas: 05 de agosto a 30 de setembro de 2023
Data
limite para notificação do aceite: 30 de outubro de 2023.
Aguardando a manifestação dos colegas, atenciosamente
Jacyra Andrade Mota
Vanderci de Andrade Aguilera
_______________________________________
XIX Congresso Internacional
ALFAL 2021
8 a 13 de
agosto
Remoto
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CONVOCAÇÃO
XIX Congresso da ALFAL
La Paz - Bolívia
TEMA PROPOSTO: A GEOLINGUÍSTICA
NO SÉCULO XXI
O Projeto 20-Atlas Linguístico do Brasil
desenvolverá atividades no XIX Congresso da
ALFAL, que se realizará em La Paz, Bolívia, entre 10 e 14 de
agosto de 2020.
Temos o prazer
de convidar todos os membros do Projeto ALiB, assim
como outros pesquisadores que queiram se associar a essa programação.
Para
a participação:
1.
Devem enviar um resumo, até 15 de novembro seguindo
as normas divulgadas pela organização do Congresso, diretamente para alib@ufba.br, com cópia
para Jacyra Mota (jacymota@gmail.com) e Vanderci
Aguilera (vanderciagui@gmail.com), indicando no assunto
“Resumo para Projeto 20-Congresso da ALFAL”, de modo a atendermos à data limite
de 24 de novembro 2019 - 31 de janeiro de 2020, fixada pela organização.
2.
Os temas a serem abordados podem vincular-se
à Geolinguística em geral ou, especificamente, a atlas linguísticos, com
enfoque em quaisquer dos níveis de abordagem da língua.
3.
Os trabalhos podem ser apresentados sob a
forma de comunicação oral ou de pôster.
4.
Os resumos serão apreciados por uma comissão
constituída pelo Projeto.
5.
Carta de aceite será enviada aos
participantes.
Contamos com a participação dos colegas.
Jacyra Andrade Mota e Vanderci de Andrade Aguilera
Coordenadoras do Projeto 20
____________________________________________________
XVIII
CONGRESSO INTERNACIONAL DA ALFAL
Bogotá D.C. - Colômbia
24-28 de julho de 2017
1º. DIA – Terça-feira, 25, 09:00h - 12:00h
1. Aline
Farias (UFRJ); Dinah Callou (Orientadora, UFRJ). Sobre
duração vocálica e apagamento do rótico em coda silábica: uma análise acústica
2. Ingrid
Oliveira (UFRJ); Carolina Serra (UFRJ). Apagamento do r em coda
silábica externa: a Região Sul do Brasil
3. Dinah
Callou (UFRJ); Aline Farias (UFRJ); Bruna Martins (UFRJ) A propósito da
concordância verbal e das origens do português brasileiro
4. Josane
Moreira de Oliveira (UEFS). O imperativo verbal no Nordeste brasileiro: um
caso de variação e mudança linguística
2º. DIA – Quarta-feira, 26,
09:00h - 12:00h
1.
Mayra Santana (UFRJ);
Karilene da Silva Xavier (UFRJ). Variação e prosódia no corpus do ALiB: uma análise dos róticos em coda nas capitais do sul do
Brasil
2.
Priscila Francisca dos
Santos (UFRJ). A variação entonacional no Rio Grande do Sul: as interrogativas
totais
3.
Beatriz Aparecida Alencar
(UFMS). Denominações para 'bolinha de gude' no estado de São Paulo a partir de
dados do Projeto ALiB: panorama e análise
4.
Marcela Moura Torres Paim
(UFBA). Os fraseologismos no campo semântico convívio e comportamento social
nas capitais do Brasil
3º. DIA -
Quinta-feira, 27, 09:00h - 12:00h
1.
Conceição de Maria de
Araujo Ramos/UFMA; José de Ribamar Mendes Bezerra/UFMA; Flávia Pereira
Serra/UFMA. Um estudo da variação denominativa da banana gêmea com
base nos dados do ALiB.
2.
Fabiane Cristina Altino
(UEL). As denominações de pão francês nas Regiões Sul e Sudeste.
3.
Georgiana Márcia Oliveira
Santos (UFMA). A variação no campo semântico-lexical vestuário e
acessórios: uma abordagem geossociolinguística com base no corpus constituído para o ALiMA
4.
Vanderci de Andrade
Aguilera (UEL/CNPq). Uma análise da variação lexical no campo da vida urbana.
RESUMOS
Aline Farias (alinejfarias@gmail.com)
Orientadora: Dinah Callou (dcallou@gmail.com)
Universidade Federal do Rio de Janeiro
SOBRE
DURAÇÃO VOCÁLICA E APAGAMENTO DO RÓTICO EM CODA SILÁBICA: UMA ANÁLISE ACÚSTICA
O trabalho busca estabelecer uma correlação entre o
fenômeno do apagamento variável do rótico em posição de coda silábica final e a
configuração fonológica da sílaba no português brasileiro. A amostra utilizada
faz parte do corpus do Projeto ALIB (https://alib.ufba.br/) e compõe-se de elocuções
de fala espontânea de quatro falantes de Teresina/PI e quatro de Correntes/PI,
com até o 5º ano do ensino fundamental. Além de confirmar hipóteses sobre a
influência de fatores linguísticos e sociais na aplicação da regra variável de
apagamento do rótico — dentro da perspectiva da sociolinguística variacionista
(LABOV, 1994) — propõe-se uma análise acústica, por meio da qual serão
analisadas as unidades de duração da sílaba (moras), visando a responder a como
se daria a (re)organização temporal da sílaba quando
ocorre a queda do segmento. Hyman (1985) postula que uma sílaba pesada possui
duas unidades temporais: uma mora que estaria associada ao onset + núcleo e
outra que estaria relacionada à consoante em coda. Caberia indagar se, quando
ocorre a queda do segmento em coda, (i) a unidade temporal seria mantida,
através de um possível alongamento compensatório da vogal, ou (ii) esta unidade temporal desapareceria. Estudos acústicos
sobre a aquisição do constituinte coda revelam que o “alongamento compensatório”
é uma estratégia de reparo temporal, em que o falante alonga a vogal que
antecede o segmento em coda, com o objetivo de manter a unidade temporal da
sílaba (MEZZOMO, 2003). Busca-se verificar se tal comportamento se reflete na
fala espontânea de indivíduos adultos. Os resultados preliminares, relativos
aos falantes nascidos em Teresina, apontam para um possível prolongamento da
vogal: a média duracional da vogal da sílaba em que rótico é foneticamente
realizado, é de 0,185 segundos,
enquanto a média da vogal, quando se dá o cancelamento do segmento, é de 0,261 segundos, ou seja, a duração da
vogal sem a preservação do R é 41%
maior.
Beatriz Aparecida Alencar (bia83_12@hotmail.com)
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
DENOMINAÇÕES PARA 'BOLINHA DE GUDE' NO ESTADO
DE SÃO PAULO A PARTIR DE DADOS DO PROJETO ALIB: PANORAMA E ANÁLISE
A
importância dos entretenimentos infantis e, consequentemente do lúdico,
manifesta-se por meio de jogos e diversões infantis que, por sua vez, revelam
aspectos da cultura de uma comunidade de falantes, inclusive na norma lexical
desse grupo social. Este estudo tem como objetivo analisar as denominações para
o conceito expresso na pergunta “como
se chamam as coisinhas redondas de vidro com que os meninos gostam de brincar?”
– pergunta 156 que integra a área semântica dos jogos e diversões infantis do Questionário Semântico-Lexical do
Projeto ALiB (Atlas Linguístico do Brasil). Para tanto
são examinados os dados coletados pelo Projeto ALiB
nas 37 localidades relativas à rede de pontos no Estado de São Paulo, além dos
oriundos das 10 cidades limítrofes com a fronteira de São Paulo (uma em Mato
Grosso do Sul, três no Paraná, quatro em Minas Gerais e duas no Rio de
Janeiro), região neste estudo considerada área de controle. Foram, enfim,
examinadas as respostas fornecidas por 192 informantes, quatro de cada uma das
localidades situadas no interior e oito na capital paulista, de ambos os sexos,
de duas faixas etárias (10-30; 50-65), com grau de escolaridade universitário
na cidade de São Paulo e até o ensino fundamental completo, no interior e na
capital. O estudo pauta-se em pressupostos teóricos da Dialetologia e da
Lexicologia, ancorando-se também em fundamentos da Semântica, da
Etnolinguística e da Antropologia Linguística. A análise busca demonstrar, com
base no recorte da questão investigada, a inter-relação entre léxico, cultura e
a história social que singulariza o Estado de São Paulo, além de traçar possíveis
áreas dialetais de uso das variantes lexicais documentadas.
Conceição
de Maria de Araujo Ramos (conciufma@gmail.com)
José
de Ribamar Mendes Bezerra (comendesufma@gmail.com)
Flávia
Pereira Serra (flaviapserra@gmail.com)
Universidade Federal do Maranhão
UM ESTUDO DA VARIAÇÃO DENOMINATIVA DA BANANA GÊMEA COM BASE NOS DADOS DO ALiB
Este
trabalho enfoca o léxico sob uma perspectiva dialetal, com base em dados orais
coletados in loco, para a elaboração
do Atlas Linguístico do Brasil (ALiB). Tomamos o
questionário Semântico-Lexical do ALiB (QSL), mais
especificamente o campo temático atividades
agropastoris, com o objetivo geral de mapear as denominações referentes ao
conceito expresso na pergunta 43 – “Como se chamam duas bananas que nascem
grudadas?”. Objetivamos, ainda, analisar essas denominações não só do ponto de
vista diatópico, mas também diastrático. A análise das unidades lexicais
extraídas das respostas dos informantes selecionados fundamenta-se nos
princípios da Geolinguística, da Dialetologia e da Lexicologia. Dicionários
gerais da língua portuguesa e obras regionais também subsidiam a análise. O
estudo apresenta formas variantes que fazem parte do léxico ativo de sujeitos
naturais das 25 capitais brasileiras integrantes da rede de pontos do ALiB. Considerando a totalidade dos dados, a forma gêmeas (~ gêmis), presente nas cinco regiões brasileiras, representa mais da
metade das respostas obtidas, sendo seguida pelas variantes filipe (~ filipinho), cõen (~ cõins), mabaça, pregada (~ pegada), colada, grudada. Essa
diversidade de formas registradas pelo ALiB ratifica a
inestimável contribuição que os atlas linguísticos podem dar para que tenhamos
um conhecimento mais circunstanciado do léxico do português brasileiro.
Dinah
Callou (dcallou@gmail.com)
Aline
Farias (alinejfarias@gmail.com)
Bruna
Martins (brunalara100@hotmail.com)
Universidade Federal do Rio de Janeiro
A PROPÓSITO DA CONCORDÂNCIA
VERBAL E DAS ORIGENS DO PORTUGUÊS BRASILEIRO
Neste trabalho observa-se a variação da concordância verbal (os meninos
estudam/ os meninos estudaØ) na
fala de indivíduos com diferentes graus de escolaridade (maior ou menor que 9
anos), em 17 capitais do Brasil. A amostra foi extraída de entrevistas
informais do corpus do Projeto ALIB,
distribuídos por faixa etária e gênero. A análise busca identificar marcas de
concordância dos verbos na 3ª pessoa do plural e, para isso, baseamo-nos no
aparato teórico-metodológico da sociolinguística quantitativa laboviana (Labov,
1994), fazendo uso do programa Goldvarb2001.
Esse tema,
amplamente analisado, é utilizado na discussão sobre o estabelecimento das
origens do português brasileiro e pretende-se aqui contribuir para mostrar que a dicotomia
“deriva secular” (variação seria embrionária
no PE) versus “contato” (resultante do intenso contato linguístico,
por transmissão irregular da língua) acaba por deixar de lado alguns questionamentos e não faz jus à
complexidade sociohistórica da implantação da língua portuguesa no Brasil. O
apagamento da marca
mostrou-se sensível a condicionamentos linguísticos e extralinguísticos, tais
como, grau de animacidade do sujeito, distanciamento do sujeito para o verbo,
posição do sujeito na oração, saliência fônica, faixa etária e região.
O caráter
inovador do trabalho reside em procurar relacionar o percentual de ocorrência
do processo a indicadores demográficos e história social das comunidades. É necessário verificar se as
características atestadas no português brasileiro, que o afastam do português
europeu, estão presentes em todas as áreas do nosso território ou só naquelas
em que predominou a presença africana. Até o momento, o que vimos comprova que
o processo apresenta comportamento e regras semelhantes de uso, na chamada fala
culta e não-culta, no país todo, com diferenças apenas
nos índices percentuais.
Fabiane Cristina
Altino (fabiane_altino@uol.com.br)
Universidade Estadual
de Londrina
AS DENOMINAÇÕES DE PÃO FRANCÊS NAS REGIÕES SUL E
SUDESTE
Os primeiros 50 anos da Geolinguística no Brasil
consolidaram os estudos dialetológicos. Avanços metodológicos, pesquisas que
recobrem o território nacional e a publicação dos primeiros volumes do Atlas
Linguístico do Brasil – ALiB trouxeram o
reconhecimento para a Geolinguística brasileira e propiciaram um salto
quantitativo e qualitativo nos estudos da área. Publicados os primeiros dados
do Projeto ALiB, é hora de “debruçar-se” sobre os
registros, analisá-los e devolver os resultados para a apreciação da
comunidade. Esta comunicação insere-se nesta perspectiva e busca fazer o
levantamento das designações dadas pelos informantes das Regiões Sul e Sudeste
para a questão 186 do Questionário Semântico Lexical, na área semântica da
Alimentação e Cozinha que verifica as denominações para o conhecido pão francês. O objetivo geral delimitado
para esta pesquisa é o de apresentar a cartografação da distribuição diatópica
das variantes para o pão feito com
farinha branca e de formato oblongo. Para esta comunicação, são
estabelecidos os seguintes objetivos específicos: (i) descrever e analisar as
variantes registradas sob a perspectiva da Geolinguística Pluridimensional
(THUN, 1998). As variantes serão analisadas e descritas com base nas variáveis
estabelecidas pelo projeto: sexo e faixa etária. Para o interior o ALiB estabelece apenas a escolaridade fundamental dos
informantes. (ii) cotejar os dados registrados nas capitais referentes às
escolaridades selecionadas no projeto (fundamental e superior). (iii) verificar
a lexicalização das formas linguísticas coletadas nas localidades estudadas.
(iv) verificar a resistência de variantes, observada a partir da dimensão rural
X urbana. Os resultados parciais apontam para a diversidade de variantes
motivadas pela religião ou pela colonização. Desse modo, espera-se estabelecer
um panorama da variação linguística na fala do português brasileiro no que se
refere ao item selecionado nas regiões destacadas para esta apresentação.
Georgiana Márcia Oliveira Santos (gsantos_23@yahoo.com.br)
Universidade Federal do Maranhão
A VARIAÇÃO NO CAMPO
SEMÂNTICO-LEXICAL VESTUÁRIO E ACESSÓRIOS:
UMA ABORDAGEM GEOSSOCIOLINGUÍSTICA
COM BASE NO CORPUS CONSTITUÍDO PARA O
ALIMA
A língua é um fenômeno sociocultural
heterogêneo em função da ação de fatores como idade, sexo, localidade,
escolaridade, etc. Nessa perspectiva, o Atlas
Linguístico do Maranhão – ALiMA vem investigando amplamente a variação no
português maranhense a partir de estudos, por exemplo, sobre o aspecto
semântico-lexical, uma vez que esse aspecto reflete, de forma especial, a vital
heterogeneidade de uma língua. Para enriquecer os estudos já desenvolvidos pelo
ALiMA, esta pesquisa, em andamento, com base nos
pressupostos teórico-metodológicos da Dialetologia e da Geossociolinguística,
tem o objetivo de investigar o léxico maranhense no campo Vestuário e Acessórios constitutivo tanto do Questionário Semântico-Lexical
– QSL do ALiMA quanto do ALiB aplicado no Maranhão. Assim, o corpus deste trabalho é constituído
pelas respostas dadas às questões 212 a 220 do QSL desses Atlas e a análise dos
dados tem permitido evidenciar a variação lexical maranhense ocorrida nesse
campo e identificar fatores diatópicos, diastráticos e diageracionais que
influenciam a ocorrência dessa variação. Dessa forma, esta pesquisa já
evidencia a interferência, por exemplo, do fator diageracional na variação
desse campo, a propósito da recorrência da variante rouge no grupo da faixa etária II (50 a 65 anos), e blush, no grupo da faixa I (18 a 30 anos). Além disso, este trabalho
contribuirá para o desenvolvimento de estudos comparativos no que concerne aos
resultados obtidos nesse campo em outros estados. Seguindo a metodologia do ALiB e do ALiMA, os informantes desta pesquisa são mulheres
e homens, das faixas etárias I e II, de, inicialmente, 05 municípios
maranhenses.
Ingrid Oliveira (oliver.ingrid@hotmail.com)
Orientadora:
Carolina Serra (carolserraufrj@gmail.com)
Universidade Federal do Rio de Janeiro
APAGAMENTO DO R EM CODA SILÁBICA EXTERNA:
A REGIÃO SUL DO
BRASIL
A partir de dados do projeto AliB,
focalizamos neste trabalho o fenômeno variável de apagamento do R, em
posição de coda silábica final (dizeR), confrontando o comportamento linguístico
de indivíduos de três cidades do interior da região sul: Criciúma (SC),
Caçapava do Sul (RGS) e Guarapuava (PR). Serão utilizadas amostras de fala
(discurso semidirigido) de indivíduos com baixo grau de escolaridade (até a
quarta série do Ensino Fundamental), de ambos os gêneros e de duas faixas
etárias distintas -- de 18 a 30 anos e de 50 a 65 anos. Nosso objetivo
principal é verificar o avanço do cancelamento do rótico em coda silábica
externa no Sul do país. Nos dialetos dessa região a consoante mantém-se ainda como uma vibrante ápico-alveolar; nossa
hipótese portanto é a de que há uma frequência ainda baixa de cancelamento em
coda, se comparada a de cidades como Rio de Janeiro e Salvador, que apresentam
pronúncias do R mais posteriorizadas (fricativa velar/fricativa laríngea), e
onde o apagamento em posição de coda final é quase categórico (CALLOU; SERRA,
2012). Com base no aparato teórico-metodológico da sociolinguística
quantitativa laboviana (Labov, 1994) E da teoria da hierarquia prosódica
(NESPOR; VOGEL, 1986), pretende-se investigar a atuação de fatores linguísticos
e sociais na aplicação do processo, além do seu encaixamento na estrutura
prosódica da língua: quanto mais alta a fronteira prosódica maior seria a
tendência à preservação, o que poderia explicar a diferença de índices de
apagamento em fronteiras interna e externa à própria palavra (CALLOU; SERRA,
2013; CALLOU; SERRA, 2015). Resultados preliminares apontam, para a cidade de
Criciúma, um índice de apagamento do R de 94% em verbos e 3% em não-verbos. O comportamento em Caçapava do Sul foi
semelhante, com 88% de apagamento em verbos e 9% em não-verbos.
Josane Moreira de Oliveira (josanemoreira@hotmail.com)
Universidade Estadual de Feira de Santana /
Universidade Federal da Bahia
O IMPERATIVO VERBAL NO NORDESTE BRASILEIRO: UM CASO DE VARIAÇÃO E
MUDANÇA LINGUÍSTICA
A expressão do imperativo verbal é variável
no português do Brasil, podendo ser realizada com formas de subjuntivo (pegue, traga, venha) ou com
formas de indicativo (pega, traz, vem). Embora a prescrição gramatical associe as primeiras formas ao
pronome você e as segundas formas ao
pronome tu, o que se observa é que
ambas as formas ocorrem em áreas dialetais em que também ambos os pronomes
estão em variação. Os resultados de pesquisa feita a partir de dados das
capitais brasileiras, coletados nos inquéritos realizados pelo Projeto ALiB, apontam que o imperativo com a forma de indicativo
predomina no português brasileiro (65% de um total de 2535 ocorrências) e que o
imperativo com a forma de subjuntivo – considerada conservadora – subsiste nas
capitais do Nordeste (com exceção de São Luís), em Porto Velho e em Curitiba
(OLIVEIRA, 2016). Com o objetivo de mapear essa variação no Brasil, que é ao
mesmo tempo dialetal e sociolinguística, e avançando a pesquisa pelas cidades
do interior do Brasil, apresentam-se aqui os resultados da análise dos dados de
cidades do Nordeste do Brasil, que integram a rede de pontos do Projeto ALiB. O estudo, a partir do quadro teórico-metodológico da
Sociolinguística Variacionista (LABOV, 1972, 1994, 2001, 2010), além da
variável diatópica, considera também as variáveis extralinguísticas ‘sexo’ e
‘faixa etária’ e as variáveis linguísticas ‘polaridade da sentença’, ‘paradigma
verbal’ e ‘extensão fonológica do verbo’. Os resultados apontam para um
processo de mudança em curso, condicionado por fatores estruturais, sociais e
diatópicos.
Karilene da Silva Xavier (karilened@gmail.com)
Mayra Santana (mstn18@yahoo.com.br)
Universidade Federal do Rio de Janeiro
VARIAÇÃO E PROSÓDIA
NO CORPUS DO ALiB:
UMA ANÁLISE DOS RÓTICOS
EM CODA NAS CAPITAIS DO SUL DO BRASIL
Neste trabalho, pretende-se realizar uma análise
complementar do comportamento variável dos róticos em coda medial e final, nas
capitais da região Sul do Brasil, partindo-se dos resultados apresentados nas
cartas F04C1, F04C2, F04C4, F04C5 e
F04C6 do 2º volume do Atlas Linguísticos do Brasil (CARDOSO et al., 2014). As amostras de fala utilizadas fazem parte do corpus do Projeto ALiB
(estratificado por gênero, faixa etária, nível de escolaridade e localidade de
origem do falante), e foram selecionadas de todos os trechos da entrevista em
que havia conversa entre inquiridor e falante, constituindo-se de fluxos
maiores de fala, o que é imprescindível à análise prosódica e sociolinguística
que se pretende realizar. Faz-se uso do aparato teórico-metodológico da
Sociolinguística Quantitativa Laboviana (LABOV, 1994), buscando testar a
atuação das variáveis linguísticas: classe morfológica, dimensão do vocábulo,
contexto antecedente, contexto subsequente, consoante subsequente, tonicidade
da sílaba; e das variáveis sociais tradicionalmente testadas, e sua relação com
o tipo de realização do segmento. Focalizando a coda final, lança-se mão ainda
da teoria da hierarquia prosódica (SELKIRK, 1984; NESPOR; VOGEL, 1986/2007), para
testar possível condicionamento prosódico ao fenômeno, a depender da
localização do rótico em relação às fronteiras de palavra prosódica, sintagma
fonológico ou sintagma entoacional (SERRA; CALLOU, 2013, 2015). A hipótese é de
que quanto mais alta a fronteira prosódica maior a tendência à preservação do
segmento, o que poderia explicar a diferença de índices diferenciados de
apagamento em fronteira interna (coda medial) e externa (coda final) à própria
palavra. Em relação à coda medial, intenta-se também verificar a atuação do
léxico para o cancelamento e a taxa de frequência dos itens lexicais no corpus. A hipótese é de que itens
frequentes são mais suscetíveis a mudanças sonoras (BYBEE, 1995), pois a repetição gera automatização dos gestos
articulatórios e, então, redução de segmentos.
Marcela Moura Torres
Paim (marcelamtpaim@yahoo.com.br)
Universidade Federal da Bahia
OS FRASEOLOGISMOS NO
CAMPO SEMÂNTICO CONVÍVIO E COMPORTAMENTO
SOCIAL NAS CAPITAIS DO BRASIL
Resumo: Vinculado ao Projeto VALEXTRA (Variação
lexical: teorias, recursos e aplicações): do condicionamento lexical às
constrições pragmáticas, convênio CAPES/COFECUB 838/15 celebrado entre a Universidade
Federal da Bahia e a Universidade Paris 13 (Laboratório LDI – Lexiques,
Dictionnaires, Informatique), este trabalho objetiva, a partir do material
coletado pela pesquisa do Projeto Atlas Linguístico do Brasil, apresentar um
estudo sobre a presença de fraseologismos nos dados referentes ao campo
semântico convívio e comportamento social
nas capitais brasileiras. O termo fraseologismo está sendo aqui concebido,
conforme Tristá (1988), que considera esse campo do estudo da linguagem como um
ramo da Linguística que tem por objeto de estudo a análise de combinações de
palavras as quais formam novas unidades lexicais ou
têm o caráter de expressões fixas, como se ilustra com mão de vaca, unha de fome (variantes de pessoa sovina); mulher de vida fácil, mulher de programa (variantes de prostituta) dentre outras. Parte-se do
princípio de que por unidade fraseológica se entende toda e qualquer frase ou
expressão cristalizada, cujo sentido geral não é literal, utilizada pelos
falantes em situações comunicativas específicas e cujo significado do todo não
resulta da soma do sentido das partes. No que diz respeito aos fraseologismos
analisados podem-se fazer algumas considerações preliminares: as criações lexicais analisadas contemplam a
polilexicalidade; as unidades fraseológicas refletem a estabilidade
no sentido atribuído por Tristá (1988)
de relação tão estreita entre os elementos que os leva a perderem o significado
primário para adquirirem um novo sentido. Assim, as designações enfocadas possibilitam a visualização
da diversidade lexical e geolinguística do português falado no Brasil.
Priscila Francisca
dos Santos (prisciladossantoss@hotmail.com)
Universidade Federal do Rio de Janeiro
A VARIAÇÃO ENTONACIONAL
NO RIO GRANDE DO SUL: AS INTERROGATIVAS TOTAIS
Esta pesquisa prevê a análise dos aspectos
prosódicos de enunciados interrogativos totais de 10 municípios do Rio Grande
do Sul: Bagé, Chuí, Três Passos, Erechim, Passo Fundo, Vacaria, Santana, São
Borja, Flores da Cunha e Santa Cruz do Sul a fim de descrever as suas
características melódicas intrínsecas. Para tal, utilizar-se-ão como suporte
teórico os princípios da Fonologia Entoacional, encontrados em Pierrehumbert
(1980), Ladd (1986) e Prieto (2003), e da Fonologia Prosódica, encontrados em
Nespor e Vogel (1986). O corpus utilizado
para a feitura da pesquisa provirá do Atlas Linguístico do Brasil (doravante ALiB), o qual se fundamenta nos princípios gerais da
Geolinguística, priorizando a variação espacial ou diatópica. Através desta
pesquisa, busca-se verificar se os padrões melódicos descritos por Moraes
(2008), para as interrogativas totais neutras do Português do Brasil (doravante
PB), e por Silva (2011), para as interrogativas totais do Rio Grande do Sul,
também se farão presentes nos munícipios interioranos do estado em foco. Serão
ouvidos quatro informantes em cada cidade, dois homens e
duas mulheres distribuídos equitativamente por duas faixas etárias: 18-30 anos
e 50-65 anos. Os enunciados selecionados devem obedecer aos seguintes
critérios: a) constituir um único sintagma entoacional (I), de acordo com a
hierarquia prosódica apresentada em Nespor e Vogel (1994); b) apresentar uma
elocução neutra, isto é, desprovida de manifestações de foco ou ainda de
expressões de sentimento ou atitude; e c) possuir uma qualidade sonora adequada
para a segmentação silábica e medição dos valores da Frequência Fundamental. A
análise dos dados será feita com o auxílio do programa computacional Praat.
Vanderci de Andrade
Aguilera (vanderciagui@gmail.com)
Universidade Estadual
de Londrina/CNPq
UMA ANÁLISE DA
VARIAÇÃO LEXICAL NO CAMPO DA VIDA URBANA
Para o Campo da Vida Urbana, o
Questionário Semântico Lexical do Atlas Linguístico do Brasil traz nove
questões das quais selecionamos as respostas para: semáforo (194), lombada (195),
calçada (196), meio-fio (197), rotatória
(198) e terreno (199). Este trabalho
tem como objetivos: (i) descrever o quadro de variantes das capitais por estado
e por região; (ii) fazer uma análise motivacional das
variantes coletadas (CONTINI, 2007; ALINEI, 1995) e (iii) verificar se há
interferência de alguma variável extralinguística no caso de denominações
predominantes na localidade ou região. O corpus
constituído indica que a maioria das questões acima não propiciou respostas
polimórficas, exceto as de nº 197 e 198. No cômputo geral das respostas dadas,
a propósito da Questão 197, meio-fio lidera,
ocorrendo, porém, variantes regionais, como sarjeta, guia, cordão, coxia e fio-de-pedra,
entre outras; a Questão 198, a mais polimórfica, apresenta 25 variantes, mas
apenas quatro (retorno, rotatória,
contorno e rótula) apresentaram índices mais elevados. Quanto às demais,
temos: (a) para a Questão 195, foram registradas as variantes lombada e quebra-molas; (b) para a Questão 196, obtivemos 216 registros dos
quais se destacam calçada e passeio; (c) sobre a Questão 199,
destacamos apenas as variantes terreno
e lote. Os dados das capitais para semáforo constam do volume 2 do ALiB (CARDOSO et
al, 2014). Os dados apontam,
também, que a metáfora parece ser o recurso mais utilizado na criação de nomes
para os novos referentes urbanos. Da mesma forma, observamos que as diferenças
dialetais no Brasil, no que se refere ao léxico, ocorrem não só no plano
diatópico, mas também diastrático, uma vez que denominações menos frequentes
foram registradas junto a falantes do nível fundamental de ensino.
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XVIII CONGRESSO
INTERNACIONAL DA ALFAL
Bogotá D.C. -
Colômbia
24-28
de julho de 2017
CONVOCATÓRIA
O Projeto 20 Atlas Linguístico do Brasil desenvolverá atividades no XVIII Congresso
da ALFAL e temos o prazer de convidar todos os membros do Projeto ALiB e os que queiram se associar a essa programação. Para
tanto:
1.
Devem enviar um resumo, nos prazos determinados (até 10 de dezembro de 2016) e seguindo as normas divulgadas pela
organização do Congresso, diretamente para alib@ufba.br, com
cópia para Jacyra Mota (jacymota@gmail.com)
e para Suzana Cardoso (suzalice@gmail.com),
indicando no assunto “Resumo para Projeto 20-Congresso da ALFAL”.
2.
Os temas a serem abordados devem vincular-se à Geolinguística em geral ou a
atlas linguísticos especificamente, com enfoque em quaisquer dos níveis de
abordagem da língua.
3.
Os trabalhos podem ser apresentados sob a forma de comunicação oral ou de
pôster.
4.
Os resumos serão apreciados por uma comissão constituída pelo Projeto.
5.
Carta de aceite será enviada aos participantes.
Contamos com a participação dos colegas.
Suzana
Cardoso e Jacyra Mota
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XVII Congreso
Internacional
Asociación de
Lingüística y Filología de América Latina
Associação de Linguística e
Filologia da América Latina
(ALFAL)
14 a 19 de julho de 2014
João Pessoa (Paraíba, Brasil)
ATIVIDADES
DURANTE O XVII CONGRESSO
PROJETO 20
PROJETO
ATLAS LINGUÍSTICO DO BRASIL
Coordenação
Suzana Alice Marcelino Cardoso (UFBA/CNPq)
Jacyra Andrade Mota (UFBA/CNPq)
As
atividades do Projeto 20 - Atlas Linguístico do Brasil
foram estruturadas em cinco níveis: conferências, sessões de comunicação, minicurso,
sessão de pôsteres e reunião do Comitê Nacional que dirige o Projeto.
Conferências - As conferências versaram
sobre os temas Contribuição do Projeto ALiB aos estudos geolinguísticos de língua portuguesa e Dialectologia urbana: mapeando a variação
do futuro verbal no português do Brasil, sob a responsabilidade,
respectivamente, de Suzana Alice Marcelino Cardoso (UFBA/CNPq) e Josane Moreira
de Oliveira (UEFS).
Sessões de comunicação - Nas sessões de comunicação
foram apresentados os seguintes trabalhos:
· Ana Regina Teles (UFBA) - A identificação de
localidades de atlas linguísticos publicados: o cuidado na transposição para os
mapas atuais.
· Aparecida Negri Isquerdo (UFMS/CNPq) - Descrevendo
a norma lexical do português do Brasil a partir dos dados do Projeto ALiB.
· Silvana Soares Ribeiro (UFBA) - Brinquedos e
brincadeiras infantis na área dos falares baianos.
· Edmilson José de Sá (UFPB) - Atlas
Linguístico de Pernambuco: da metodologia aos resultados.
· Simone Negrão de Freitas (UFPA), Marilúcia Barros
de Oliveira (UFPA) - Palatalização das consoantes oclusivas alveolares /t/ e
/d/ em falares do Norte e do Nordeste do Brasil.
· Jacyra Mota (UFBA/CNPq) - As vogais pretônicas nas
capitais brasileiras a partir dos dados do ALiB.
· Maria do Socorro Silva de Aragão (UFPB/UFC) -
Ditongação e Monotongação nas capitais brasileiras.
Minicurso - Sob a
responsabilidade da Profa. Dra. Josane Moreira de Oliveira (UEFS) foi oferecido
o minicurso Introdução ao GoldVarb X, com uma carga horária de sete horas, tendo
como objetivos: a) conhecer e utilizar a ferramenta GoldVarb X; b) codificar,
processar e analisar dados linguísticos e c) desenvolver habilidades para a
interpretação dos resultados emitidos pelo GoldVarb X. O conteúdo programático
tratou dos seguintes tópicos: (i) A sociolinguística quantitativa; (ii) O corpus; (iii)
O GoldVarb X - Origem, Instalação, Uso, Interpretação dos resultados; (iv)
Apresentação dos resultados - tabelas e gráficos.
Sessão de pôsteres - Foram expostos na sessão
geral de pôsteres, mas com tema vinculado ao Projeto 20, dois trabalhos:
·
Amanda dos Reis Silva
(UFBA) - Variação fonética em capitais brasileiras: a ditongação diante de /s/
e as realizações do /s/ em coda.
·
Élide Elen da Paixão Santana
- Morfemas de gênero no estado da Bahia: formas de feminino para “alemão”,
“chefe”, “ladrão” e “presidente”.
Reunião do Comitê Nacional - Como sucede em
todos os congressos, aproveita-se a presença de pesquisadores membros do Comitê
Nacional que dirige o Projeto e realiza-se mais uma reunião de coordenação.
Para essa, que se identifica como a XXXVIII reunião, foi proposta e discutida a
seguinte pauta: (i) Informes; (ii) Complementação da
constituição do corpus; (iii) Balanço
da publicação dos volumes 1 e 2; (iv) Programação do volume 3, com
estabelecimento de novos prazos; (v) Programação do XII WORKALiB e (vi) O que
ocorrer.
No que
concerne ao planejamento para os
próximos anos, depois de avaliado o andamento do Projeto e fixados prazos
para finalização de etapas já estabelecidas, destacam-se dois tipos de ação:
(i) implementação da publicação de novos volumes que deverão
voltar-se para a análise de dados referentes à totalidade dos estados e ao
conjunto de pontos previstos em cada um; e (ii) a incorporação de
pesquisadores, com suas equipes, de outras universidades que não aquelas já
vinculadas, mediante acordo firmado. Nesse campo específico, destaca-se, ao
lado do acolhimento de outros pesquisadores, a abordagem de novos temas ou a
ampliação do campo de investigação já em curso.
Por
fim, cabe uma breve palavra no campo da avaliação da proposta de abrir espaços
para projetos acolhidos pela ALFAL. O fato de se ter introduzido na programação
oficial dos Congressos de ALFAL um espaço para os mais diversos projetos,
constitui-se num ganho porque (i) dá a esses projetos uma maior visibilidade, (ii) permite o diálogo entre pesquisadores vinculados ao tema
do projeto e de diferentes regiões; (iii) assegura a possibilidade de organizar
um conjunto de apresentações que possam atender a reclamos da coletividade
dessa área específica.
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Projeto
20: “PROJETO
ATLAS LINGUÍSTICO DO BRASIL (Projeto ALiB)”
Coordenadoras: Suzana Alice Marcelino Cardoso e Jacyra Andrade Mota
suzalice@ufba.br jacymota@ufba.br
XVII Congreso Internacional ALFAL
14 a 19 de julho de 2014
João Pessoa (Paraíba, Brasil)
PROGRAMAÇÃO
Dia 16 de julho
14 hs. |
Conferência Suzana Cardoso - UFBA A contribuição do Projeto ALiB aos estudos geolinguísticos
de língua portuguesa |
|
Comunicações |
14:45 hs. |
Ana Regina Teles - UFBA A identificação de localidades de atlas linguísticos publicados: o
cuidado na transposição para os mapas atuais. |
14:45 hs. |
Aparecida Negri Isquerdo - UFMS Descrevendo a norma lexical do português do Brasil a partir dos dados
do Projeto ALiB |
16 hs. |
Conferência Josane Moreira Oliveira Dialetologia urbana:
mapeando a variação do futuro verbal no português brasileiro. |
|
Comunicações |
17 hs. |
Geisa Borges da Costa - UFRB Diversidade linguística do item lexical “diabo”: uma análise a partir
dos dados do Projeto ALiB. |
17:30 hs. |
Silvana Soares Ribeiro - UFBA Brinquedos e
brincadeiras infantis na área dos falares baianos. |
18:30 hs. |
Edmilson José de Sá - UFPB Atlas Linguístico de Pernambuco: da metodologia aos resultados. |
DIA 17 de julho
|
Comunicações |
14 hs. |
Dircel Aparecida Kailer - UEL, Édina
de Fátima de Almeida - UEL Variantes do /r/ em coda silábica no interior paranaense |
14:30 hs. |
SimoneNegrão de Freitas - UFPA), Marilúcia
Barros de Oliveira - UFPA Palatalização das consoantes oclusivas alveolares /t/ e /d/ em falares
do Norete e do Noprdeste do Brasil |
15 hs. |
Marigilda Antônio Cuba - UEL Desafios da coleta
de dados para um atlas topodinâmico: a questão do perfil dos informantes |
DIA 18 de julho
|
Comunicações |
14 hs. |
Maria Silvana Militão - UFC Os róticos em coda
silábica em localidades do interior cearense: dados do ALiB |
14:30 hs. |
Jacyra Mota - UFBA As vogais pretônicas nas capitais brasileiras a partir dos dados do ALiB |
15 hs. |
Maria do Socorro Silva de Aragão -
UFPB/UFC Ditongação e Monotongação nas capitais brasileiras |
16 hs. |
REUNIÃO DO COMITÊ NACIONAL DO PROJETO ALIB |
CONVOCATORIA
O Projeto 20-Projeto Atlas
Linguístico do Brasil desenvolverá atividades que constituem a Programação
prevista para esse XVII Congresso Internacional da ALFAL, voltadas para dois
grandes eixos:
A Programação consiste em
palestras, sessões de comunicação, minicurso e sessão de pôsteres, organizada
como a seguir se indica:
1. Sessão de comunicações I - Teses
e Dissertações em andamento no campo da Geolinguística Brasileira.
2. Sessão de comunicações II - O
Projeto ALiB: resultados parciais.
3. Debate: Atlas
linguísticos em curso:
caminhos metodológicos.
4. Conferência: Suzana Alice Marcelino Cardoso, Contribuição do Projeto ALiB aos estudos
geolinguísticos de língua portuguesa.
5. Conferência: Josane
Moreira de Oliveira, Dialectologia
urbana: mapeando a variação do futuro verbal no português do Brasil”.
6. Minicurso: Introdução ao GoldVarb, ministrado por Josane Moreira de Oliveira
7. Sessão de pôsteres.
A apresentação de comunicação
e de pôsteres é aberta a todos os interessados na área e os trabalhos devem ser
relacionados aos temas propostos. Para inscrever um trabalho no Projeto 20
devem os interessados seguir as instruções divulgadas pela organização do
congresso.
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ATIVIDADES DURANTE O XVI
CONGRESSO
(Alcalá de Henares)
Avaliação
do funcionamento do Projeto 20 - Atlas Linguístico do Brasil durante do XVI Congresso
da ALFAL
O Projeto 20 - Atlas Linguístico do
Brasil - reuniu-se, pela segunda vez, nos espaços de congressos da
ALFAL. Em relação ao primeiro encontro, ocorrido por ocasião do XV Congresso,
em Montevidéu, observou-se uma menor participação de pesquisadores, o que se
explica pelos locais de realização desses congressos, uma vez que a vizinhança
com o Uruguai favoreceu a presença de pesquisadores. O encontro de Alcalá
contou com a participação de onze pesquisadores, com ausência de estudantes, diferentemente
do que sucedeu em Montevidéu, e com a apresentação de dez trabalhos.
Os trabalhos apresentados constituíram-se em comunicações
que caminharam em duas direções: (i) avaliação da metodologia do Projeto com
análise crítica da realização de inquéritos e da aplicação dos diferentes
questionários - fonético-fonológico, semântico-lexical, morfossintático e
discursivo, com exame das questões semidirigidas -, e (ii)
apresentação de análise de dados do corpus
do Projeto, com focalização de aspectos do léxico e da prosódia.
O tempo destinado ao Projeto 20 - três turnos de quatro
horas cada um - foi suficiente para o desenvolvimento da programação que, além
das sessões de apresentação e discussão de trabalhos, contou com a realização
da XXXII Reunião do Comitê Nacional, à qual estiverem presentes cinco dos nove
membros do Comitê e mais seis membros de quatro das Equipes Estaduais
(Maranhão, Ceará, Bahia e Rio de Janeiro).
Acredita-se que a destinação de espaço para Projetos é
uma idéia a ser mantida, verificando-se, porém, a necessidade de ajustes na
forma de organização de modo a expandir a possibilidade de participação e
fomentar a interação entre projetos que apresentem objetivos afins ou
similares.
Salvador, 30 de junho de 2011.
Suzana Alice Marcelino Cardoso
(Diretora-Presidente do Projeto ALiB)
Jacyra Andrade Mota (Diretora Executiva do
Projeto ALiB)
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Actividades del
Proyecto en el XV Congreso de la ALFAL
Coordenadoras:
Suzana
Alice Marcelino Cardoso e Jacyra Andrade Mota
Programação:
DIA
19 - agosto de 2008 - das 16:30h às 20:30h
Palestra:
O Projeto ALiB -
das origens ao momento atual (Suzana Alice Marcelino Cardoso, Universidade
Federal da Bahia/CNPq/Brasil)
Painel:
A metodologia do Projeto ALiB
Ø A construção da
pesquisa: rede de pontos, questionários, informantes, técnicas de realização de
inquéritos (Jacyra Andrade Mota, Universidade Federal da Bahia/CNPq/Brasil)
Ø A rede de pontos:
uma reflexão sobre a história social das capitais de estado que integram o
Projeto ALiB (Aparecida Negri Isquerdo,
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul/Brasil)
Sessão de comunicações
·
De Nascentes ao ALiB: um
estudo de dados (Fabiane Cristina Altino, Universidade Estadual de
Londrina/Brasil)
·
Variação lexical em Minas Gerais (Mário Zágari, Universidade Federal de Juiz de Fora,
Ana Paula Rocha, Universidade Federal de Ouro Preto/Brasil)
Apresentação
de pôsteres
DIA
20 - agosto de 2008 - das 16:30h às 19:30h
Painel: A Geolingüística brasileira
Ø Um passeio
histórico pelos caminhos da geolingüística no Brasil (Maria do Socorro
Silva de Aragão, Universidade Federal da Paraíba/Universidade Federal do
Ceará/Brasil)
Ø A informatização de
dados geolingüísticos (Abdelhak Razky, Universidade Federal do Pará/Brasil)
Ø A entoação e os
estudos dialetais (Cláudia Souza Cunha;Universidade
Federal do Rio de Janeiro/Brasil)
Sessão de comunicações
·
Crenças e atitudes lingüísticas: o que sentem os
falantes sul-paranaenses? (Greize
Alves da Silva, Universidade Estadual de Londrina/Brasil)
Apresentação de pôsteres
DIA
21 - agosto de 2008 - das 16:30h às 20:30h
Painel: Os caminhos do ALiB
Ø A documentação dos
dados no Projeto ALiB: primeiros resultados (Vanderci de
Andrade Aguilera, Universidade Estadual de Londrina/CNPq/Brasil)
Ø Uma análise, em
tempo aparente, de dados geolingüísticos (Mário Zágari, Universidade
Federal de Juiz de Fora)
Ø A cartografia dos
dados (Silvana Ribeiro, Ana Regina Teles, Universidade Federal da Bahia/Brasil)
Ø O estágio atual do
Projeto ALiB (Jacyra Andrade Mota,
Universidade Federal da Bahia/CNPq/Brasil)
Sessão de comunicações
·
Contatos
lingüísticos na fronteira do Brasil com o Paraguai documentados pelo ALiPP (Regiane Reis, Universidade
Estadual de Mato Grosso do Sul/Brasil)
·
O português de
contato com o espanhol no sul do Brasil: empréstimos lexicais (Patrícia
Graciela da Rocha, Universidade Federal de Santa Catarina/Brasil)
Reunião aberta do Comitê
Nacional do Projeto ALiB
Apresentação
de pôsteres
_______________________________________
O PROJETO ALIB - DAS ORIGENS AO MOMENTO ATUAL
Suzana Alice Marcelino Cardoso
(Universidade Federal da Bahia/CNPq/Brasil)
UMA
BREVE CONSIDERAÇÃO HISTÓRICA À GUISA DE INTRODUÇÃO
Começamos por uma
breve consideração de caráter histórico para situarmos o nosso projeto no
tempo, no espaço e nas preocupações dos lingüistas e dialectólogos brasileiros.
O Projeto Atlas
Lingüístico do Brasil (Projeto ALiB), é um projeto de caráter nacional, inter-institucional,
com a participação de 15 instituições de ensino superior e de pesquisa,
mediante convênio firmado por iniciativa da Universidade Federal da Bahia
(UFBA) e iniciado em 1996, por ocasião da realização do Seminário Nacional Caminhos e Perspectivas para a Geolingüística no
Brasil.
Embora venha a ser
impulsionado no final do século XX, a idéia e o desejo de um atlas lingüístico
do Brasil estavam em cogitação nos meios acadêmicos desde meados do século XX e
nos objetivos do Governo Federal que, ao promulgar o Decreto 30.643/20.03.1952,
assentava no Art. 3°, como principal finalidade da Comissão de Filologia da
Casa de Rui Barbosa, a elaboração do atlas lingüístico do Brasil, como se lê no
texto legal:
3º - A Comissão de
Filologia promoverá pesquisas em todo o vasto campo de filologia
portuguesa-fonologia, morfológicas, sintáticas, léxicas, etimológicas,
métricas, onomatológicas, dialetológicas bibliográficas, históricas,
literárias, problemas de texto, de fontes, de Autoria, de influências, sendo
sua finalidade principal a elaboração do Atlas Lingüístico do Brasil (grifo
nosso).
Razões de ordem
acadêmica, sobretudo, impediram a consecução do desejo governamental de uma
descrição geral do português do Brasil, seguindo as trilhas da geografia
lingüística, na época de promulgação do Decreto. Dificuldade de contar com
equipes de especialistas em todo o país, precariedade de estradas que levavam
aos diferentes pontos da rede, custos e inexistência de financiamento que
garantisse a empreitada são dificuldades registradas. Antenor Nascentes (1958)
chama a atenção para tais obstáculos naquele momento e conclui as suas
reflexões recomendando que se façam atlas regionais, cuja execução reduziria os
óbices a serem vencidos e, gradativamente, se conseguiria dar uma visão
integral da realidade brasileira, como se lê nas suas Bases para a elaboração
do atlas lingüístico do Brasil (1958, p. 7):
Embora seja de toda
vantagem um atlas feito ao mesmo tempo para todo o país, para que o fim não
fique muito distanciado do princípio, os Estados Unidos, país vasto e rico e
com excelentes estradas, entregou-se à elaboração de atlas regionais, para mais
tarde juntá-los no atlas geral.
Assim também
devemos fazer em nosso país, que é também vasto...
O reconhecimento
das dificuldades advindas sobretudo da extensão
territorial do país e da precariedade das vias de comunicação fizeram com que o
seu conselho fosse seguido e determinaram a opção inicial dos estudos
geolingüísticos no Brasil: empreender-se o trabalho começando pelos atlas
regionais.
Partiram, assim, os
dialetólogos brasileiros para a execução de atlas regionais, o primeiro dos
quais, o Atlas Prévio dos Falares
Baianos, de autoria de Nelson Rossi, Dinah Isensee e Carlota Ferreira,
publicado em 1963, atingindo-se, na atualidade, o total de nove atlas
publicados aos quais se somam duas teses de doutorado (atlas da Amazônia e
atlas do litoral potiguar).
A necessidade de
efetivação de um atlas geral do Brasil decorre da sua própria realidade
histórica. A sócio-história do português brasileiro
aponta, nas suas origens, para um tripé, base da conformação lingüística que
assume no território nacional a Língua Portuguesa: o português transplantado -
o português europeu -, as línguas indígenas existentes à época do descobrimento
e as que se conservam até o presente, e as línguas africanas trazidas e os
vestígios que delas remanescem. O conhecimento dessa realidade, assim
configurada, importa não apenas aos estudos atinentes à ciência da linguagem,
mas se constitui fundamento para um melhor entendimento da história do Brasil e
das características sócio-culturais de que se reveste.
As três vertentes,
responsáveis pela configuração lingüística do País - a indígena, a portuguesa e
a africana -, oferecem amplo campo para estudo não só na perspectiva das
teorias que se relacionam diretamente às línguas, mas também no tocante à
história da Nação brasileira.
No que diz respeito
à língua portuguesa, o fato de ser uma língua transplantada a um outro continente, onde estabelece relações de contato as
mais diferenciadas, sinaliza para reflexões no campo dos estudos lingüísticos stricto
sensu, que envolvem: (i) os mecanismos de difusão lingüística; (ii)
o caráter conservador ou inovador que assume a língua; (iii) a continuidade, ou
não, de uma deriva que acompanha a língua desde as suas origens; (iv) a
contribuição recebida de línguas com as quais passa a conviver em solo
brasileiro e os reflexos desse contato na variedade ou nas variedades de uso,
que se desenvolvem; (v) as implicações sociais e políticas das diferentes
modalidades que caracterizam os utentes do português a que se soma o potencial
que oferece, como documentação viva, dos caminhos do povoamento nas formas e
usos que, rastreados, portam elucidações relevantes para a sócio-história
brasileira.
Assim, passados cerca de cinqüenta anos e com
a clareza de visão da realidade nacional, retoma-se a idéia de realização de uma atlas lingüístico do Brasil no que tange à língua
portuguesa, motivada (i) pela urgência de descrever o português brasileiro
antes que se percam dados e fatos capazes de esclarecer aspectos da história
lingüística do país (ii) e pelo papel
relevante que, no momento, a Geografia Lingüística assume nos estudos
lingüísticos, no exterior e no Brasil.
Concebe-se, para a
concretização do desiderato, o Projeto Atlas Lingüístico do Brasil (Projeto ALiB), cujas bases se lançam no já citado Seminário Caminhos
e Perspectivas para a Geolingüística no Brasil, realizado na Universidade
Federal da Bahia, em novembro de 1996 e promovido pelo Grupo de pesquisadores
em Dialectologia dessa Universidade, o qual contou com a participação de
representativo número de pesquisadores da área no Brasil, entre eles a presença
de autores de todos os atlas até então publicados e de representantes de atlas
em andamento, e com a presença do Prof. Dr. Michel Contini, do Centre de
Dialectologie de Grenoble, Diretor do Atlas Linguistique Roman e membro
do Comitê Diretor do Atlas Linguarum Europae, dois dos principais atlas lingüísticos em fase de publicação, na
Europa.
O
PROJETO ATLAS LINGÜÍSTICO DO BRASIL (Projeto ALiB)
Razões
para a sua realização
O Projeto ALiB centra-se no estudo da língua portuguesa no Brasil cuja
implantação, na América, data do século XVI, atingindo, assim, cinco séculos de
uso. O curso do tempo, as mudanças sociais operadas na sociedade, o perfil dos
contactos com outras línguas, a distribuição demográfica do País e a própria
constituição dos núcleos populacionais, a natureza do desenvolvimento
implantado e implementado, a estrutura social e o
confronto cidade-campo, rural-urbano são aspectos da história do Brasil que têm
ampla repercussão na língua aqui, majoritariamente, falada. Essa visão está na
base do Projeto ALiB
e a compreensão da significância de cada um desses aspectos fundamenta o
reconhecimento e a definição dos problemas a serem abordados.
A unidade da língua
- País
continental - muitos Estados ultrapassam a dimensão de países europeus, por
exemplo -, oferece o Brasil uma significativa e até mesmo surpreendente, para
muitos, unidade lingüística. Identificar, descrever e caracterizar as bases
dessa unidade é uma primeira questão que se põe.
A diversidade de
usos - Consagrada pela frase tantas vezes repetida, “possuidor da unidade na
diversidade”, o português brasileiro consegue, de maneira inequívoca,
manter a sua unidade sistêmica no conjunto de possibilidades de usos que se
documentam no território nacional. Identificar a variação lingüística,
descrevê-la, dimensionar a repercussão social de cada uma delas apresenta-se
como uma questão para a qual ainda não se formularam as respostas devidas, nada
obstante o esforço que vem sendo desenvolvido por pesquisadores da área,
constituindo-se, assim, em questão pendente de resolução.
Política de
tratamento da diversidade de usos - As diferentes variedades do
português brasileiro demandam um tratamento político da questão. O Ministério
da Educação - MEC - tem esboçado abordagem nessa direção, como a criação, em
2004 (para citar, apenas, a mais recente), de uma comissão nacional - a Comissão para Definição da Política de Ensino-Aprendizagem,
Pesquisa e Promoção da Língua Portuguesa-COLIP - para refletir sobre a
situação da língua portuguesa e do seu ensino e, conseqüentemente, fazer
proposições. Nada obstante iniciativas dessa natureza, ainda não se firmou uma
política nacional que refletisse, com base em dados
empíricos e com fundamentação nas teorias lingüísticas atuais, a situação e
para ela apontasse caminhos.
O Projeto ALiB caminha na direção desse problema uma vez que busca
identificar a realidade e dar subsídios para a definição das bases fundamentais
para uma ação das políticas institucionais no campo do ensino-aprendizagem da
língua materna.
A produção de
material didático - A produção nesse campo voltada para o
ensino-aprendizagem da língua portuguesa, por fixar-se na “unidade nacional” ou
por não reconhecer devidamente a pertinência e a relevância da “diversidade de usos”,
está, por vezes, crivada de problemas que resultam da visão que se tem da
questão. Para a solução dessa dificuldade, o conhecimento fundado em dados
empíricos apresenta-se como forma de vencer tal obstáculo.
A formação de
professores - Em decorrência dos problemas levantados, põe-se a formação adequada de
profissionais do ensino, particularmente daqueles voltados para o ensino da
língua materna. Para estes, o desconhecimento da realidade lingüística do país,
fundada no conhecimento cientifico, torna-se um óbice à consecução do objetivo
pretendido: um corpo de profissionais do ensino altamente qualificado. Um
melhor conhecimento da realidade lingüística nacional, como se espera ver como
resultante do projeto ALiB, constitui-se em relevante
contribuição para a formação de professores nos diferenciados níveis.
O Projeto ALIB
aborda, assim, um aspecto altamente relevante para a Nação brasileira: as
implicações políticas, sociais e institucionais da língua majoritariamente
falada, a língua portuguesa. Ao se voltar para a questão, busca fornecer dados
que permitam equacionar os problemas decorrentes de tal inter-relação e apontar
caminhos que contribuam para a sua solução.
A
concepção do Projeto
Um projeto voltado
para a língua, especificamente a língua materna de um país, impõe-se, pela sua
própria natureza, como um modo de serviço à Nação de onde advêm diferentes
formas de contribuição, que pressupõem uma base preliminar. Esse pressuposto
básico e fundamental consubstancia-se no entendimento de que a realidade de uma
língua precisa ser descrita para tornar-se conhecida a fim de permitir a
assimilação e a absorção das vantagens que tal fato possa propiciar. A
consciência desse valor, que provém do conhecimento da realidade lingüística,
levou J. Grimm, o fundador da filologia germânica, ao afirmar (Apud POP, 1950,
p. XXXI) que ‘Toute individualité doit être tenue pour sacrée, même dans le langage [...]” (“Toda individualidade deve ser
reconhecida como sagrada, mesmo na linguagem”).
Nessa citação
clássica de Grimm, dois aspectos tornam-se evidentes: o respeito às
individualidades lingüísticas, ou seja, à diversidade de que se reveste toda e
qualquer língua, a que se acrescenta o entendimento de que todos os dialetos
sejam preservados, porque cada um deles tem o seu valor.
Com essa
compreensão, o estudo da realidade lingüística do Brasil, no tocante à língua
portuguesa, que se propõe realizar o Projeto ALiB impõe-se
como contribuição social e pelo aporte que pode trazer ao processo de
ensino-aprendizagem da língua portuguesa.
As relações dos
estudos geolingüísticos com a sociedade usuária da língua descrita
explicitam-se por meio de diferentes formas de contribuição, identificadas, com
os objetivos do Projeto ALiB, como a possibilidade de:
Permitir o conhecimento da
realidade espacial do domínio do português, explicitando as diferenças e
convergências que se registram no território nacional.
Identificar áreas
lingüísticas e relacionar áreas dialetais a áreas socioculturais.
Oferecer ao sistema
organizado de ensino-aprendizagem da língua materna dados da realidade
lingüística que venham a contribuir para o aperfeiçoamento do ensino do
português.
Contribuir para o
entendimento da variação lingüística como fenômeno peculiar a toda e qualquer
língua, de forma a eliminar preconceitos e discriminações sociais decorrentes
de uma falsa interpretação da realidade da língua no país.
Mostrar como convivem
diferenças e convergências, reconhecendo, porém, a validade da existência de um
padrão culto necessário à comunicação oficial, à ministração do ensino, à
efetivação do discurso formal e às opções de grupos de falantes.
Fornecer elementos para a
construção da história da língua portuguesa no Brasil, quer
pela indicação dos caminhos seguidos, quer pela natureza das opções de mudança
feitas, quer pelo estabelecimento de camadas caracterizadas lingüística, social
e geograficamente, quer, ainda, pela referência a resultados de contato com
outras línguas ou à adoção de empréstimos lingüísticos.
Permitir a atualização de
dicionários da língua portuguesa.
Contribuir para a
construção de uma gramática voltada para a realidade do português brasileiro.
A essa contribuição
de cunho social acrescenta-se uma potencial contribuição de natureza econômica
que não se quantifica em moeda, mas que se fará sentir no curso da história.
Assim, e a título de ilustração, a melhoria do ensino é um agente de progresso
e um dos grandes responsáveis pela qualidade da produção e pelo aperfeiçoamento
da mão-de-obra qualificada, e para atingir-se essa meta a contribuição dos
estudos geolingüísticos é de fundamental valia.
Agrega-se às razões
apontadas, o caráter multi e
interdisciplinar do Projeto
Atlas Lingüístico do Brasil, na sua essência um projeto lingüístico,
porque busca documentar, descrever e interpretar a realidade do português
brasileiro e tem, exatamente por esse caráter, uma evidente interface com
diferentes ramos do conhecimento organizado, decorrente do fato de que a
história de uma língua é a história do próprio povo que a fala.
Esse caráter de que
se reveste o Projeto ALiB tem duas evidentes
implicações: por um lado, inspira e fundamenta a sua concepção na pluralidade
do conhecimento; por outro, permite que, dos resultados que venha a oferecer,
se beneficie amplo espectro das ciências na atualidade.
No que se refere ao
primeiro dos aspectos, a concepção do projeto conduziu a que se recorresse a
diferentes campos do conhecimento. A definição da rede de pontos - o conjunto
de 250 localidades para serem documentadas - para levantamento de dados requereu
aprofundado conhecimento no campo da História, da Antropologia, da Demografia,
da Geografia, física, humana e política sobretudo, dos
Estudos Culturais, da economia de cada região, do desenvolvimento social e
político, do aspecto religioso. A seleção de localidades reflete não apenas o
interesse lingüístico, mas o perfil sócio-histórico das zonas a serem mapeadas
e se, por um lado, é um indicador de importância para a visão de língua, por
outro, encerra um relevante feixe de correlações sócio-histórico-culturais. No
tocante à seleção de informantes a serem documentados, fez-se necessário um
estudo da formação demográfica do Brasil, da constituição da sociedade, dos
aspectos sociológicos e antropológicos que marcam a composição da população
brasileira, a que se acrescenta um conhecimento da realidade social na qual se
inserem os entrevistados. Isso levou a que se buscasse harmonizar diferentes
variáveis sociais - como idade, gênero, escolaridade - para que se possa vir a
obter uma amostra lingüística representativa da realidade do país. O Projeto
ALiB nasce, assim, profundamente correlacionado a
outros ramos do conhecimento científico.
Com essa
fundamentação, o Projeto ALiB oferece, pela própria
natureza dos dados que se propõe reunir, uma ampla interface com outros ramos
das ciências o que lhe assegura o caráter multi e interdisciplinar, como se
procura, a seguir, ilustrar, ainda que não de forma exaustiva.
No que concerne ao
tipo de recolha previsto, os dados vão evidenciar diferentes formas de
comportamento lingüístico correlacionadas ao tipo de discurso. A postura
lingüística que assume o falante, a depender da natureza da sua elocução,
oferece aos estudos no campo da psicologia e da sociologia vasto material de
análise para o conhecimento do comportamento humano. As respostas não dadas e
as restrições que muitas vezes ficam claras na fala dos informantes, bem como o
recurso a metáforas e a circunlóquios, permitem reflexões no campo dos estudos
culturais, em geral, que evidenciam tabus existentes, construídos no curso da
história e motivados por impulsos diferenciados. O conjunto de dados que um
atlas lingüístico espelha, na sua amplitude maior, pode (i) mostrar coordenadas
seguidas no povoamento do país, desfazendo dúvidas sobre roteiros de penetração
ou oferecendo elementos comprobatórios de levas de povoamento fixadas nesses
locais ou que por eles transitaram; (ii) assinalar o
papel de acidentes geográficos na difusão de hábitos lingüísticos - como se
pode ver examinando, por exemplo, o papel dos rios - ou no isolamento de
fenômenos que se detêm por trás de montanhas ou incrustados em vales; (iii)
fornecer elementos específicos para estudos pontuais como no campo da medicina,
mostrando nomes de doenças, diagnósticos e curas que estão na sabedoria popular
e que afloram em perguntas nessa direção, ou no campo da geologia, com a
caracterização e denominações para tipos de terreno, por exemplo, ou ainda na
forma de designar os elementos do mundo biossocial, vasto campo para os
psicanalistas. Com a educação, é altamente significativa a relação do Projeto
ALiB, cujos resultados propiciarão um melhor
equacionamento do ensino-aprendizagem à realidade de cada região, uma vez que,
descritas as peculiaridades de cada área e caracterizada a variedade de uso da
língua ali dominante, pode-se construir um modelo de ensino do vernáculo mais
eficaz.
A esses aspectos
relacionados, com os quais não se pretendeu esgotar a indicação das
possibilidades de interdisciplinaridade do projeto, mister
se faz destacar o que advém de um atlas para os estudos lingüísticos
especificamente nos seus diferentes campos - semântica, lexicologia, sintaxe,
morfologia, fonética/fonologia, pragmática, discurso.
O
sentido do Atlas Lingüístico do Brasil para os estudos do português brasileiro
Nesse campo, dois
aspectos merecem destaque: a contribuição para o conhecimento da realidade
nacional no tocante à língua portuguesa e o fornecimento de dados que permitam
uma divisão dialetal do Brasil com base em dados empíricos recolhidos in loco.
No tocante ao
primeiro aspecto, o português do Brasil não possui, ainda, uma descrição geral
que permita a intercomparação de dados entre as diversas regiões do país a
partir de um levantamento único da realidade lingüística em todo o território
nacional. Há estudos esparsos, seja na perspectiva dialectológica, seja numa
visão sociolingüística, mas todos eles circunscritos a áreas determinadas ou
focalizando fenômeno específico, o que permite, sem dúvida, um estudo
comparativo, mas numa micro visão. Projetos mais amplos, como o Projeto NURC-Projeto de Estudo Conjunto e Coordenado da Norma Lingüística
Culta no Brasil, que se ocupa de cinco capitais brasileiras (Recife, Salvador,
Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre), não chegam a se envolver com todo o
território nacional, embora tenham a vantagem de aplicar a mesma metodologia em
todos os pontos pesquisados. Temos, assim, uma efervescência de esforços na
busca do conhecimento sistemático do português brasileiro, seja na linha da
Dialectologia, com inúmeros trabalhos publicados e com teses e dissertações
aprovadas, seja na linha da Sociolingüística que tem florescido vivamente em
nossos centros de pesquisa. A macro visão, um retrato
global da realidade lingüística no tocante ao português brasileiro inexiste. E
isso se constitui em uma lacuna da qual precisamos nos desvencilhar.
O ALiB vem, assim, em boa hora, preencher este vazio uma vez
que busca, com a aplicação de uma metodologia homogeneamente utilizada,
recolher dados de diferentes pontos e representativos de todas as regiões os
quais, submetidos a análise, fornecerão, sem dúvida, um perfil da realidade do
português aqui falado, abrindo caminhos para considerações as mais diversas
sobre a sua formação, a variação que nele se registra, as mudanças que se
operam de um sítio a outro, de um tipo de falante para outro, enfim, apontando
coordenadas para a construção da sua sócio-história e para a interpretação das
diferenciadas bases que interferiram na sua conformação.
O percorrer desse
caminho levará, sem dúvida, ao que considero o segundo aspecto da sua
atualidade: fornecer elementos para uma divisão dialetal do Brasil, fundada em
dados empíricos.
Sabemos, todos, que temos
apenas uma única divisão dialetal do Brasil, feita com base em fatos
lingüísticos: a divisão de Nascentes (1953). Trabalho magnífico, se
considerarmos as circunstâncias e o momento de sua execução, mas a divisão necessita, passados mais de cinqüenta anos, ser retomada, a
partir de dados coletados in loco, para que se verifiquem as transformações
sócio-históricas havidas e as conseqüências delas advindas para o comportamento
lingüístico da população de cada área, e com isso apurar-se atualidade dessa
divisão ou detectarmos outros limites que, certamente, encontrarão
justificativa nas transformações sociais, políticas e econômicas ditadas pelo
curso da história. E essa contribuição, sem dúvida, será dada pelo atlas do
Brasil, uma vez que a rede de pontos estabelecida o foi pensando-se, também, na
investigação de limites dialetais e na investigação das diferenças que possam
gerar os limites de área geograficamente identificada.
Para
concluir
Nesta apresentação do
Projeto ALiB imperou a preocupação de apresentar as
linhas gerais do Projeto, a sua contribuição para a constituição da
sócio-história do português brasileiro e o lugar que ocupa nos estudos
lingüísticos brasileiros. O detalhamento da metodologia seguida, a sua
estrutura de funcionamento e o estágio atual em que se encontram constituem-se
em objeto de apresentações que se seguirão nesta programação do Projeto ALiB na ALFAL.
Referências
Atlas Linguarum Europae (ALE). Assen-Maastricht: Van
Gorcum, 1983-1990. v. 1-4. Roma: Istituto Poligrafico e Zecca dello Stato,
1998. v. 5.
Atlas Linguistique Roman (ALiR). Roma: Istituto
Poligrafico e Zecca dello Stato; Libreria dello Stato, 1996. v. 1, 1996, v. 2,
2002.
BRASIL.
Decreto n.° 30.643, de 20 de março de 1952. Institui o Centro de Pesquisas da
Casa de Rui Barbosa e dispõe sobre seu funcionamento.
NASCENTES, Antenor. O linguajar carioca. 2. ed. Rio de
Janeiro: Organização Simões, 1953.
NASCENTES, Antenor. Bases para a
elaboração do Atlas Lingüístico do Brasil. Rio de Janeiro: MEC, Casa de Rui
Barbosa, vol. I, 1958, vol. II. 1961.
POP, Sever. La dialectologie. Aperçu
historique et méthodes d’enquêtes linguistiques, I-II. Louvain: Chez l’ Auteur-Gembloux, Ducolot, 1950.
ROSSI, Nelson et al. (1963). Atlas Prévio dos Falares Baianos. Rio de
Janeiro, Ministério de Educação e Cultura - Instituto Nacional do Livro.
PAINEL:
A METODOLOGIA DO PROJETO ALIB
A
CONSTRUÇÃO DA PESQUISA:
REDE
DE PONTOS, QUESTIONÁRIOS, INFORMANTES,
TÉCNICAS
DE REALIZAÇÃO DE INQUÉRITOS
Jacyra Andrade Mota
(Universidade Federal da
Bahia/CNPq/Brasil)
1.
Introdução
A elaboração de um Atlas lingüístico do Brasil havia sido determinada, em 20
de março de 1952, através do Decreto no. 30.643, que fixava esse
projeto como uma das principais finalidades do Centro de Pesquisas da Casa de
Rui Barbosa, então recém-criado. Mas, em razão de dificuldades de diversos
tipos, entre as quais a amplitude do projeto e a ausência de condições
imprescindíveis ao seu desenvolvimento, como observa Silva Neto (1957), apenas
em 1996, decorridos mais de 40 anos, durante o Seminário Nacional Caminhos e
Perspectivas para a Geolingüística no Brasil, realizado na Universidade Federal
da Bahia, em Salvador, retomou-se o projeto, constituindo-se um comitê
nacional, que se responsabilizaria pela sua execução.
O Comitê Nacional,
integrado pelos autores de atlas lingüísticos publicados e por um representante
dos atlas em andamento, foi constituído por Suzana Cardoso (Diretora
Presidente), Jacyra Mota, Diretora Executiva, ambas da UFBA, Maria do Socorro
Aragão (UFPb/UFC), Mário Roberto Zágari (UFJF),
Vanderci Aguilera (UEL) e Walter Koch[1] (UFRS), Diretores
Científicos.
Ao se iniciar o
Projeto ALiB foram fixados como principais objetivos:
a) Descrever a realidade lingüística do Brasil,
no que tange à língua portuguesa, com enfoque prioritário na identificação das
diferenças diatópicas (fônicas, morfossintáticas, léxico-semânticas e
prosódicas) consideradas na perspectiva da Geolingüística.
b) Estabelecer isoglossas com vistas a traçar a
divisão dialetal do Brasil.
c) Oferecer aos estudiosos da língua portuguesa,
aos pesquisadores de áreas afins e aos pedagogos subsídios para o aprimoramento
do ensino/aprendizagem e para uma melhor interpretação do caráter multidialetal
do Brasil.
d) Examinar os dados coletados na perspectiva de
sua interface com outros ramos do conhecimento - história, sociologia,
antropologia, etc. - de modo a poder contribuir para fundamentar e definir
posições teóricas sobre a natureza da implantação e desenvolvimento da língua
portuguesa no Brasil.
e) Oferecer, aos interessados nos estudos
lingüísticos, um considerável volume de dados que permita aos lexicógrafos
aprimorarem os dicionários, ampliando o campo de informações; aos gramáticos
atualizarem as informações com base na realidade documentada pela pesquisa
empírica; aos autores de livros didáticos adequarem a sua produção à realidade
cultural de cada região; aos professores aprofundar o conhecimento da realidade
lingüística, refletindo sobre as variantes de que se reveste a língua
portuguesa no Brasil e, conseqüentemente, encontrando meios de, sem
desprestigiar os seus dialetos de origem, levar os estudantes ao domínio de uma
variante tida como culta.
f) Contribuir para o entendimento da língua
portuguesa no Brasil como instrumento social de comunicação diversificado,
possuidor de várias normas de uso, mas dotado de uma unidade sistêmica.
Do ponto de vista
teórico, ressalta-se a opção pela Geolingüística Pluridimensional, perspectiva
que, no final do século XX, veio substituir a monodimensionalidade até então
predominante nos atlas lingüísticos e que determina a busca de um novo perfil
de informantes e a utilização de questionários mais diversificados quanto ao tipo
de discurso que pretendem documentar
Quanto à
apresentação dos dados finais, o ALiB pretende
apresentar, também, ao lado da versão impressa, uma versão digital, com
utilização dos recursos da Internet
ou de mídias como CD e DVD, como nos “atlas falantes” ou atlas de 3ª. geração. E, como nos chamados atlas de 2ª. geração, análises interpretativas dos dados cartografados.
2.1 A
rede de pontos
A rede de pontos
levou em conta, prioritariamente, a densidade demográfica de cada região e de
cada estado e a distribuição espacial das localidades, com os ajustes
necessários, tanto nos casos das áreas que apresentavam densidade abaixo de
1.0, como naquelas de densidade populacional muito grande, tendo-se chegado a
250 localidades, distribuídas por todo o País.
Para a seleção das
localidades foram considerados: (a) a rede de pontos apresentada por Nascentes
(1958); (b) as redes dos atlas regionais até então publicados; (b) dados
históricos e socioculturais das localidades; (d) limites estaduais e
internacionais.
No decorrer da
pesquisa, foram necessárias substituições, uma vez que algumas localidades,
quando examinadas de perto pelos pesquisadores, revelaram aspectos que desaconselharam
a sua inclusão (como a grande presença de indivíduos de outras áreas, com pouca
possibilidade de se encontrarem informantes com o perfil requerido, por
exemplo, como ocorreu com a cidade de Caldas Novas, em Goiás, substituída por
Catalão).
2.2 Os
informantes
Como é norma em
trabalhos de natureza geolingüística, os informantes devem ser naturais da
localidade e filhos de pessoas também da mesma área lingüística.
Embora não se
busquem, hoje, indivíduos sedentários como os dos primeiros trabalhos de
Geolingüistica, em fins do século XIX e até em grande parte do século XX, devem
ser evitados os que se afastaram da localidade por períodos muito longos e
contínuos. Estudos geo-sociolingüísticos, no nível fonético-fonológico e no
nível morfossintático, têm mostrado a influência do contato com falantes de
outras áreas, principalmente se esse contato coincide com os primeiros anos de
vida do indivíduo (fase de aquisição da linguagem), ou com o período
imediatamente anterior ao da realização do inquérito.
Quanto à fase de
aquisição da linguagem, a teoria clássica admite que o indivíduo, de modo
geral, conserva os traços lingüísticos (sobretudo fonéticos) adquiridos até a
adolescência, aventando, assim, a possibilidade de se analisarem, em tempo
aparente, a partir de falantes de diferentes faixas etárias, fases anteriores
de uma mudança em curso.
A realização aberta
ou fechada das vogais médias, a variante oclusiva dento-alveolar ou africada
palatal diante de /i/, as variantes vibrantes (inclusive retroflexas) ou as
realizações alveolares ou palatais para o /S/ em coda silábica, exemplificam,
freqüentemente, a manutenção de variantes adquiridas no contato com as pessoas
responsáveis pelo indivíduo em sua fase de aquisição da linguagem
(aproximadamente até os 5 anos) e com o seu grupo etário.
A importância dos
afastamentos por períodos mais longos, a depender do falante, tem sido
detectada, por exemplo, no estudo das variantes para o /S/ em coda silábica,
tendo em vista que esse fato é caracterizador de subáreas no português
brasileiro. A propósito, cita-se o caso de um falante de Salvador, de faixa
etária 2, filho de pais soteropolitanos, que não pôde ser aproveitado como
informante do ALiB por haver trabalhado na Petrobrás durante algum tempo, em
áreas de realizações palatais, e afastar-se, sensivelmente, da média encontrada
para essas variantes em Salvador, de acordo com trabalhos anteriores e com a
análise de outros informantes da mesma faixa etária. Chamou a atenção dos
pesquisadores, principalmente, a grande freqüência das palatais em final de
palavra (casaS, colegaS, companheiroS, cavaloS, etc.), contexto desfavorecedor
para as realizações palatais na fala de Salvador.
Para atender à
perspectiva pluridimensional, os informantes do ALiB se distribuiem pelos dois
gêneros, por duas faixas etárias - faixa 1, de
A respeito desse
perfil de informantes, explicam-se a ausência de uma faixa intermediária, entre
30 e 50 anos, e a restrição do parâmetro estrático às capitais de Estado pela
necessidade de reduzir-se o número de informantes, de modo a viabilizar a
execução do Projeto, face às dimensões continentais do Brasil e as dificuldades
de se atingirem determinadas áreas, sobretudo no Norte e no Centro-Oeste do
País. Com relação à variável escolaridade, soma-se à primeira justificativa, a
possibilidade pequena, em alguns casos, nula, de se encontrarem indivíduos de
grau universitário, em todas as localidades selecionadas, que atendessem ao
perfil procurado.
Um outro aspecto
que merece comentário é o fato de a variação estrática basear-se apenas nas
diferenças de escolaridade, sem levar em conta dados socioculturais ou
socioeconômicos, embora esses dados sejam controlados pelas fichas de
informante, sistematicamente preenchidas. Com relação a esse tipo de
classificação estrática, freqüentemente utilizado em trabalhos
sociolingüísticos, a análise dos inquéritos do ALiB têm confirmado, de modo
geral, a sua adequação.
2.3 Os
questionários
Os
questionários lingüísticos do ALiB foram preliminarmente testados em inquéritos
experimentais, com utilização de versões
preliminares que, após avaliadas, foram publicadas, em versão definitiva, em
2001.
Os questionários dirigem-se aos diferentes níveis de estudo da língua,
subdividindo-se em: fonético-fonológico (QFF), com
159 questões e mais 11 questões de prosódia; léxico-semântico (QSL), com
202 questões; morfossintático (QMS), com 49 questões. Contêm, ainda, 04
questões de pragmática (QP), 04 temas para o registro de discurso semidirigido
(TDS), 06 perguntas de natureza metalingüística (PM) e um texto para leitura.
Exemplificam o QFF
as questões a seguir, que visam à obtenção dos vocábulos televisão, tesoura, elétrico, tomate,
borboleta, coração
- destinados ao registro da variação entre vogais médias abertas (é, ó) ou fechadas
(ê, ô), em posição pré-acentuada, fato que, de acordo com Nascentes (1953),
divide os falares brasileiros em falares do Norte (com predominância de vogais
abertas) e falares do sul (com maior freqüência de vogais fechadas) - e os
vocábulos casca, costas, rasgar, sal,
azul, alta, calor, perdão, que procuram
documentar a variação consonantal em coda silábica, de modo a delimitar
diferentes subáreas.
1.
Como se chama
aquele aparelho onde se pode ver novela, jogo, programas...? (QFF, 004)
2.
Como se chama o
objeto com que se corta tecido? (QFF,
046)
3.
Antigamente, para
passar a roupa, usava-se ferro a brasa. Hoje, qual o tipo de ferro que se usa? (QFF, 011)
4.
Como se chama
aquilo vermelho que vende na feira e que se usa para preparar o molho do
macarrão? (QFF, 030)
5.
Como se chama aqui
um bichinho que voa e tem as asas bonitas e coloridas? (QFF, 046)
6.
Qual o nome da
parte do corpo que, se parar, a pessoa morre? (QFF, 119)
7.
Para comer uma
banana, o que é que se tira? (QFF,
031)
8.
Aqui (mostrar)
é a frente, e aqui (mostrar)? (QFF, 067)
9. Fazer assim (mímica) em um papel é ___ ? (QFF, 088)
10.
O que é preciso
colocar na carne para temperar? (QFF,
016)
11.
Que cor é esta? Mostrar. (QFF, 089)
12.
O que se diz de uma
pessoa que mede
13.
No inverno faz frio. E no verão? (QFF, 061)
14.
Quando se comete
uma falta grave, o que é que se pede a Deus? (QFF, 110)
São exemplos do QSL e do QMS:
1.
De noite, muitas
vezes, pode-se observar uma estrela que se desloca no céu, assim (mímica)
e faz um risco de luz. Como
chamam isso? (QSL, 031)
2.
Como se chamam as
frutas menores que a laranja, que se
descascam com a mão e, normalmente, deixam um cheiro na mão. Como
elas são? (QSL, 039)
3.
Como se chama a
área que é preciso ter ou comprar para se fazer uma casa na cidade? (QSL199)
4.
Quando se vê um
amigo com uma mala e se quer saber para onde ele vai, como é que se pergunta? (QMS 024)
As quatro questões
de pragmática apresentam a estrutura a seguir, variando, em cada uma delas, os
dois interlocutores do diálogo imaginado: Um
objeto (carteira, lenço, chave) caiu do bolso de um rapaz jovem e ele não viu.
Como um outro rapaz jovem chama a atenção desse rapaz? (QP, 01).
Nos quatro temas
previstos para o registro de discurso semidirigido, o informante é levado a
relatar uma experiência pessoal marcante em sua vida, a comentar programas de
televisão, a descrever a sua atividade de trabalho e a contar um fato de que
tenha ouvido falar ou que tenha ocorrido com uma outra pessoa.
A utilização de gravuras
é um outro recurso utilizado na aplicação dos questionários com duplo objetivo:
ajudar na identificação do referente, por parte do informante, assegurando
respostas mais rápidas e mais seguras e, especialmente no QMS, auxiliar na
obtenção de respostas menos monitoradas.
Os diferentes tipos
de discurso que se documentam com esses questionários têm-se mostrado
importantes fontes para o estudo da variação diafásica, principalmente quando
se confrontam as respostas às perguntas feitas para obtenção de variantes
fônicas, semântico-lexicais ou morfossintáticas e o discurso emitido de modo
menos tenso, ao final do inquérito, a propósito de temas sugeridos ao
informante.
A variação
diafásica pode ser exemplificada através do confronto entre as respostas às
questões 027 (fervendo) 052 (remando) e 148 (dormindo) do QFF, onde se documentam, em geral, as variantes
padrão, e as ocorrências de formas gerundivas no discurso livre. Nesses ou em
trechos de fala não monitorada, obtidos no decorrer do inquérito, é freqüente a
ausência do morfema identificador do gerúndio, em elocuções como ferveno, remano ou dormino,
inclusive em falantes de escolaridade alta.
A variação
diastrática e diageracional, nos inquéritos do ALiB pode ser verificada também
através das solicitações de outras denominações, insistentemente feitas durante
o desenvolvimento do QSL e que trazem, freqüentemente, observações do tipo “os
mais antigos falavam assim”, “ouvia minha vó dizer”, “antigamente não se falava
assim, não”, “o pessoal ignorante fala assim”, “ouço dizer”.
A variação
diagenérica é percebida, em algumas áreas, em análises quantitativas,
indicando, em geral, a preferência dos falantes femininos pela variante de
maior prestígio, de acordo com o que admite Labov (2001) para as chamadas mudanças
de cima para baixo. Exemplifica esse fato a maior freqüência, em Aracaju, de
realizações palatalizadas para o /t, d/ diante da vogal alta /i/ (tio, dia),
em informantes femininas, como observa Mota (2007), no trecho:
Em Aracaju, os
informantes masculinos quase não utilizam as variantes palatais (5% e 0,10 de
peso relativo), ao contrário das informantes femininas que apresentam na fala
35% de freqüência dessas variantes, correspondentes ao peso relativo de 0,54.
Nas outras localidades [Recife, Maceió e Teresina] é pequena a diferença entre
os dois gêneros. (p. 5).
Para a análise do
que se identifica como variação diarreferencial, incluem-se seis questões de
natureza metalingüística sobre o modo de falar local, as pessoas que, segundo o
informante, “falam de modo diferente” na localidade ou em outras áreas
brasileiras, o falar de épocas anteriores, solicitando-se exemplos dessas
variantes, como na questão:
Tem gente que fala
diferente aqui em _____ (citar a cidade onde está)? Se houver, identificar os grupos “que falam diferente”. (PM, 02)
Pode-se, assim,
confrontar a percepção do falante sobre outras variantes e outros falares,
verificando até que ponto fatos identificados como característicos de outro estrato
social, de outra geração ou de outras áreas estão presentes em sua fala, tendo
em vista que, conforme atestam as pesquisas sociolingüísticas, a avaliação
subjetiva do falante a respeito de um determinado fato nem sempre coincide
inteiramente com a sua própria realização lingüística.
A insatisfação do
falante face à introdução de novos hábitos lingüísticos pode também estar
presente nessas falas, como se pode observar, por exemplo, em inquérito
experimental, realizado em São Luís com uma jovem de 19 anos:
Inq.- Tem gente que
fala diferente aqui em São Luís?
Inf. - Aqui em
São Luís tem as pessoas que QUEREM FALAR diferente.
Inq. - Como são
essas pessoas que querem falar diferente?
Inf. - São as
pessoas que tentam puxar um... um sotaque que, na verdade, não existe aqui.
A decisão metodológica de
aplicar-se, em todas as localidades, os mesmos questionários, com a redação
prévia das perguntas, teve o objetivo, que já se pode considerar alcançado, de
obter maior uniformidade e resultados intercomparáveis inteiramente confiáveis.
2.4 Técnicas
de realização dos inquéritos
A realização dos
inquéritos requer, além da preparação do inquiridor e dos instrumentos de
trabalho (questionários, fichas, aparelhos, etc.) a intervenção de uma pessoa da
própria localidade a ser pesquisada, se possível, através de contato prévio.
Esses “facilitadores” têm ajudado a encontrar os informantes dentro do perfil
requerido e têm contribuído para reduzir ou eliminar as desconfianças que,
muitas vezes, os entrevistados demonstram, face ao inusitado da proposta de
pesquisa e os problemas presentes na época atual.
A gravação de dados é
realizada in loco com cada um dos informantes, separadamente,
evitando-se, na medida do possível, a intervenção de outras pessoas (familiares,
amigos ou curiosos). Em situação ideal, o inquiridor principal se faz
acompanhar de um inquiridor auxiliar que, além de manejar os aparelhos,
controla o desempenho do informante, assinalando em ficha própria, as questões
não respondidas por desconhecimento e aquelas esquecidas no momento do
inquérito, que deverão ser repetidas, ao final do inquérito.
O registro é feito, em
geral em mini
discs (MD) ou fitas magnetofônicas
(aparelhos do tipo cassete), e, freqüentemente, com utilização simultânea dos
dois tipos de aparelho, de modo a evitar que se perca inteiramente o inquérito,
em caso de acidente com um deles.
Ao lado das
gravações de fala, registram-se ainda dados sobre os informantes através da
“Ficha de informante”, sistematicamente preenchida, às vezes também gravada,
dados das localidades através de informações fornecidas por escolas,
prefeituras ou pelos próprios habitantes e fotos.
A ficha para
anotação de dados de informantes tem por objetivo não apenas identificar o
falante alvo da gravação mas também situá-lo sociolingüisticamente. Desse modo,
incluem-se informações sobre a sua profissão (assim como dos pais e cônjuge),
sua renda individual ou familiar, o contato que mantêm com os meios de
comunicação (TV, rádio, jornal, revista), suas preferências e diversões, sua
participação em atividades religiosas, com a finalidade de caracterizá-lo
melhor e estabelecer as possíveis relações com os seus usos lingüísticos.
2.5. Tratamento dos dados
As amostras obtidas
“in loco” são posteriormente catalogadas, copiadas (se necessário) e
arquivadas, situando-se, no Instituto de Letras da UFBA, o arquivo nacional de
dados do Projeto ALiB, que será arquivado, também em meio digital, no Centro de
Processamento de Dados dessa mesma Universidade.
Os dados são
transcritos fonética e grafematicamente, passando por duas revisões sucessivas.
Implementa-se, no
momento, a estruturação de um Banco de Dados, que vai possibilitar a elaboração
das cartas lingüísticas, impressas e em meio digital, e a abertura à consulta
dos dados do ALiB aos pesquisadores interessados.
3. Considerações
finais
A metodologia
seguida para constituição e desenvolvimento do Projeto ALiB, como vimos, apesar
de incluir-se nos princípios da Geolingüística Pluridimensional Contemporânea,
teve de levar em conta as restrições impostas pela extensão territorial a
cobrir e todas as dificuldades disso advindas, reduzindo os parâmetros a
considerar, o número de informantes e os próprios questionários. Desse modo, o
Projeto ALiB propõe-se a fornecer uma macro-visão da realidade brasileira,
delineando áreas e subáreas dialetais, mas não substitui as pesquisas
regionais, que, circunscritas a áreas mais reduzidas, poderão ampliar o leque
de variáveis e os fatos a documentar.
Referências
BRASIL.
Decreto n.° 30.643, de 20 de março de 1952. Institui o Centro de Pesquisas da
Casa de Rui Barbosa e dispõe sobre seu funcionamento.
COMITÊ
NACIONAL.Atlas Lingüístico do Brasil. Questionários. Londrina:
Ed. UEL, 2001.
COMITÊ
NACIONAL. Projeto Atlas Lingüístico do Brasil. Salvador: Instituto de
Letras, 1998 e 2003.
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William. Principles of linguistic change. v. 2: Social factors. Massachusetts:
Blackwell, 2001.
MOTA, Jacyra. Falar baiano versus
falar nordestino: o que revelam os dados do Atlas Lingüístico do Brasil.
Comunicação apresentada no I Forum Internacional da Diversidade Lingüística,
2007, Porto Alegre. Texto entregue para publicação em Atas.
NASCENTES,
Antenor. O linguajar carioca. 2. ed.
Rio de Janeiro: Organização Simões, 1953.
NASCENTES,
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Janeiro: MEC, Casa de Rui Barbosa, v. I, 1958.
SILVA NETO, Serafim da. Guia para estudos dialectológicos. 2. ed., Belém: Conselho Nacional
de Pesquisa/Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, 1957.
PAINEL: A
METODOLOGIA DO PROJETO ALIB
A REDE DE PONTOS: UMA REFLEXÃO
SOBRE A HISTÓRIA SOCIAL
DAS CAPITAIS DE ESTADO QUE
INTEGRAM O PROJETO ALIB.
Aparecida Negri Isquerdo
(Universidade Federal de Mato
Grosso do Sul
Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico - Brasil)
Introdução
Como um dos
procedimentos metodológicos fundamentais nas
Já Mouton (1996, p.
65) define rede de pontos como o conjunto de localidades onde será realizada a
pesquisa, que são escolhidas segundo diversos critérios e que devem representar
todo o território estudado - a rede inclui mais lugares em terras onde as
diferenças dialetais são mais interessantes, em zonas isoladas, em áreas de
fronteira e menos pontos onde haja maior uniformidade lingüística. Inicialmente
evitava-se a inclusão de cidades dentre na rede de pontos, uma vez que se
buscava o caráter arcaizante da linguagem, fenômeno mais evidenciado em lugares
distantes dos centros mais avançados em termos tecnológicos (atlas rurais).
Esse critério tem sido revisto e na atualidade os estudos geolingüísticos
atingiram as cidades, inclusive, os grandes centros, surgindo assim os atlas
urbanos.
Desta forma, a
questão da definição da rede de pontos nas pesquisas geolingüísticas remete a
duas outras: a densidade da rede e o grau de abrangência da pesquisa
geolingüística. No Brasil, um país de dimensões continentais, a questão da
densidade da rede de pontos torna-se particularmente complexa. Daí a tendência
nacional de produção de atlas com redes de pontos menos densas. Mesmo dentre os
atlas regionais já publicados no Brasil não se observa uma rede carregada de
pontos, se considerada a relação entre o número de pontos e a dimensão
territorial do País. Associada à questão da densidade da rede de pontos
situa-se o domínio espacial do atlas a ser produzido, outro fator determinante
na seleção dos pontos de inquéritos e diretamente relacionado aos objetivos do
projeto. Em termos de Brasil, a questão da densidade da rede de pontos em
trabalhos geolingüísticos configura-se como uma decisão que demanda muitos
questionamentos, considerando-se, para tanto, temas como viabilização da
pesquisa em termos financeiros e de cronograma de execução, objetivos do atlas
a ser confeccionado, equipe de pesquisa, dentre outros.
Nascentes (1958),
após viajar por todo o Brasil, propôs um total de 605 localidades para um
futuro atlas lingüístico do Brasil, proposta que ainda orienta trabalhos
geolingüísticos brasileiros e que foi tomada como parâmetro para a definição da
rede de pontos do Atlas Lingüístico do Brasil. Entretanto, à época, o
dialetólogo brasileiro já reconhecia as dificuldades que seriam enfrentadas
pelos pesquisadores que se aventurassem a tamanha empreitada e recomendava que
se confeccionassem inicialmente atlas regionais para, posteriormente,
elaborar-se um atlas nacional. Essa postura também foi adotada por outros
estudiosos e anteriormente defendida por Serafim da Silva Neto (1957, p. 12),
ao ponderar o quanto seria “difícil e demorada, com a imensa extensão do
Brasil, com as dificuldades de comunicação e sem as tomadas prévias, a
realização de um atlas lingüístico”.
A lição dos mestres
foi acatada e no Brasil, em situação inversa a da Europa, pelo menos nos
Estados da Federação que já contam com atlas publicados e/ou projetos em
desenvolvimento, os atlas regionais foram produzidos antes de um atlas
nacional. Esses atlas regionais documentaram um maior volume de dados relativos
à língua falada nos espaços regionais pesquisados, o que não acontecerá com o
Projeto ALiB que se enquadra na categoria dos atlas de grande domínio e que por
isso documentará fatos lingüísticos mais gerais e passíveis de serem
intercomparados, em âmbito nacional. Este trabalho discute a rede de pontos do
Projeto ALiB, no que se refere às capitais, com ênfase para a história social
relacionada a cada uma delas (momento e causas da criação, importância no
conjunto do processo de povoamento e desenvolvimento do Brasil) e para a
natureza da nomenclatura geográfica dessas capitais.
A definição da rede
de pontos do Projeto ALiB tomou como pressuposto o estudo sistemático da
realidade brasileira, do processo de povoamento e do desenvolvimento
socioeconômico de cada área. Para tanto, contou-se com o assessoramento de
antropólogos, historiadores e geógrafos e, também, com a colaboração de
indigenistas.
Para o
estabelecimento do número de pontos, distribuídos em cada Estado, levou-se em
consideração, prioritariamente, a densidade demográfica dos 26 Estados da
Federação, distribuídos pelas 05 regiões brasileiras, fazendo-se os ajustes
necessários nos casos de densidade abaixo de 1,0 - como os estados do Acre, de
Roraima, do Amapá e do Tocantins; de pequena densidade demográfica em grandes
áreas - como é o caso do Mato Grosso (densidade 3,6) e do Amazonas (densidade
3,8), e de maior densidade populacional - como no caso do Rio de Janeiro
(densidade 22), de Minas Gerais (densidade 27) e de São Paulo (densidade 55).
A definição da rede
considerou a análise da proposta de Nascentes (1958), a rede dos atlas
regionais já publicados e os objetivos do Atlas Lingüístico do Brasil, proposto
em 1996, pelos dialetólogos brasileiros. Além disso, o projeto considerou
também a realidade brasileira atual, as prioridades estabelecidas pelo projeto,
definidas em função das condições de produção do atlas, em termos econômicos e
de recursos humanos. A seguir especificamos a distribuição das 250 localidades[2] da rede em termos
de regiões administrativas do IBGE e de estados da Federação.
A região Norte, a mais extensa das
regiões brasileiras, tem uma área de 3.769.900 km2 (45% do
território nacional) e uma população de 14.892.013 habitantes (7% do total
brasileiro). Com uma densidade demográfica de 0,2, é dividida em 07 estados da
Federação: Amazonas, capital Manaus;
do Acre, capital Rio Branco; do
Tocantins, capital Palmas; de
Rondônia, capital Porto Velho, de
Roraima, capital Boa Vista; do Pará,
capital Belém e do Amapá, capital Macapá. Dessas capitais, 06 integram a
rede de pontos do ALiB, tendo sido excluída Palmas a capital do estado de
Tocantins em virtude da sua criação recente (1989), em decorrência do
desmembramento pelo Governo Federal do Brasil do estado de Goiás em duas
unidades da Federação, decisão que deu origem ao Estado de Tocantins (1988). A
rede de pontos do Projeto AliB, na região Norte, abrigou, pois, 24 pontos,
assim distribuídos: Acre - densidade
demográfica 0,8 - 02 localidades; Amapá
- densidade demográfica 0,6 - 02 localidades; Amazonas - densidade demográfica 3,8 - 05 localidades; Pará - densidade demográfica 8,0 - 10
localidades; Rondônia - densidade
demográfica 1,6 - 02 localidades; Roraima
- densidade demográfica 0,4 - 01 localidade e Tocantins - densidade demográfica - 1,7 - 02 localidades.
Já a região Nordeste concentra uma área de
1.584.803 km2 (18% da área territorial do Brasil) e uma população de
51.380.117 habitantes (29% da população brasileira), apresentando uma densidade
demográfica de 23 habitantes por Km2. Formada por 09 estados -
Maranhão, capital São Luiz; Piauí,
capital Teresina; Ceará, capital Fortaleza; Rio Grande do Norte, capital Natal; Paraíba, capital João Pessoa; Pernambuco, capital Recife; Alagoas, capital Maceió; Sergipe, capital Aracaju e Bahia, capital Salvador -, a região Nordeste concentrou
78 localidades da rede de pontos do Projeto ALiB: Alagoas - densidade demográfica 8,0 - 04 localidades; Bahia - densidade demográfica 11 - 22
localidades; Ceará - densidade
demográfica 4,1 - 12 localidades; Maranhão
- densidade demográfica 3,9 - 09 localidades; Paraíba - densidade demográfica 5,2 - 06 localidades; Pernambuco - densidade demográfica 11,5
- 12 localidades; Piauí - densidade
demográfica 4,0 - 05 localidades; Rio
Grande do Norte - densidade demográfica 2,7 - 05 localidades e Sergipe - densidade demográfica 19,2 -
03 localidades.
A região Centro-Oeste, por sua vez, dentre as 05
regiões brasileiras, é a segunda em extensão territorial, com uma área 1.612.077
km2 (19% do total brasileiro) e uma população de 13.169.420
habitantes (7% do total nacional), com uma densidade demográfica de 04
habitantes por Km2. É formada por 03 Estados e o Distrito Federal:
Mato Grosso, capital Cuiabá; Mato
Grosso do Sul, capital Campo Grande e
Goiás, capital Goiânia, além do
Distrito Federal, com a capital Brasília.
No Centro-Oeste, o Projeto ALiB está recolhendo dados em 24 localidades: Goiás - densidade demográfica 7,2 - 09
localidades; Mato Grosso - densidade
demográfica 3,6 - 09 localidades; Mato
Grosso do Sul - densidade demográfica 3,2 - 06 localidades.
Já a região Sudeste é a mais densamente
povoada e economicamente mais importante do Brasil, com uma área 927.287 km2
(11% do total brasileiro) e uma população de 79.122.849 habitantes (42%
da população brasileira), é formada por 04 estados: São Paulo, capital São Paulo; Minas Gerais, capital Belo Horizonte, Espírito Santo, capital Vitória e Rio de Janeiro, capital Rio de Janeiro. Em decorrência da sua
alta densidade demográfica (55 habitantes por Km2), contempla 80 das
250 localidades da rede de pontos do Projeto ALiB: Espírito Santo - densidade demográfica 4,5 - 05 localidades; Minas Gerais - densidade demográfica
27,2 - 23 localidades; Rio de Janeiro
- densidade demográfica 22 - 14 localidades e São Paulo - densidade demográfica 55 - 38 localidades.
Por fim, a região Sul, considerada a Europa brasileira em virtude da
concentração de imigrantes europeus no povoamento do seu território, reúne uma
área de 577.214 km2 (07% do total brasileiro) e uma população de
27.173.918 habitantes (15% da população brasileira), com uma densidade
demográfica de 31 habitantes por Km2. É formada por 03 estados:
Paraná, capital Curitiba; Santa
Catarina, capital Florianópolis e Rio
Grande do Sul, capital Porto Alegre
e, no projeto ALiB, abriga 44 localidades: Paraná
- densidade demográfica 14,5 - 17 localidades; Santa Catarina - densidade demográfica 7,8 - 10 localidades e Rio Grande do Sul - densidade
demográfica 15,5 - 17 localidades.
Os dados apresentados
acerca da distribuição da rede de pontos do Projeto ALiB demonstram o peso
exercido pelo critério da densidade demográfica na definição e na distribuição
das localidades, segundo os Estados de cada região geográfica brasileira. Basta
observarmos a relação entre os índices relativos à área territorial e à
população para constatarmos a realidade brasileira em termos de densidade
demográfica, fator que se refletiu na definição do número de pontos do ALiB
para os Estados das cinco regiões administrativas brasileiras. A região Norte,
por exemplo, que concentra a maior área territorial dentre as regiões
brasileiras (45%), retém apenas 7% da população brasileira e registra uma
densidade demográfica de 0,2 habitantes por Km2. Em contrapartida a
região Sudeste que representa apenas 11% do total da área geográfica do Brasil
abriga 43% da população nacional com uma densidade demográfica de 55 de
habitantes por km2.
Além da densidade
demográfica regional, para a escolha das localidades, em cada um dos Estados do
País, foram considerados os seguintes critérios: a) as zonas dialetais já
determinadas por meio de pesquisas anteriores, por pesquisadores da área; b) a
distribuição espacial das localidades, para que um ponto não ficasse colado
noutro e se mantivesse, em cada Estado, um distanciamento mais ou menos
simétrico. Procurou-se, nesse caso, conjugar o critério de eqüidistância versus densidade demográfica; c) a
importância da localidade, se em zona fronteiriça por causa do bilingüismo e/ou
diglossia, se em zona limítrofe interestadual (quando de muito movimento), ou
se em zona onde ainda se evidencia uma cultura e/ou presença indígena e, d) as
localidades apresentadas por Antenor Nascentes, em 1958, quando de suas Bases
para Elaboração de um Atlas Lingüístico do Brasil.
Nota-se, pois, que
diferente do que tem sido feito, tradicionalmente, em trabalhos de natureza
dialetal, foram pontuados, mas não se consideraram prioritários, critérios como
antiguidade e grau de isolamento das localidades em relação a centros mais
desenvolvidos.
Assim, cidades de
grande e médio porte, inclusas aí as capitais (com duas exceções), foram objeto
de trabalho de natureza sociolingüística, pela primeira vez no âmbito de um
Atlas Lingüístico na América Latina. As capitais, onde o inquérito não se fará
são a de Tocantins, Palmas, por sua recente criação (1989) e não ter, por
conseqüência, informantes nativos, e Brasília que, inaugurada em 1960, vive
ainda uma miscigenação de falares, por receber brasileiros de todas as partes e
não ter tido tempo, do ponto-de-vista lingüístico, para formar a sua norma
lingüística. Essa razão explica a inclusão de Belo Horizonte, Goiânia e Campo
Grande que, há pouco centenárias, já apresentam, contudo, um nivelamento
lingüístico que as torna, por seu falar característico, diversa dos falares que
as rodeiam.
Desnecessário
frisar que, para a definição da rede de pontos, os dados fornecidos pelo IBGE
(Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) foram fundamentais. Além
disso, foi realizada ampla leitura da História do Brasil, dos primeiros
viajantes e suas narrativas até teses recentes sobre desbravamento e povoação.
2. As
capitais brasileiras - uma visão sócio-histórica
O Volume I do Atlas
Lingüístico do Brasil apresentará, no seu fascículo 2, o mapeamento dos dados
geolingüísticos documentados em 26 capitais brasileiras, já que Palmas e
Brasília não foram incluídas na rede pelas razões anteriormente expostas.
As capitais dos 26
Estados da Federação e a capital do Brasil estão assim distribuídas, segundo o
século de fundação, considerando-se, para tanto, como critério as notícias do
primeiro povoamento e não a data oficial de criação da capital:
1.século XVI: 26% das capitais brasileiras,
distribuídas entre as regiões Nordeste - Salvador, Natal, Recife, João Pessoa -
e Sudeste - Rio de Janeiro, São Paulo e Vitória;
2.século XVII: 26% das capitais brasileiras,
distribuídas entre as regiões Norte - Belém e Manaus; Nordeste - Aracaju,
Fortaleza, Maceió e São Luiz; e Sul - Curitiba;
3.século XVIII: 14,8% das capitais
brasileiras, distribuídas entre as regiões Norte - Macapá; Centro-Oeste -
Cuiabá; Sudeste - Belo Horizonte e Sul - Florianópolis;
4.século XIX: 22,2% das capitais
brasileiras, distribuídas entre as regiões Norte - Boa Vista e Rio Branco;
Nordeste - Teresina; Centro-Oeste - Campo Grande e Goiânia - e Sul - Porto
Alegre;
5.século XX: 11% das capitais brasileiras,
distribuídas entre as regiões Norte - Porto Velho e Palmas e Centro-Oeste -
Brasília.
Como se pode perceber,
essa distribuição das capitais brasileiras segundo o século da fundação
demonstra que 70,5% das capitais tiveram origem no Brasil Colônia (séculos XVI
a XVIII) e apenas 29,5% surgiram no período republicano. Em face disso, para a
compreensão desse fenômeno, faz-se mister uma retomada de dados acerca do
processo de povoamento do Brasil, ou seja, as correntes migratórias que foram
responsáveis por esse povoamento, nas diferentes regiões brasileiras.
Consultando Caio
Prado Júnior (2006, p. 36-38)[3], vamos verificar
que no final do século XVIII a população brasileira somava cerca de 3.000.000
de habitantes, excluindo-se aproximadamente 800.000 índios “não domesticados”.
Essa população distribuía-se irregularmente por todo o território da então
colônia. Segundo esse historiador, vários fatores contribuíram para a essa
dispersão do povoamento: i) “a extensão da costa que coube a Portugal na
partilha de Tordesilhas”, fator determinante para a colonização simultânea em
diferentes pontos da colônia como uma estratégia de defesa, o que resultou na
divisão do território em capitanias, medida que garantiu à coroa portuguesa a
posse das terras ao longo do litoral (p. 37); ii) o “bandeirismo preador de
índios e prospector de metais e pedras preciosas” que avançou o povoamento para
o interior da colônia; a exploração das minas a partir do final do século XVII
fixou núcleos populacionais no interior da colônia - Minas Gerias, Goiás e Mato
Grosso (p. 37); iii) a ação das missões católicas evangelizadoras do gentio no
Extremo-Norte (bacia Amazônica), “seguidas de perto pela colonização leiga,
provocada e animada pela política da metrópole [...], sustentada pela
exploração dos produtos naturais da floresta amazônica: o cacau, a
salsaparrilha e outros” (p. 37) e, iv) consumo de carne oriunda dos rebanhos
que avançavam pelo sertão nordestino, um dos “maiores centros agrícolas do
litoral da colônia, Bahia e Pernambuco” (p. 37-38).
Ainda conforme o
mesmo historiador, o território que viria a constituir o Brasil fixou-se na
verdade desde os meados do século XVIII, época em que quase 2.000.000 de
habitantes havia se fixado na faixa litorânea. Em face disso,
esse desequilíbrio entre
litoral e interior exprime muito bem o caráter predominante da colonização:
agrícola - donde a preferência pelas férteis, úmidas e quentes baixadas da
marinha; e comercialmente voltada para o interior, onde estão os mercados para
seus produtos. Localizado aí de início, o povoamento só começa a penetrar no
interior, propriamente no segundo século (PRADO JÚNIOR, 2006, p.39).
Associando-se esses
dados históricos às datas dos primeiros povoamentos que deram origem às
capitais dos estados brasileiros no Brasil Colônia, encontramos justificativas
para o fato das 52% das capitais que surgiram nos séculos XVI e XVII
situarem-se em áreas litorâneas, exceto São Paulo, uma vez que
de ocupação efetiva
do interior, à parte o caso excepcional de São Paulo, plantado de início no
planalto e arredado da costa, encontramos apenas a marcha progressiva das
fazendas de gado do sertão nordestino e a lenta e escassa penetração na bacia
amazônica (PRADO JÚNIOR, 2006, p.39).
Reportando-nos novamente ao século XVI notamos que o surgimento dos 07
povoados que se transformaram em grandes centros urbanos elevados à categoria de
capital - Salvador, Natal, Recife, João
Pessoa, Rio de Janeiro, São Paulo e
Vitória - traduzem fortemente a política colonizadora lusitana.
Na localidade onde
foi fixada a cidade de Salvador, por
exemplo, há registro da presença de habitante branco desde 1510 - Diogo Álvares
que era tripulante de um navio francês que naufragara no local. Em 1536 chegou
à região Francisco Pereira Coutinho, o primeiro donatário que recebeu capitania
hereditária de El-Rei Dom João III, fundando o Arraial do Pereira. Em 1949 Tomé
de Souza funda por ordens do rei de Portugal a cidade-fortaleza chamada São Salvador,
nascendo assim a cidade de Salvador, com estuto de cidade e de capital, sem
nunca ter sido província. Comprova-se, pois, que a fundação da capital Salvador
no litoral representou uma ação do governo português em defesa do território[4].
Caminhos similares marcaram o
surgimento das outras capitais seiscentistas da região Nordeste. A primeira
população que deu origem a Recife,
por exemplo, surgiu em 1561, em decorrência de um ancoradouro (largo canal
situado entre os arrecifes de arenito e a península), que abrigava pesados
veleiros que ali vinham refrescar-se em local abrigado pelas sombras dos
arrecifes. Nesse local, as águas do mar misturavam-se às dos rios Capibaribe e
Beberibe. Já João Pessoa surge em
1585, com o nome de Nossa Senhora das Neves, quando chegou à Paraíba Martim
Leitão, Ouvidor-Geral da Bahia, chefiando uma expedição que deveria restaurar
os fortins da barra e desalojar os franceses que ali vinham se fixando. Com o
Ouvidor-Geral chegaram também várias famílias, por isso ele teve que
providenciar a construção de fortes, igrejas e casas de moradia.
Por fim, a Cidade do Natal,
nome assim registrado na Constituição Estadual, teve origem em 1599, na
capitania do Rio Grande do Norte, cuja história tem início em 1535 com a
chegada de uma frota comandada por Aires da Cunha, a serviço do donatário João
de Barros e do Rei de Portugal, que tinha como meta a colonização das terras da
região.
Ao longo do
litoral, só que na região Sudeste da Colônia, outras 03 capitais seiscentistas
surgem como decorrência das mesmas estratégias do governo imperial, qual seja
as de proteger as fronteiras e de expandir o processo de povoamento do território.
Vitória,
por exemplo, foi criada em virtude dos constantes ataques indígenas, franceses
e holandeses à Vila Velha, que era a capital da capitania do Espírito Santo, o
que levou os portugueses a mudarem a capital para uma ilha próxima ao continente,
a Ilha de Guanaaní, e batizá-la de Ilha de Vitória. A nova capital foi fundada
em 1551 com o nome de Cidade de Vitória, em referência à vitória conquistada
numa grande batalha comandada por Vasco Fernandes Coutinho, donatário da
capitania, contra os índios Goitacases.
Já São Paulo emerge como missão jesuítica, reunindo em seus primeiros
territórios habitantes de origem européia e indígena. Do
A Cidade do Rio de Janeiro, por seu turno, foi
fundada em 1565 por Estácio de Sá, com a missão de servir como núcleo
fortificado com vistas a defender a baía da Guanabara, após a expulsão dos
franceses. Essa localidade algumas décadas depois se configurou como um porto
exportador do açúcar do recôncavo fluminense. Outro fator que deu destaque à
cidade do Rio de Janeiro foi a sua elevação à capital do território em 1763.
Com a vinda da família real para o Brasil em
No século XVII,
surgem mais 08 capitais brasileiras também motivadas pelas mesmas razões que
impulsionaram o surgimento de povoados no primeiro século do Brasil Colônia e
ainda predominam as cidades litorâneas e em regiões de fronteira marcadas por
grandes rios navegáveis. É nesse século, por exemplo, que surgem as primeiras
capitais situadas na região Norte do Brasil: Belém e Manaus.
A capital do atual estado
do Pará, Belém, foi edificada em
terras dos povos Tupinambá. O surgimento do núcleo primitivo dessa cidade
remonta ao contexto da conquista da foz do rio Amazonas, à época da Dinastia
Filipina, quando da fundação do Forte do
Castelo do Senhor Santo Cristo do Presépio de Belém (Forte do Presépio), às margens da
baía de Guajará, em 1616. Inicialmente denominada de Feliz Lusitânia, a povoação que
se formou ao redor do Forte do Presépio foi também denominada como Santa
Maria do Grão Pará, como Santa Maria de Belém do Grão Pará e, por
fim, Belém. Entre
o final do século XIX e começo do século XX, no chamado Ciclo da Borracha, a
cidade alcançou grande importância comercial e cultural, passando a ser cognominada
de Paris N`América. Isso atraiu grandes levas de imigrantes oriundos de
diversos continentes e de migrantes de vários estados brasileiros, sobretudo
dos do Nordeste que para lá se abalaram em busca de riqueza com a extração do
látex da seringueira (Hevea brasiliensis).
A exemplo de Belém, Manaus também ergueu-se com o objetivo
de defesa de território. Em 1669, tem início a história da colonização européia
na região de Manaus com a construção de um pequeno forte em pedra e barro, com
quatro canhões: o Forte
de São José da Barra do rio Negro. Esse forte foi construído para
garantir o domínio da coroa portuguesa na região, principalmente contra a
invasão de holandeses. Próximo ao forte habitavam os povos indígenas barés,
banibas, passés e manaós que ajudaram na sua construção e passaram a morar a
sua volta. Em 1755 foi criada por meio de Carta Régia a Capitania de São José
do Rio Negro, com sede em Mariuá, atual cidade de Barcelos. Todavia, em 1791,
temendo as invasões espanholas, o governador
Lobo D'Almada passou a sede novamente para o Lugar da Barra, em razão da sua
localização estratégica - confluências dos rios Negro e Amazonas. Em 1832, o
Lugar da Barra passou à categoria de vila com o nome de Vila de Manuas,
passando depois a ser denominada de Cidade da Barra do Rio Negro (1848) e por
fim Cidade de Manaus (1856).
Não é demais lembrar que Manuas, a capital do Amazonas, era um
lugar esquecido e praticamente inexistente nos mapas até o Ciclo da Barrocha (
Já no Nordeste foram
criadas no século XVII os povoados que deram origem às capitais Aracaju, Fortaleza, Maceió e São Luiz. A exploração das terras onde
se localiza a atual capital de Sergipe, Aracaju,
e a fundação do primeiro núcleo populacional remontam à época da chegada do
colonizador português
O
núcleo populacional que deu origem à capital Fortaleza foi fundado por meio da Ordem Regia de 13 de fevereiro de 1699,
que criou a primeira vila no Ceará, origem do atual Município de Aquiraz,
instalado em 1700, na sua primitiva sede - o núcleo de Fortaleza. Por Resolução
Régia de 9 de março de 1725, é criado o município de Fortaleza, com sede no
núcleo do mesmo nome, então elevado à categoria de vila. Já a categoria de
cidade lhe é conferida em 1823.
Já os registros de
primeiras povoações no território onde se situa Maceió datam de 1611 quando uma sesmaria de 800 braças foi
concedida a Manuel Antônio Duro. Em 1673, D. Pedro II ordena a povoação e a
fortificação do porto de Jaguará, com vistas a combater o comércio ilegal de
pau-brasil. A vila de Maceió foi criada em 1815 e instalada em 1817, sendo
elevada à categoria de cidade e de capital da Província de Alagoas em 1839. Por
fim, a cidade de São Luís, capital
do Maranhão, situada na península que avança sobre o estuário dos rios Anil e
Bacanga, foi fundada em 1612, pelos franceses Daniel de La Touche e Fraçois de
Rasilly. A cidade foi incorporada ao domínio português em 1615, mas sucumbiu,
ainda no decorrer do século XVII, ao domínio holandês. Em 1645 os holandeses
foram expulsos pelos portugueses, quando efetivamente tem início a colonização
portuguesa da antiga Upaon Açu ou Ilha Grande, a denominação tupinambá
para a Ilha de São Luís.
É o século XVII que
também registra o surgimento da primeira capital na região Sul do Brasil, já
como conseqüência do ciclo da exploração do ouro que levou ao descobrimento dos
Campos de Curitiba, também chamados de Sertão de Paranaguá. As levas de
garimpeiros subiam o rio Ribeira e atingiam o rio Assungui e se deparavam ao
sul com os Campos de Curitiba, onde vários deles se fixaram com suas famílias.
Outros vindos do litoral galgaram a Serra do Mar e se estabeleceram no
planalto. A primeira notícia de bandeirantes nesses campos data de 1661: uma
carta de sesmaria a favor de Baltazar Carrasco dos Reis, dando-lhe posse no
Barigui. Curitiba foi erguida numa
Todavia, motivos
diversos aos que desencadearam o surgimento dos povoados que deram origem às
capitais seiscentistas e setecentistas impeliram o surgimento dos aglomerados
humanos que adquiriram o estatuto de capital no século XVIII. Ao contrário dos
dois primeiros séculos de colonização, quando o processo de povoamento
priorizou a área litorânea, o século XVIII vem marcado por novos processos de
colonização, decorrentes, sobretudo, do ciclo do ouro que tange, para o
interior do território, grandes levas de bandeirantes em busca de ouro e pedras
preciosas. Instauram-se os movimentos das entradas e bandeiras[5] e posteriormente o
das monções[6] que impulsionam o
povoamento do Centro-Oeste do Brasil. Em face disso, a fundação de muitas
cidades foi uma conseqüência do arrojo dos bandeirantes paulistas que,
empenhados a principio na captura de índios para os trabalhos da lavoura, e
atraídos depois pelas minas de ouro e diamantes, vieram a desbravar os sertões
brasileiros. A criação das capitais Cuiabá
(MT) e de Belo Horizonte (MG) foi
motivada pela influência do movimento de entradas e bandeiras.
Cuiabá, por exemplo, tem sua origem em um
Na região Norte, no
século XVIII, desponta Macapá, a
capital do estado do Amapá. Os primeiros habitantes do Estado foram os
A cidade de Belo Horizonte, por sua vez, se originou de um pequeno arraial
chamado Curral del Rei, fundado por João Leite da Silva Ortiz, famoso bandeirante
e guarda-mor das Minas de Goiás. Era irmão do também célebre Bartolomeu Pais de Abreu que achou o
clima da região agradável, e ali se estabeleceu com a Fazenda do Cercado. No
local, nas fraldas da Serra do Curral, em 1750, por ordem da
Coroa, foi criado o distrito de Nossa Senhora da Boa Viagem do Curral
del-Rei, então sede da freguesia do mesmo nome, instituída de fato em 1718,
em torno de capela ali construída por Francisco Homem del-Rei. A freguesia foi
oficializada em 1748. No final do século
XIX, a então capital de Minas Gerais,
a cidade de Ouro Preto, apresentava
dificuldades em termos de expansão urbana, devido à sua localização. Isso gerou
a necessidade da transferência da capital para outra localidade. O território
foi desmembrado de Sabará e
inicialmente a localiddae foi denominada Cidade de Minas. A capital do Estado
foi oficialmente transferida em 1897, durante o governo de Crispim Jacques Bias Fortes,
já com o nome de Belo Horizonte.
Já o povoamento da
Ilha de Santa Catarina tem início por volta de 1765, com a chegada do
bandeirante Francisco Dias Velho com sua família e agregados que funda a
localidade de Nossa Senhora do Desterro (atual Florianópolis). Intensifica-se o fluxo de paulistas e vicentistas
na região e, em 1726, Nossa Senhora do Desterro é elevada à categoria de vila e
desmembrada do municio de Laguna. No século XIX tornou-se capital da província
de Santa Catarina (1823). A população da cidade é majoritariamente de origem
portuguesa, com destaque para os colonos açorianos que colonizaram a região em
meados do século XVIII.
O século XIX, por
sua vez, documenta o surgimento de 06 capitais brasileiras, distribuídas nas
regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste e Sul. No Norte nascem Rio Branco e Boa
Vista, decorrentes de movimentos econômicos que marcaram a região nesse século.
A primeira foi fruto da atividade extrativista, uma vez que teve como primeiro
núcleo populacional o Seringal Volta da Estrela, situado à margem direita do rio Acre. Além disso, foi um dos
primeiros povoados a surgir nas margens do rio Acre. Conta a história que, em
fins de 1882, numa pronunciada volta do rio Acre, uma frondosa árvore, a Gameleira,
chamou a atenção de exploradores que subiam o rio e levou-os a abrir novos
seringais ali mesmo.
Já a criação de Boa Vista foi
motivada pela pecuária. O municipío de Boa Vista formou o primeiro povoamento
caracteristicamente urbano da região do atual estado de Roraima. O Forte São
Joaquim, localizado a
Teresina foi a única capital do Nordeste despontada no século
XIX. Trata-se da única capital nordestina que não se localiza no litoral. A
origem da cidade está ligada ao rio Poti, que deu nome à Vila Nova do Poti,
depois denominada Teresina
Já Campo Grande, capital da região
Centro-Oeste, nasce com o nome de Arraial de Santo Antônio de Campo Grande, em
1877, por obra do mineiro José Antônio Pereira, e o distrito foi criado em
1889. Em 1977 foi sancionada a lei que criava o Estado de Mato Grosso do Sul e
elevava Campo Grande à condição capital do estado recém-criado. A capital
adquiriu nova feição, passando a apresentar um novo ciclo de progresso,
assinalado por maiores estímulos à sua expansão urbana, social, cultural e
política.
A fundação de Goiânia, por sua vez, decorreu da necessidade
de mudança da capital do Estado com vistas a melhor localizá-la, de acordo com
os interesses econômicos e sociais de todos os municípios goianos. A primeira
capital goiana, Vila Boa, tinha sido
escolhida, quando a Província era aurífera. Posteriormente, ficou demonstrado
que a criação do gado e a agricultura passaram a ser fatores preponderantes no
desenvolvimento do território. Assim, em 1932, foi nomeada uma comissão que,
sob a presidência de Dom Emanuel Gomes de Oliveira, então bispo de Goiás, tinha
a incumbência de escolher o local onde seria edificada a nova Capital do
Estado, sendo escolhida a localidade de Campinas, núcleo populacional existente
desde as primeiras décadas do século XIX, como Arraial de Campinas. Em 1853 foi
elevado à categoria de Freguesia e em
Fechando o ciclo de
capitais criadas no século XIX surge Porto Alegre, capital localizada às
margens do rio Guaíba, na região Sul do Brasil. Três sesmarias foram marcos
históricos da colonização da região, dentre elas, a de Jerônimo de Ornelas,
cuja carta de doação fora recebida em 1740. Esse ato representou
O século XX, por
seu turno, é contemplado com o surgimento de apenas 03 capitais: Porto Velho e
Palmas na região Norte e Brasília no Centro-Oeste[7].
A capital Porto
Velho está cravada numa região que durante séculos foi uma das mais
isoladas e desconhecidas do território brasileiro, ligada ao restante do país
por meio dos grandes rios. Duas
Essas digressões
históricas acerca da história social das capitais brasileiras que integram a
rede de pontos do Projeto ALiB dão mostras da dinâmica que motivou a criação
das capitais, movida pela política de governo instaurada nas diferentes fases
da história do Brasil. Na seqüência são tecidas considerações acerca da
nomenclatura geográfica dessas capitais.
3. Os
nomes das capitais brasileiras - algumas tendências
Examinando agora os
nomes das capitais brasileiras, sob a perspectiva da natureza lingüística dos
seus designativos, procuramos verificar em que proporção a nomenclatura
geográfica dessas capitais reflete o pensamento dominante no Brasil Colônia e
traduz tendências da toponímia do Brasil ainda hoje manifestas no sistema
onomástico brasileiro. Nesse particular não podemos desconsiderar o papel e a
força da igreja católica no período colonial. A forte influência das missões
jesuíticas no pensamento do homem da época reflete-se na nomenclatura
geográfica que registra uma significativa produtividade de nomes oriundos do
hagiolório católico. Observemos os dados. Originalmente 15 capitais têm nome de
base religiosa, predominando os formativos Nossa
Senhora e Maria (07 capitais): Santa Maria do Grão Pará > Santa Maria de Belém do Grão
Pará > Belém; Freguesia de Nossa Senhora do
Carmo do Rio Branco > Boa Vista do Rio Branco >
Boa Vista; Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção > Fortaleza; Nossa
Senhora da Luz dos Pinhais de Curitiba > Curitiba; Nossa Senhora do Desterro
> Florianópolis; Porto dos Casais > Nossa Senhora Madre de Deus de Porto
Alegre > Porto Alegre e Nossa Senhora das Neves > João Pessoa.
Na seqüência,
registra-se a presença de nomes geográficos que homenageiam santos perenes do
catolicismo: São José: Forte
de São José do Rio Negro > Manaus; Vila de
Na atualidade outro
quadro se afigura, uma vez que em sua grande maioria os nomes de natureza
religiosa foram substituídos e/ou omitidos para darem lugar a nomes de outras
categorias. Considerando o panorama atual da macrotoponímia das capitais
brasileiras, constatamos as seguintes características, em termos da natureza
dos designativos dos nomes geográficos: a) nomes
que remetem a sentimento religioso:
São Paulo, Salvador, Belém e Natal; b) nomes
descritivos do ambiente físico da flora
brasileira - Curitiba, Campo Grande, Cuiabá, Macapá; da fauna - Aracaju; de correntes
hídricas: Maceió, Rio de Janeiro, de formações
rochosas: Recife. Além disso, há uma
significativa produtividade de nomes que
homenageiam vultos históricos: João Pessoa, Rio Branco, Teresina, São Luís,
Florianópolis; nomes que traduzem estados
anímicos eufóricos do denominador frente ao referente nomeado: Boa Vista,
Vitória, Belo Horizonte; nomes que
remetem a grupos étnicos: Goiânia
e Manaus, e, nomes indicativos de locais de trabalho e pontos de encontro dos membros de uma
comunidade: Porto Alegre e Porto
Velho.
Olhando agora para
esses nomes geográficos sob a perspectiva da base lingüística dos elementos
formativos que lhe deu origem, constamos que 25,9% são de base indígena e 74,1%
de base portuguesa, o que reflete a tendência geral do léxico do português do
Brasil que incorporou um significativo acervo de palavras de base indígena.
Considerações
finais
Este trabalho
procurou focalizar a história social relacionada às capitais brasileiras que
integram a rede de pontos do Projeto ALiB, sua importância no conjunto do
processo de povoamento e desenvolvimento do Brasil e a natureza da nomenclatura
geográfica dessas capitais. Pelo que foi possível discutir no âmbito do espaço
deste trabalho, pôde-se perceber algumas faces do processo de povoamento do
Brasil e a sua conseqüente influência no surgimento das capitais. Já à guisa de
conclusão vale acrescentar as várias levas de migrações internas que operaram
no Brasil no século XX, na décadas de 1950-1970; 1970-1990; 1990 e 2000 que
provocaram um fluxo migratório intenso, sobretudo de nordestinos para o
Sudeste, Centro-Oeste e Norte, de paulistas e sulistas para o Centro-Oeste e
Norte e mais recentemente o retorno de nordestinos de São Paulo para a sua
terra de origem (SIMIELLI, 2006).
As características
iniciais do povoamento do Brasil somadas às migrações internas tão
características no território brasileiro determinam modos singulares de cultura
que se refletem na norma lingüística dos brasileiros que habitam os 26 estados
da Federação, cada um com formas próprias de ver o mundo e de representá-lo por
meio da linguagem. É justamente essa realidade lingüística tão peculiar ao
português do Brasil que, apesar da sua heterogeneidade garante a comunicação
entre os habitantes das diferentes regiões, que o projeto ALiB está
documentando.
Referências
____________Projeto
DICK,
M. V. de P. do A. Toponímia e
Antroponímia no Brasil. Coletânea de estudos. São Paulo: Serviço de Artes
Gráficas/FFLCH/USP, 1992.
ISQUERDO, A. N. Pontos de
inquéritos dos atlas lingüísticos no Brasil: tecendo e interligando as
redes. In: Actas del XIV Congreso Internacional ALFAL, 17 al 21 de octubre de 2005, Monterrey -
México. Publicado
MOUTON,
______________. Bases
PRADO
JÚNIOR, C. Formação do Brasil
contemporâneo. 23ª edição/9ª impressão: São Paulo: Brasiliense, 2006.
SILVA
SIMIELLI,
M. E. Geoatlas. São Paulo: Editora
Ática, 2006.
Sites
consultados:
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http://www.boavista.rr.gov.br/conheca.php Acesso:
07/07/2008.
PAINEL
OS CAMINHOS DO ALiB
UM
PASSEIO HISTÓRICO PELOS CAMINHOS DA GEOLINGÜÍSTICA NO BRASIL
Maria do Socorro Silva de
Aragão
(Universidade Federal da
Paraíba, UGC)
INTRODUÇÃO
O Brasil
Porém,
Outro fato a ressaltar é o surgimento de
A
Como
Os últimos Atlas elaborados, mas ainda não publicados, são o Atlas
Lingüístico do Ceará, o Atlas Lingüístico do Amazonas, tese defendida na UFRJ
em 2004, o Atlas Fonético do Entorno da Baia da Guanabara, dissertação
defendida na UFRJ em 2006, o Atlas Geolingüístico do Litoral Potiguar, tese
defendida na UFRJ em 2007, o Atlas Lingüístico do Paraná II, tese defendida na
UEL em 2004, o Atlas Lingüístico Rural do Município de Ponta-Porã - Mato Grosso
do Sul, dissertação defendida na UFMS em 2006, o Atlas Lingüístico da Ilha de
São Francisco do Sul - SC, tese defendida na UEL em 2008, o Atlas Lingüístico
da Ilha de Marajó, dissertação defendida na UFPA, [s.d.], Atlas Lingüístico de
Adrianópolis-PR, dissertação defendida na UEL, [s.d.] e o Atlas Lingüístico de
Ortigueira - PR, dissertação defendida na UEL, [s.d.].
Outros tantos Atlas estaduais encontram-se em fase avançada ou inicial de
elaboração, como o Atlas Lingüístico Sonoro do Estado do Rio de Janeiro, O
Atlas Lingüístico de São Paulo, o Atlas Lingüístico do Acre, o Atlas
Lingüístico do Mato Grosso, o Atlas Lingüístico do Espírito Santo, o Atlas
Geo-Sociolingüístico do Pará, o Atlas Lingüístico do Maranhão, o Atlas
Lingüístico do Rio Grande do Norte e o Atlas
Lingüístico do Piauí.
Outros Atlas em elaboração como teses ou dissertações são o Micro Atlas
Fonético do Estado do Rio de Janeiro, em preparação como tese, na UFRJ; o Atlas
Lingüístico do Oeste Potiguar, em realização como tese, na UFC; o Atlas
Lingüístico do Iguatu-CE, como dissertação, na UFC, o Atlas Lingüístico da Mata
Sul de Pernambuco como dissertação, na UFPB, o Atlas Lingüístico do Oeste
Paulista como dissertação na UEL, e o Esboço de um Atlas Lingüístico de Mato
Grosso: um registro da língua falada na mesorregião Sudeste, como dissertação, na
UFMS.
Assim, apesar dos pesares, o sonho de Antenor Nascente e Serafim da Silva
Neto vai aos poucos sendo realizado, prevendo-se sua completa realização com o
Atlas Lingüístico do Brasil, em fase inicial de elaboração.
1. RETROSPECTIVA
Os estudos dialetológicos, em sentido amplo, e a Geografia Lingüística,
em particular, não têm ainda tradição muito firmada no Brasil.
Apesar do esforço de um grupo de pioneiros, como os professores Serafim
da Silva Neto, Antenor Nascentes e Cândido Jucá Filho inicialmente e,
posteriormente, dos professores Sílvio Elia, Celso Ferreira da Cunha, Nelson
Rossi e Heinrich Bunse, poucos são os cursos de Dialetologia e Geografia
Lingüística em nossas universidades.
Como resultado dos cursos ministrados e da pregação do prof. Silva Neto,
o Centro de Pesquisas da Casa de Rui Barbosa, através de sua Comissão de
Filologia, propôs como um de seus objetivos a elaboração do Atlas Lingüístico
do Brasil. Para a consecução desse objetivo, e a convite da Casa de Rui
Barbosa, esteve no Rio, em 1954, o Professor Sever Pop, que ministrou um curso,
a partir do qual se esperava que surgissem pessoas interessadas em desenvolver
pesquisas dialetológicas, o que não ocorreu.
O professor Antenor Nascentes, outro dos precursores da Geografia
Lingüística no Brasil, publicou as “Bases para Elaboração do Atlas Lingüístico
do Brasil”, em duas partes. A primeira, em 1958 e a segunda, em 1961. Nesses
trabalhos, o autor apresenta diretrizes gerais para a escolha de
localidades, de informantes e para a elaboração do questionário lingüístico, e
propõe, muito claramente, a elaboração de atlas regionais.
Em 1957, os professores Serafim da Silva Neto e Celso Ferreira da Cunha,
no III Colóquio Internacional de Estudos Luso-Brasileiros, em Lisboa,
apresentaram a idéia de um Atlas Lingüístico-Etnográfico do Brasil, por
regiões, tarefa que agora começa a ser cumprida, com a pesquisa do Atlas
Lingüístico do Brasil - AliB.
Por não termos, em
nosso país, dados técnicos confiáveis definindo as características da língua
portuguesa falada em todo o território nacional, a realização do Atlas
Lingüístico do Brasil é tarefa importante e urgente.
Os estudos
dialetais realizados no passado, analisando, principalmente, as diferenças
lexicais, e os estudos de natureza monográfica, abrangendo uma determinada
área, a exemplo dos trabalhos de Amadeu Amaral, Antenor Nascentes e Mário
Marroquim, entre outros, têm o caráter introdutório ou exploratório das
características específicas dessas áreas e regiões estudadas. Apesar da
importância desses trabalhos, eles não abrangem todas as áreas dialetais do
país sendo necessária, assim, uma descrição mais ampla e sistemática, cobrindo
todo o território nacional, a fim de que se tenha uma visão de conjunto da
realidade lingüística do País.
Mário Marroquim, em
seu trabalho, já dizia que o estudo do dialeto brasileiro ainda não tinha sido
feito, afirmação que nos parece, em pleno século vinte e um, estar
perfeitamente atualizada. Diz ele:
Não está ainda
feito o estudo do dialeto brasileiro. A enorme extensão geográfica em que o
português é falado no Brasil dá a cada região peculiaridade e modismos
desconhecidos nas outras, e exige, antes da obra integral que fixe e defina
nossa diferenciação dialetal, trabalhos parcelados, feitos com critério e
honestidade, sobre cada zona do país.[9]
Portanto, o primeiro movimento para a elaboração de um atlas
lingüístico do Brasil começou com trabalhos monográficos isolados tendo se
iniciado oficialmente em 1952, quando, através do Decreto no.
30.643, Art. 3o. de 20 de março, determina-se como principal
finalidade da Comissão de Filologia da Casa de Rui Barbosa a elaboração do atlas lingüístico do Brasil.
O Decreto foi regulamentado pela Portaria nº. 536, de 26 de maio do mesmo ano,
a qual dá instruções quanto à execução do decreto de criação do Centro de
Pesquisas Casa de Rui Barbosa e estabelece como finalidade principal, entre as
pesquisas a serem planejadas, a própria elaboração do atlas lingüístico do
Brasil.[10]
A esse respeito diz
Cardoso, em sua justificativa ao Projeto Atlas Lingüístico do Brasil, que, a
partir dessas dificuldades é possível, tendo-se conhecimento delas, partirmos
para a elaboração do Atlas Lingüístico do Brasil na atualidade, seguindo as
prioridades das tarefas urgentes já apontadas por Serafim da Silva Neto.
Silva Neto diz
ainda que o atlas nacional deve ser
precedido de atlas regionais e de estudos monográficos, além das sondagens preliminares, comentando logo a seguir (1957: 11- 12)
que “A ele [isto é, ao atlas nacional] havemos de chegar, mas temos de partir
do começo, se o quisermos realizar com segurança”. O autor define como passos iniciais e fundamentais para a
realização do Atlas Nacional: estudos preliminares que devem envolver não só
sondagens experimentais, com a aplicação de questionários, como também estudos
de natureza sócio-econômico-histórica sobre a região a ser abordada; a
elaboração de trabalhos de cunho monográfico, explorando, assim, aspectos da
realidade que será amplamente investigada; e finalmente os atlas regionais que
deverão conduzir ao atlas nacional.
2. OS
ATLAS LINGÜÍSTICOS REGIONAIS BRASILEIROS
2.1. ATLAS PUBLICADOS
2.1.1. Atlas Prévio dos Falares Baianos
O Atlas Prévio dos Falares Baianos se constitui em um marco nos
estudos da Geografia Lingüística no Brasil não só por ter sido o primeiro
trabalho a ser publicado, mas por sua fundamental importância para o
conhecimento do falar regional da Bahia e, por extensão, de grande parte do
falar nordestino.
Publicado em 1963, constitui-se de dois volumes: o primeiro,
compreendendo as cartas, em folhas soltas, e o segundo, encadernado, com a
introdução, questionário comentado e elenco das respostas transcritas.
A metodologia está assim organizada: 50 localidades, cobrindo todo o
estado da Bahia; 99 informantes de faixa etária entre
2.1.2.
Esboço de um Atlas Lingüístico de Minas Gerais
O segundo Atlas Lingüístico publicado no Brasil é o de Minas Gerais,
resultado do trabalho de um grupo de professores do Departamento de Letras da
Universidade Federal de Juiz de Fora, Minas Gerais: José Ribeiro, Mário Roberto
Lobuglio Zágari, José Passini e Antonio Pereira Gaio.
A metodologia para a realização do ALMG foi a seguinte: 116 localidades,
cobrindo todo o estado de Minas Gerais; 83 informantes de faixa etária entre 30
e 50 anos; de nível de instrução entre analfabeto a primário completo; sexo:
masculino e feminino. O questionário constou de 415 questões, abrangendo os
campos semânticos a terra e folguedos infantis. As cartas, em número de 78, são
05 de identificação, 21 léxicas, 24 fonéticas, 03 isófonas e 25 cartas
isoléxicas. Os termos vêm com símbolos e legendas. Na parte extrema esquerda
das cartas constam os vocábulos de freqüência mínima e na direita, os vocábulos
de alta freqüência, ficando no interior do mapa apenas os símbolos, círculos e
triângulos cheios e vazios.
2.1.3.
Atlas Lingüístico da Paraíba
O terceiro Atlas Lingüístico publicado no Brasil é o da Paraíba,
resultado do trabalho de uma equipe de professores do Departamento de Letras
Clássicas e Vernáculas da Universidade Federal da Paraíba, sob a coordenação
das Profas. Maria do Socorro Silva de Aragão e Cleusa Palmeira Bezerra de
Menezes. O Atlas compreende três volumes, dos quais dois já publicados.
A pesquisa se estruturou do seguinte modo: 25 municípios base e 75
municípios satélite, cobrindo todo o Estado; 107 informantes da faixa etária
entre
O primeiro volume do Atlas é composto de cartas léxicas e cartas
fonéticas, intercaladas. Assim, por exemplo, a carta léxica nº. 030 da pergunta
29, arco-íris, é seguida pelas cartas
fonéticas nºs. 031, 032 e 033, correspondentes às variantes fonéticas de arco-íris, arco-celeste e olho-de-boi.
O segundo volume traz uma descrição detalhada da metodologia utilizada,
os dados histórico-geográficos, geo-econômicos e sócio-culturais das
localidades, a ficha dos informantes, os informantes por localidade, e a
análise das formas e estruturas lingüísticas encontradas sob os aspectos
fonético-fonológicos e morfossintáticos.
O Atlas apresenta, ainda, um glossário, com 363 verbetes dicionarizados
em sentido diferente do uso geral ou não dicionarizados.
2.1.4.
Atlas Lingüístico de Sergipe
O Atlas Lingüístico de Sergipe foi elaborado pelos pesquisadores
Carlota Ferreira, Jacyra Mota, Judith Freitas, Nadja Andrade, Nelson Rossi,
Suzana Cardoso e Vera Rollemberg, alguns dos quais fizeram parte da equipe
responsável pelo Atlas Prévio dos Falares Baianos. O material, pronto
desde 1973, por uma série de problemas, inclusive financeiros, somente foi
publicado em 1987.
A pesquisa foi assim estruturada: 15 localidades, cobrindo todo o Estado;
30 informantes; faixa etária:
Foram elaboradas 180 cartas, sendo 11 introdutórias e 169 cartas léxicas com
transcrição pormenorizada e numerosos dados etnográficos, tendo em vista a
quantidade de notas que acompanham as cartas. Em cada carta há a remissão à
carta correspondente no Atlas Prévio dos Falares Baianos. Há no ALS, ainda, uma série de cartas conjuntas
Bahia-Sergipe, com dados da Bahia, não apresentados no APFB.
2.1.5. Atlas Lingüístico do Paraná
O Atlas Lingüístico do Paraná é um trabalho da Professora Vanderci
de Andrade Aguilera, da Universidade Estadual de Londrina, Paraná, apresentado
inicialmente como Tese de Doutorado e posteriormente publicado pelo Governo do
Paraná e Universidade Estadual de Londrina. Compreende dois volumes: um com a
Apresentação e o outro com as Cartas.
A pesquisa foi estruturada do seguinte modo: 65 localidades, cobrindo
todo o Estado; 130 informantes; faixa etária:
O Atlas contém os seguintes tipos de cartas: cartas de identificação -
06; cartas léxicas - 92; cartas fonéticas - 70; cartas isoléxicas - 19; cartas
isófonas - 10; cartas anexas com a distribuição geográfica do povoamento do
Paraná, do século XVII a XX - 06. No verso de cada carta há notas explicativas
e de análise do material coletado.
2.1.6.
Atlas Lingüístico-Etnográfico da Região Sul do Brasil - ALERS
O Atlas Lingüístico-Etnográfico da
Região Sul, resultado de um projeto coordenado pelo Professor Walter Koch,
envolve os três Estados do Sul do país: Rio Grande do Sul, Santa Catarina e
Paraná e foi realizado com equipes locais em cada Estado. Foi iniciado em 1980 e
teve seus dois primeiros volumes publicados em 2002. O volume 1 compreende a
Introdução e o volume 2 contém as Cartas Fonéticas e Morfossintáticas.
A pesquisa foi assim estruturada: Localidades: área rural - 275 pontos:
100 no Paraná, 80 em Santa Catarina e 95 no Rio Grande do Sul; área urbana - 19
pontos: 6 no Paraná, 6 em Santa Catarina e 7 no Rio Grande do Sul. Informantes:
dois por cada ponto das zonas rurais e seis por cada ponto das zonas urbanas;
sexo: masculino e feminino; faixa etária:
O Questionário: 735 questões de caráter geral, subdivididas em mil itens, das
quais algumas coincidem com os outros atlas
já publicados, complementadas por
questionário específico em cada estado; O questionário Semântico Lexical
contém oitocentas questões, cobrindo os campos semânticos: acidentes
geográficos, fenômenos atmosféricos, astros e tempo, sistema de pesos e
medidas, flora, atividades agro-pastoris, fauna, corpo humano, cultura e
convívio, ciclos da vida, religião e crenças, festas e divertimentos,
habitação, alimentação e cozinha, vestuário; O questionário Morfossintático,
com 75 perguntas, inclui gênero, pluralização, flexão verbal, concordância
nominal e verbal, grau de adjetivo e formas de tratamento; O Fonético -
Fonológico conta com 26 questões de caráter geral e 24 específicas para as
regiões de colonização não portuguesa.
O Atlas contém um
total de 176 cartas, sendo 70 de fonética e fonologia, 104 de morfossintaxe e
duas cartas auxiliares (microrregiões homogêneas e rede de pontos). Após cada
conjunto de cartas vêm apêndices de itens sem carta, com o item, o número de
ordem, o símbolo, a variante, a freqüência e o ponto onde ocorreu.
2.1.7. Atlas Lingüístico de Sergipe II
O Atlas Lingüístico de Sergipe II foi elaborado, inicialmente, como tese
da Professora Suzana Alice Cardoso, defendida no final de 2002, na Universidade
Federal do Rio de Janeiro, e publicado pela UFBA.
A pesquisa foi assim estruturada: 15 localidades, cobrindo todo o Estado
de Sergipe. As localidades são as mesmas do Atlas Lingüístico de Sergipe I com
um recorte para o campo semântico homem. 30 informantes; faixa etária:
O Atlas compõe-se de dois volumes, com três tomos e um CD, com amostras
dos questionários aplicados a 15 informantes. O Volume I contém uma introdução,
o tema numa perspectiva histórica, uma fundamentação teórica, a metodologia e
uma bibliografia. O Volume II contém dois tomos, sendo o primeiro dedicado à
introdução das cartas, com os inquéritos, o questionário da área semântica homem,
os critérios de apresentação das cartas, referências bibliográficas, índice de
formas transcritas e índice onomasiológico. O segundo tomo do Volume II é
dedicado às cartas, em número de 108, das quais, três são de identificação. As
cartas semântico-lexicais são compostas com legendas coloridas e marcas
diferenciadoras da realização masculina e feminina. Na parte inferior direita
há histogramas com percentuais de ocorrência masculina e feminina. No verso
estão as variantes fonéticas dos itens lexicais, seguidas de notas e
comentários.
2.1.8.
Atlas Geo-Sociolingüístico do Pará - ALISPA
Este Atlas é o resultado de um projeto do Professor Abdelhak Razky, da
Universidade Federal do Pará, e parte do Atlas Geo-Sociolingüístico do Pará,
que se encontra em fase avançada de realização.
A pesquisa foi assim estruturada: 10 localidades pertencentes às seis
Mesorregiões do Estado do Pará; 40 informantes; faixas etárias:
O Atlas é o
primeiro Atlas sonoro do Brasil e utiliza o software
PRAAT 4.0, de Paul Boresma e Paul Wenink.
Contém 600 cartas
lingüísticas e o Menu apresenta os seguintes itens: a) Entrevistas; b)
Informantes; c) Realização; d) Análise Acústica; e) Palavras. Através desses
itens pode-se buscar as cartas por localidades, por informantes, por faixas
etárias, por sexo, podendo-se ouvir as realizações fonéticas produzidas pelos
informantes, para cada item do questionário, além da possibilidade de uma busca
automática da variação fonética, em certos contextos, e sua relação com os
fatores sociolingüísticos. Pode-se, também, ouvir as entrevistas integrais dos
40 informantes.
2.1.9.
Atlas Lingüístico do Mato Grosso do Sul
Este Atlas foi
elaborado sob a organização do Prof. Dr. Derci Pedro Oliveira, da Universidade
Federal do Mato Grosso do Sul. Está assim organizado:
A Rede de
Pontos é constituída por 32 localidades, distribuídas por cinco setores,
cujos municípios principais são Três Lagoas, Corumbá, Aquidauana, Campo Grande
e Dourados. A escolha das localidades teve por base aspectos demográficos,
históricos e sociais do Estado.
Os informantes são
em número de 128, sendo sessenta e quatro homens e sessenta e quatro mulheres,
nas faixas etárias de
O questionário contém 557 perguntas, subdivididas entre o questionário
fonético e léxico-semântico. O aspecto morfossintático foi estudado a partir das
narrativas feitas pelos informantes, sobre fatos que tenham marcado suas vidas.
Os campos semânticos das questões são: acidentes geográficos; fenômenos
atmosféricos; tempo; flora; fauna; corpo humano; doenças mais comuns; funções
do corpo humano; características físicas; ciclos da vida; religiões e crenças;
vestuários e objetos de uso pessoal; brinquedos e diversões; sistema de pesos e
medidas superstições, simpatias e lendas.
As cartas
lingüísticas foram elaboradas por meio do programa computacional SPDGL (Sistema
de Processamento de Dados Geolingüísticos), e, posteriormente, editadas em
programa de computação gráfica. As cartas são do tipo: Cartas Fonéticas; Cartas
Semântico-lexicais; Cartas Morfossintáticas.
2.2.
ATLAS CONCLUÍDOS
2.2.1. Atlas Lingüístico do Amazonas
O Atlas Lingüístico do Amazonas é resultado da tese de Maria
Luíza de Carvalho Cruz, defendida em 2004, na UFRJ, estando ainda inédito.
A pesquisa foi assim estruturada: 09 localidades, cobrindo todo o Estado
e distribuídas
pelas diferentes microrregiões do Estado.
54 informantes; faixa etária:
O Atlas está organizado em dois volumes. No primeiro, estão a
Apresentação, Introdução e Fundamentação teórico-metodológica. O segundo, contém as
cartas, que são do seguinte tipo: 107
cartas fonéticas, com notas e comentários explicativos, além de gráficos com os
percentuais de ocorrência dos fatos analisados, e 150 cartas
semântico-lexicais, também comentadas e algumas delas com ilustrações. No final
do primeiro volume há uma bibliografia.
2.2.2. Atlas Lingüístico do Ceará
O
A pesquisa foi assim estruturada: 69
Foram elaboradas 223
2.2.3. Atlas Geolingüístico do Litoral Potiguar
O
Localidades: 05
Informantes: 24 nas faixas etárias de
Questionários: foram utilizados os questionários do ALiB:
Semântico-lexical; Fonético-Fonológico; Morfossintático.
O
2.2.4.
Atlas Fonético do Entorno da Bahia de Guanabara
O Atlas Fonético do
Entorno da Bahia de Guanabara é resultado de uma Dissertação de Luciana Gomes
de Lima, defendida
Localidades: 04
Informantes: 24 nas faixas etárias de
Questionários: foram utilizadas 160 questões.
O
2.2.5. Atlas lingüístico do município de Ponta-Porã-MS: um
registro das línguas em contato na fronteira do Brasil com o Paraguai.
O Atlas lingüístico do
município de Ponta-Porã-MS: um registro das línguas em contato na fronteira do
Brasil com o Paraguai é o resultado da dissertação de Regiane Coelho Pereira Reis,
na UFMS, em 2006.
2.2.6.
Atlas Lingüístico do Paraná II
O
Atlas Lingüístico do Paraná II é o resultado da tese de Fabiane Cristina
Altino, defendida em 2007 na UEL. A autora estabeleceu o duplo propósito de (i)
mapear os dados relativos às XXX questões não aproveitadas por Aguilera (1994)
e (ii) fazer um estudo dialectométrico das variantes paranaenses, envolvendo
ambos os atlas. O ALPR II conta com cartas de natureza lexical e inova, em
relação ao anterior, na apresentação dos mapas que incluem os acidentes
geográficos (rios e rodovias), gráficos de freqüência e distinção entre a fala
feminina e a masculina.
2.2.7.
Atlas Lingüístico da de São Francisco do Sul-SC
O Atlas Lingüístico
de São Francisco do Sul – SC é o resultado da tese de Tânia Maria Braga
Guimarães, defendida em 2008, na UEL e teve como objetivos: (i) elaborar um
atlas lingüístico de São Francisco do Sul; (ii) descrever aspectos
fonético-fonológicos e semântico-lexicais caracterizadores do falar
francisquense; (iii) fazer um levantamento das semelhanças e diferenças
lingüísticas com base no fator diatópico, isto é, em relação à rede de pontos
lingüísticos; (iv) verificar em que medida as variáveis sexo e faixa etária
podem justificar a ocorrência de variantes e (v) comparar os dados do ALSFS com
os apresentados em cartas fonéticas do ALERS I. Contém 9 pontos com trinta e
seis informantes, selecionados com base nas variáveis sexo e faixa etária,
todos no nível fundamental de escolaridade. São 53 cartas fonético-fonológicas
e 42 semântico-lexicais.
2.3. ATLAS EM REALIZAÇÃO
Alguns dos Projetos
de Atlas estaduais já estavam em desenvolvimento anteriormente ao ALiB, como é
o caso do Atlas Lingüístico de São Paulo, do Atlas Lingüístico do Acre e do
Atlas Etnolingüístico dos Pescadores do Estado do Rio de Janeiro, que não foram
concluídos. Outros se iniciaram depois do Projeto AliB, que, sem dúvida, deu
uma nova vida aos estudos dialetais e geolingüísticos em nosso país.
2.3.1.
Atlas Lingüístico do Estado de São Paulo
O projeto de realização do Atlas Lingüístico de São Paulo surgiu em 1980
durante o curso de Introdução à Dialetologia, ministrado pelo Prof. Dr. Pedro
Caruso, no Curso de Pós-Graduação em Letras do Departamento de Lingüística do
Instituto de Letras, História e Psicologia da Universidade Estadual Paulista, Campus de Assis, São Paulo.
A pesquisa está em desenvolvimento, com um novo grupo de professores,
liderados pela Profa. Dra. Vanderci Santana.
2.3.2.
Atlas Lingüístico do Acre
Projeto original de Professores da Universidade Federal do Acre,
coordenado pela Profa. Dra. Luíza Galvão Lessa, desenvolveu uma série de
atividades, tendo publicado muitos estudos, especialmente do léxico daquela
região. A equipe inicial se desfez e agora um novo grupo, liderado pelas
Professoras Dras. Maria do Socorro Silva de Aragão e Lindinalva Messias Chagas
está dando início a um novo projeto, dentro dos métodos e técnicas empregados
pelo projeto AliB.
2.3.3.
Atlas Lingüístico do Maranhão
O Atlas Lingüístico do Maranhão - ALIMA, coordenado pela Profa. Dra.
Conceição de Maria de Araújo Ramos, está em sua fase inicial de realização,
seguindo os parâmetros teórico-metodológicos do projeto AliB.
2.3.4.
Atlas Lingüístico do Rio Grande do Norte
O Atlas Lingüístico do Rio Grande do Norte - ALIRN, coordenado pela
Profa. Dra. Maria das Neves Pereira, está em sua fase inicial de realização,
seguindo os parâmetros teórico-metodológicos do projeto AliB.
2.3.5.
Atlas Lingüístico do Mato Grosso
O Atlas Lingüístico do Estado do Mato Grosso - ALiMAT, coordenado por uma
equipe do Prof. Dr. Derci Oliveira, está em sua fase inicial de realização,
seguindo os parâmetros teórico-metodológicos do Projeto AliB..
2.3.6.
Atlas Lingüístico do Espírito Santo
O Atlas Lingüístico do Estado do Espírito Santo - ALES, coordenado pela
Profa. Dra. Catarina Vaz Rodrigues, está em fase adiantada de realização, já
tendo sido feita a pesquisa de campo, estando em inicio a elaboração das
cartas.
2.3.7.
Atlas Lingüístico do Piauí
O Atlas Lingüístico do Estado do Piauí – AliPI,
coordenado pelos Professores Dra. Maria do Socorro Silva de Aragão e Luiz Egito
de Souza, está em fase inicial de implantação, seguindo os parâmetros
teórico-metodológicos do Projeto AliB.
2.3.8.
Atlas Lingüístico do Oeste Potiguar
O Atlas Lingüístico
do Oeste Potiguar é o projeto de tese de Moisés Batista da Silva na
Universidade Federal do Ceará, sob a orientação da Profa. Dra. Maria do Socorro
Silva de Aragão, em fase inicial de elaboração.
2.3.9.
Atlas Lingüístico do Iguatu
O Atlas Lingüístico
do Iguatu é o projeto de dissertação de Fabiana dos Santos Lima, na
Universidade Federal do Ceará, sob a orientação da Profa. Dra. Maria do Socorro
Silva de Aragão, em fase inicial de elaboração.
2.3.10.
Atlas Lingüístico da Mata Sul de Pernambuco
O Atlas Lingüístico
da Mata Sul de Pernambuco e o projeto de dissertação de Edilene Almeida na
Universidade Federal da Paraíba, sob a orientação da Profa. Dra. Maria do
Socorro Silva de Aragão, em fase inicial de elaboração.
2.3.11.
Micro-Atlas Fonético do Estado do Rio de Janeiro
O Micro-Atlas
Fonético do Estado do Rio de Janeiro é o projeto de tese de Fabiana da Silva
Campos Almeida na UFRJ, em fase adiantada de elaboração.
2.3.12.
Atlas Lingüístico do Oeste de São Paulo
O Atlas Lingüístico
do Oeste de São Paulo é o projeto de dissertação de Ariane Cardoso dos Santos
na UEL, em fase de elaboração.
Cada
Apesar do número de Atlas publicados, concluídos ou em elaboração,
permanecem
Tal
O
3. O
ATLAS LINGÜÍSTICO DO BRASIL
A Geolingüística brasileira,
após a realização de todos estes atlas, tem agora as condições técnicas para a
realização de sua tarefa mais importante que é a elaboração do atlas
lingüístico do Brasil.
As condições
históricas, geográficas, políticas e sócio-econômico-culturais do país,
atualmente, são bastante diferentes daquelas da década de 1950, quando os
pioneiros da Geolingüística pretendiam iniciar a tarefa para a elaboração do
Atlas Lingüístico do Brasil.
Os limites
políticos, geográficos, históricos, e sócio-econômico-culturais desapareceram
por conta da ampliação e facilidade de comunicação e a conseqüente globalização
das informações transmitidas pelo rádio, a televisão e
pela internet; as facilidades dos meios de transporte tornaram o universo uma
“aldeia global”, fazendo do cidadão um homem sem fronteiras, pondo em contato
diuturnamente populações, costumes e usos lingüísticos diferenciados.
A situação
brasileira, como uma sociedade multilingüística, multissocial e multicultural
exige um maior conhecimento de sua realidade lingüística a fim de oferecer
subsídios para um ensino da língua portuguesa que leve em conta essa realidade
do país. A Dialetologia brasileira, neste início de milênio, tem as condições
técnicas para a realização dessa tarefa, através da realização do atlas
lingüístico do Brasil.
Segundo Suzana
Alice Cardoso, Diretora e Presidente do Comitê Nacional do Projeto AliB, na
apresentação do projeto:
O Atlas
Lingüístico do Brasil, ao tempo em que prioriza a identificação espacial dos
fenômenos, se propõe não só manter sob controle certas variáveis sociais dos
informantes, como também fornecer comentários e estudos interpretativos que
acompanharão as cartas e, ainda, tentar estabelecer, via Internet, um sistema
de consulta à distância que faculte ao leitor o conhecimento de formas ou usos
linguageiros e também lhe dê a possibilidade de ouvir, de viva voz, as
realizações daquela área cartografada e selecionada para audição. Do ponto de
vista da orientação teórica, pretende ser o ALiB um atlas de terceira geração,
reunindo, assim, às informações lingüísticas cartografadas, estudos e
comentários às cartas e oferecendo as facilidades de acesso aos dados vivos por
meio do que os franceses identificam como um atlas informatisé et parlant.[13]
O Comitê Nacional foi criado no final de 1996 com o objetivo de elaborar
o Projeto e conduzir a realização da pesquisa para o Atlas Lingüístico do
Brasil. Esse Comitê é constituído por seis professores e pesquisadores de
Universidades brasileiras, sob a coordenação da professora Suzana Alice Cardoso
e Jacyra Mota, da Universidade Federal da Bahia, Maria do Socorro Silva de
Aragão, da Universidade Federal do Ceará, Vanderci de Andrade Aguilera, da
Universidade Estadual de Londrina, Mário Roberto Zágari, da Universidade
Federal de Juiz de Fora, Cléo Altenhofen, da Universidade Federal do Rio Grande
do Sul, Abdelhak Razky da Universidade Federal do Pará e Aparecida Negri
Isquerdo da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Cada membro do Comitê é
Diretor Científico e responsável por determinadas áreas, e em cada Estado há
uma coordenação e uma equipe local.
O Comitê vem se reunindo sistematicamente, para traçar as diretrizes,
métodos e técnicas a serem utilizadas, e para o treinamento dos pesquisadores.
Para isso, estão sendo realizados workshops e reuniões de trabalhos do Comitê
Nacional, em diferentes cidades do país.
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
Pelo que se pode observar, a partir da rápida análise acima realizada,
num país como o Brasil, com 26 Estados e o Distrito Federal, é muito pouco o
que foi realizado ou está sendo realizado, no que concerne à Geografia
Lingüística.
Contudo, complementando esses atlas, teses, dissertações, trabalhos
monográficos e apresentações em Congressos nacionais e internacionais,
analisando os mais diferentes aspectos da língua portuguesa no Brasil, com
enfoque dialetal e sociolingüísticos, têm surgido com grande freqüência no
momento atual.
Assim, a realização das pesquisas para a elaboração do Atlas Lingüístico
do Brasil, será, sem qualquer dúvida, um marco na história dos estudos
dialetais e geolingüísticos no Brasil. A concretização de tal empreitada pode
ser assegurada por fatores de dois tipos:
Ø Infra-estrutura e vontade política
·
O país oferece as condições de transporte
e infra-estrutura para que se possa cruzá-lo de norte a sul e de leste a oeste;
·
Há a vontade política das
universidades para apoiar tal tipo de pesquisa;
·
Os diversos segmentos das áreas de
Letras e Lingüística do país estão convencidos da importância e da necessidade
da realização da pesquisa.
Ø Condições técnicas
·
Há, em diferentes universidades
brasileiras, pessoas competentes e dispostas a realizarem o trabalho para a
elaboração do Atlas Lingüístico;
·
Há bibliografia com trabalhos
teóricos e práticos de Dialetologia e Geolingüística, não apenas estrangeira,
mas, acima de tudo, nacional que podem fornecer o apoio documental de que se
necessita;
·
O país já conta com um sistema
de computação e informação via internet, que permite a realização de um Atlas
de terceira geração, como pretende ser o AliB.
Apesar de
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PAINEL
OS CAMINHOS DO ALiB
A
DOCUMENTAÇÃO DOS DADOS NO PROJETO ALIB: PRIMEIROS RESULTADOS
Vanderci de Andrade Aguilera
(Universidade Estadual de
Londrina/CNPq/Brasil)
Introdução
O Projeto do Atlas
Lingüístico do Brasil - ALiB - depois de percorrer uma extensa caminhada, ao
longo de dez anos, para: (i) definir e articular a equipe; (ii) escolher e
sedimentar a metodologia e os procedimentos metodológicos; (iii) buscar
incansavelmente meios de financiamento para as diversas etapas; (iv) preparar
os pesquisadores de campo e acompanhar o desempenho deles; (iv) discutir e
definir as formas de transcrição e de armazenamento dos dados, começa a se
preparar para colocar à luz os primeiros resultados.
Concluídos os
trabalhos nas vinte e cinco capitais, o Comitê Nacional está atuando em três
frentes: duas delas com vistas à publicação dos primeiros volumes do atlas,
iniciando com as cartas de natureza fonética e à das análises das Questões
Metalingüísticas. A terceira diz respeito à preparação de cartas lexicais em
caráter experimental. Sobre estes três tópicos, pois, desenvolvemos nosso
texto, iniciando pelas considerações acerca das cartas fonéticas.
1. Preparação
das cartas fonéticas
As equipes
regionais, nesta etapa da pesquisa, dedicam-se à análise dos fatos fônicos mais
salientes, capazes de definir áreas dialetais ou limites de isoglossas. Depois de
definido o quadro de símbolos a ser adotado, os trabalhos foram distribuídos
entre os diretores científicos e se referem a: (i) vogais pretônicas (Cardoso e
Zágari); (ii) /S/ em coda silábica (Mota);
(iii) /l/ em coda silábica (Margotti); (iv) consoantes palatais laterais e
nasais (Razky et alii); (v) róticos
(Aguilera); (vi) /t, d/ em contextos de palatais (seguido de /i/ ou precedido
de /j/) (Mota); (vii) iotização do –nh- e do –lh- (Mota); (viii)
vogais finais (Isquerdo); (ix) vogais postônicas não finais (Aragão e Araújo);
(x) ditongação em sílaba terminada por sibilante (Altenhofen e Mota); (xi)
monotongação (Zágari e Razky) e (xii) diferenças prosódicas das assertivas
(Cunha).
Neste particular,
algumas cartas experimentais foram elaboradas e apresentadas no III Workshop do
ALiB (UFBA: 2008), quando discutimos a distribuição das variantes de prateleira, que responde à questão 033,
dos Questionários do ALiB (2001) e verificamos que, nos casos de metátese, o
nível fundamental de escolaridade é mais favorável à ocorrência de contextos
com o rótico em coda silábica (20%). As regiões Norte e Nordeste mostram-se
menos suscetíveis à metátese e, quando isto ocorre, predomina o /r/ glotal. Na
região Centro-Oeste, o rótico em coda é preenchido pelo retroflexo em Campo
Grande e pelo glotal em Goiânia. Já na região Sudeste coocorrem ambas as
variantes (com e sem metátese) e, no caso de transposição do rótico, predomina
o glotal em Vitória e Belo Horizonte e o tepe em São Paulo. Na região Sul, a
metátese ocorre em Curitiba (com tepe e retroflexo) e em Florianópolis com o
velar. Quando a variável escolaridade é preenchida por falantes de nível
superior, a ocorrência de metátese é menos produtiva (6%), registrada apenas na
região Nordeste (4%), com o glotal, e na região Centro-Oeste e Sudeste, com o
retroflexo (2%).
Outro estudo
preliminar, sobre os róticos em coda silábica interna, com base nos registros
de gordura, resposta da questão 22 do
QFF, permitiu verificar, na fala dos informantes do nível fundamental, a hegemonia
do glotal em todas as capitais das regiões Norte, Nordeste e, na região
Sudeste, entre os falantes de Belo Horizonte e Vitória. A variante velar é mais
produtiva em Florianópolis, na região Sul enquanto o retroflexo é mais
freqüente no Centro-Oeste (Cuiabá, Goiânia, Campo Grande), e em Curitiba,
região Sul, onde ambas concorrem com o tepe. Em Porto Alegre, no entanto,
predomina absoluto o tepe. Quando a variável escolaridade seleciona o nível
superior, os resultados praticamente não variam: as regiões Norte, Nordeste e
Belo Horizonte e Vitória, na região Sudeste, continuam privilegiando a glotal.
A velar permanece em Florianópolis e o tepe em São Paulo e Curitiba. A região
Centro-Oeste não elege uma única variante, oscilando entre retroflexa, tepe e velar.
Um terceiro estudo,
embora preliminar, sobre o comportamento da proparoxítona em abóbora questão 031 do QFF, mostra que,
quando a variável escolaridade seleciona o nível fundamental, a variante paroxítona,
com a síncope da pós-tônica, se distribui por todas as capitais com um índice
de 22%, mas cai para 9% entre os informantes de nível superior. Esses três
estudos foram feitos em caráter experimental para serem aprofundados até a
publicação das cartas fonéticas do ALiB.
2. Questões
Metalingüísticas
Neste segundo
tópico, tratamos da pesquisa sobre as seis Questões metalingüísticas dos
Questionários ALiB 2001 que foram tema de meu estágio doutoral realizado na
Universidad de Alcalá - Espanha, sob a orientação do Dr. Francisco Moreno
Fernández, e foram discutidas em três artigos. O primeiro diz respeito às
respostas para a pergunta n° 1: Que língua você fala? feita para os 200
informantes das vinte e cinco capitais. Sobre esta questão, Aguilera (2008)
conclui:
“Analisados os
depoimentos de 200 informantes, moradores de 25 capitais brasileiras, relativos
às Questões Metalingüísticas constantes dos Questionários do Atlas Lingüístico
do Brasil e, particularmente, que dizem respeito à Questão 1, verificamos que a
grande maioria (92%) acredita falar o português ou a língua portuguesa. Outras
manifestações minoritárias (o falar brasileiro, o cuiabano, o nativo) eram
corrigidas na reformulação da pergunta em favor da crença majoritária”.
Ainda sobre estas
respostas, verificamos que “a faixa etária é definidora da incerteza e da
vacilação no momento de o informante expor sua crença sobre a língua que fala:
os mais idosos demonstram essa oscilação com muito mais ênfase que os da faixa
I, entre 18 e 30 anos. No entanto, pode-se concluir que a faixa etária não atua
sozinha, pois está associada ao nível de escolarização. O pouco tempo de
permanência na escola ou o fato de ter se distanciado dela por muitos anos,
podem ter colaborado para essa vacilação na hora de denominar a língua que
fala. As mulheres, por sua vez, demonstraram menos oscilação que os homens,
independentemente do nível de escolaridade. Relativamente à origem do
informante, os naturais das regiões Norte e Nordeste demonstraram uma tendência
maior à incerteza sobre a crença de falar o português. Essa tendência pode,
também, estar associada à variável nível de escolaridade”.
O segundo artigo
foi apresentado no Seminário do Grupo de Estudos Lingüísticos do Estado de São
Paulo, Aguilera (2007), sob o título: Crenças e atitudes lingüísticas: o que
dizem os falantes das capitais brasileiras. Sobre o tema a autora tece as
seguintes considerações:
“As questões 2 e 3
- Você sabe se aqui nesta cidade há
pessoas que falam diferente e se poderia dar exemplo desses prováveis falares
diferentes - ensejaram as mais diversas manifestações que foram analisadas
à luz de variáveis extralingüísticas, como faixa etária, nível de escolaridade,
sexo e região de origem.
As informações
obtidas sobre o sistema de crenças a propósito da fala de outros brasileiros
permitiram verificar que tipo de atitudes positivas ou negativas procede de
tais crenças. Os dados informaram sobre a existência de numerosos fatos
lingüísticos estigmatizados e poucos de prestígio. Aqueles, na maioria das
vezes, estão camuflados, são subliminares, que se materializam nos adjetivos
disfóricos atribuídos ao dialeto de outras localidades e, conseqüentemente, aos
seus usuários.
Conforme expusemos
de início, o ALiB, ao inserir no instrumento de recolha de dados, pela primeira
vez na história da geolingüística do Brasil, Questões Metalingüísticas que
levam a respostas sobre crenças e atitudes lingüísticas, dá um passo à frente
nessa área do conhecimento e abre perspectivas de aprofundamento de estudos a
partir da base que ora oferece aos interessados no assunto”.
Naquele texto
concluímos acreditar que a “inserção de questões dessa natureza possa motivar
futuros autores de projetos geo-sociolingüísticos a contemplar em suas
investigações um tema cujos resultados podem indicar a direção da mudança
lingüística que se processa em dada comunidade, bem como esclarecer em que
medida os fatos lingüísticos valorizados ou estigmatizados podem interferir
nessa mudança”.
O terceiro texto -
O que um atlas lingüístico nacional pode revelar sobre as crenças e atitudes de
falantes das regiões Centro-Oeste e Sul do Brasil (Aguilera: 2007b), foi
apresentado no Fórum Internacional da Diversidade Lingüística, realizado na
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em 2007. Sobre o tema, tecemos
alguns comentários, tais como:
“O estudo das
crenças e atitudes lingüísticas, em que se compararam duas regiões distintas,
mas ligadas por uma história recente, revela que o alvo da observação ou da
crítica da fala do outro está mais centrado no papel que aquele grupo
representa dentro da comunidade. O “invasor” não é poupado, principalmente
aquele que preserva tradições arraigadas e diametralmente opostas à cultura da
comunidade receptora.
Os naturais da
região Centro-Oeste acreditam que, sobretudo, gaúchos, cariocas, nordestinos,
mineiros e baianos falam diferente da norma centro-oestina. Com um número menor
de referências aparecem goianos, paranaenses, paulistas, mato-grossenses,
sul-mato-grossenses, nortistas e pernambucanos. Da mesma forma, os sulistas
elegem, nas três primeiras colocações, cariocas, nordestinos e gaúchos,
seguindo-se paulistas, catarinenses e mineiros. Com um número menor estão
baianos, paraenses, litorâneos e os nascidos em Santos, cidade litorânea
paulista.
Os dados levam à reflexão
sobre as pronúncias regionais mais salientes e sobre a motivação dessa
indicação. Os do Centro-Oeste apontam, em primeiro lugar, os gaúchos, que
chegam ao Centro-Oeste em grandes levas de agricultores, desmatando, plantando
soja, abrindo cidades, fazendas, mudando a paisagem local, introduzindo novos
hábitos, costumes, tradições, alimentos, bebidas, vestuários e, principalmente,
um novo dialeto. Os das capitais do Sul também apontam os gaúchos, mas por
motivos diversos, o contato pela vizinhança e pelas diferenças dialetais. Os
cariocas são citados em ambas as regiões e a explicação pode ser dada tanto
pelo falar característico, cheio de manha
e de gestos, que se diferencia dos demais, bem como pela divulgação na
mídia televisiva, conforme declararam vários informantes que não conhecem o Rio
de Janeiro, mas ouvem os cariocas nos programas de televisão. Os nordestinos
são lembrados, nas três capitais do Centro-Oeste, e também em Brasília, pela
presença na música, cinema e televisão. No Sul, pela presença de nordestinos em
vários setores artísticos (atores de novela e de cinema, cantores, bandas) e
pela caricaturização em novelas e filmes.
Nesse estudo,
também buscamos verificar que adjetivos são mais freqüentemente atribuídos aos
falantes de outras regiões. A questão 4 traz em seu enunciado o adjetivo diferente que serviu para qualificar
quase todos os naturais de outros estados. Falam diferente, para os naturais do Centro-Oeste: gaúchos, cariocas,
paulistas, baianos, pernambucanos, sul-mato-grossenses e mato-grossenses; e
para os do Sul: nordestinos, gaúchos, cariocas, mineiros, paulistas e
catarinenses. Mais dezoito adjetivos foram usados pelos informantes do
Centro-Oeste para qualificar os diversos brasileiros e seus dialetos, e doze
adjetivos identificam os do Sul.
No Centro-Oeste,
para expressar sua atitude em relação ao outro, envolvendo a observação da
fala, verifica-se que os gaúchos são os mais adjetivados, por falarem puxado, engraçado, arrastado e cantado. Esses qualificativos são
atribuídos, em sua maioria, pelos mato-grossenses de nível superior, tanto os
da Faixa I e II, como os homens e as mulheres. A informante 8 de Goiânia,
porém, considera o dialeto gaúcho o mais
bonito. Os mineiros foram lembrados também pela fala puxada, engraçada e cantada. Seguem-se os goianos que, além
de arrastado e cantado, falam errado.
Por sua vez, na
Região Sul, os dialetos e seus falantes mais adjetivados são os cariocas, que
falam cantado, chiado (ou com a forma carinhosa chiadinho), puxado, cheio de manha e carregado.
Na seqüência, vêm os catarinenses com o dialeto cantado, até cantadinho,
chiado, puxado, rápido e espaçoso, seguidos dos paulistas,
lembrados por falarem cantado, chiado,
curioso, incompreensível, mas também misturado,
quase igual aos gaúchos que, por sua vez se caracterizam pela fala cantada, puxada, com /s/ acentuado, mas
também correta.
Os sulistas
focalizam sua atitude lingüística sobre os cariocas, pela maior exposição na
mídia e pelos traços fonéticos da fala; sobre os paulistas, devido ao intercâmbio
entre a Região Sudeste e Sul, nos últimos anos, além da ligação histórica
remanescente dos primeiros séculos de colonização européia. Os sulistas também
não deixam de observar a fala dos vizinhos catarinenses, mas não se incomodam
com os paranaenses, que sequer foram lembrados.
Ao tratarmos dos
aspectos lingüísticos mais lembrados pelos falantes da Região Centro-Oeste e da
Região Sul, constatamos que, em ambas as regiões, os aspectos lingüísticos
detectados na fala dos habitantes de outras localidades dizem respeito à
fonética, ao vocabulário, aos aspectos morfológicos e às expressões, na maioria
dos casos, interjetivas ou de vocativo.
Dentre os aspectos
fonéticos mais lembrados pelos informantes do Centro-Oeste, constam:
(a) o paulista puxa
o /s/ alveolar e o /r/ retroflexo;
(b) o goiano
ditonga o mas > mais;
(c) o cuiabano
troca o j- pelo dj- e o ch- pelo tch- e não gostam
de ser imitados;
(d) o carioca puxa
o /r/; põe muito /r/ e puxa o /S/
(e) o mineiro puxa o
/s/ alveolar, prolonga a sibilante e o /r/ caipira;
(f) o
mato-grossense do sul tem /r/ caipira;
(g) o gaúcho não
faz o alçamento do /e/ átono final.
Sobre os aspectos
fonéticos mais lembrados pelos informantes do Sul:
(a) o carioca puxa
o /r/ e o /S/;
(b) o gaúcho não
tem o /r/ vibrante intervocálico ou em início de vocábulo: caroça e tem três
/s/ (sibilante).
Há um desequilíbrio
entre o número de traços fonéticos lembrados pelos centro-oestinos e os
sulistas, mas os dois grupos lembrados são comuns (carioca e gaúcho) bem como
os traços fonéticos que identificam o primeiro: o /r/ posterior e a africação
do /s/ na fala carioca. Para tentar explicar a ocorrência de um elenco maior de
variantes fonéticas apresentado pelos informantes do Centro-Oeste, pode-se
pensar em comunidades mais heterogêneas nesta Região, e mais homogêneas no Sul,
nas quais se verifica a intensa emigração de sulistas e o caráter de relativa
acomodação das comunidades ocidentais autóctones.
Quanto aos aspectos
lexicais mais lembrados pelos informantes do Centro-Oeste, ocorrem:
(a) gaúcho diz cobrir para rebuçar; motoca para moto; fazer inalação para tomar
orosol; piá para menino; rancho para compras; guria para moça e tem uma dança chamada vanerão;
(b) mineiro diz cobrir para rebuçar; pernilongo para mosquito;
trem para qualquer objeto ou coisa.
(c) nordestino, mangar para zombar; mouco para surdo; birilo para ramona, grampo de cabelo.
(d) curitibano: encabulado significa envergonhado em Curitiba e admirado em Goiânia.
(e) mato-grossense:
guri para menino por influência gaúcha.
(f) goiano: a
expressão não dar conta é usada no
sentido de não conseguir.
Os aspectos
lexicais mais lembrados pelos informantes do Sul em relação aos demais
brasileiros:
(a) nordestino: muriçoca para pernilongo; macaxeira para
mandioca.
(b) catarinense: bumba para tiziu.
(c) paulista do
interior: arribar para erguer; merendar para comer.
(d) paraense: mangar para zombar; angu para mingau.
No nível do léxico,
os informantes do Centro-Oeste parecem ter mais o que relatar sobre a fala dos
outros, seja devido à intensa miscigenação de brasileiros de vários pontos
nessa região, por meio de casamentos, seja pelo contato maior com os diversos
grupos, nas relações de amizade, de lazer e de trabalho.
Dentre os aspectos
morfológicos mais lembrados pelos informantes do Centro-Oeste, verificamos que
o gaúcho usa o tu em vez de você. Os informantes de Curitiba e
Florianópolis observam também que o gaúcho usa o tu por você e o
nordestino abusa de diminutivos: mainha,
bichinho. Os gaúchos estranham o uso
de você por tu na fala carioca. Dessa forma, os aspectos morfológicos não
parecem estar no nível de consciência dos falantes, sendo lembrados apenas dois
deles: o emprego do pronome pessoal e do diminutivo.
Quanto às
expressões mais lembradas pelos informantes do Centro-Oeste, relacionamos:
(a) nordestino: ó, xente! My God! Bichim!
(b) baiano: cabra safado! Cabra da muléstia!
(c) pernambucano: cabra safado!
(d) gaúcho: tchê! Te cuida, guaíba!
(e) paulista: Vamos comer uma pizza, meu!
(f) mineiro: uai! Uai, sô!
Os informantes do
Sul, porém, observam as seguintes expressões nos que falam diferente:
(a) nordestino: ó, xente! Cabra da peste! Ó sujeito
arretado! Bichinho!
(b) baiano: Bichinho!
(c) gaúcho: trilegal! Bah!
(d) paulistano: Se liga, ô meu!
(e) mineiro: Uai! Ei, bichinho!
(f) catarinense: pois, e agora?
(g) paraense: bichinho!
As expressões
referidas pelos informantes de ambas as regiões caracterizam-se por aquilo que chamamos
de estereótipos, veiculados pela mídia, como o cinema e a televisão. Tanto os
patronímicos como as expressões usadas são muito semelhantes em ambos os
grupos.
Nesse
estudo, concluímos que as informações obtidas sobre o sistema de crenças a
propósito da fala de outros brasileiros permitiram verificar que tipo de
atitudes positivas ou negativas procede de tais crenças. Os dados informaram
sobre a existência de numerosos fatos lingüísticos estigmatizados e poucos de
prestígio. Aqueles, na maioria das vezes, estão camuflados, são subliminares,
que se materializam nos adjetivos disfóricos, atribuídos ao dialeto de outras
localidades e, conseqüentemente, aos seus usuários.
O estudo das crenças
e atitudes lingüísticas, em que se compararam duas regiões distintas, mas
ligadas por uma história recente, revela que o alvo da observação ou da crítica
da fala do outro está mais centrado no papel que aquele grupo representa dentro
da comunidade. O “invasor” não é poupado, principalmente aquele que preserva
tradições arraigadas e diametralmente opostas à cultura da comunidade
receptora” (Aguilera: 2007).
O terceiro tópico,
que nos propusemos discutir quanto aos primeiros resultados do ALiB, diz respeito
aos estudos e às cartas preliminares sobre o léxico nas capitais.
3. Cartas
lexicais experimentais
Destacamos os
trabalhos realizados, em nível de Iniciação Científica, por Pastorelli e
Aguilera (2007) e Romano e Aguilera (2008).
Pastorelli e Aguilera
(2007) apresentam um estudo prévio sobre as variantes obtidas em duas questões
089 (pálpebra) e 105 (pomo-de-adão) do Questionário Semântico Lexical (QSL) dos
Questionários do ALiB, registradas nos inquéritos, aplicados in loco, para a elaboração do Atlas
Lingüístico do Brasil em treze das capitais brasileiras. O estudo permitiu, por
isso mesmo, formular apenas algumas conclusões parciais, que aqui se
explicitam: (i) é alta a freqüência de formas populares, representadas por
criações metafóricas, como é o caso de capela
e pele para pálpebra; e
adão, nó, caroço, maçã para gogó; (ii) verifica-se a maior produtividade
da forma padrão, de maior prestígio, como a variante léxica pálpebra e gogó; (iii) registra-se a dificuldade
de certos informantes em separar e nomear partes do corpo como acontece nas
respostas pele, olho, sobrecílios, cílios, garganta, papo e pestana; (iv) é notória a insegurança de
alguns em apresentar uma forma não prestigiada, preferindo abster-se; (v) por meio do levantamento das variantes
regionais pôde-se verificar as ocorrências comuns a cada uma das localidades
possibilitando o traçado de isoglossas verificáveis a partir da cartografação
dos dados; (vi) foi possível observar que as variáveis sociais: sexo,
faixa etária, localidade e grau de escolaridade exercem influência sobre a
produtividade de certas variantes em detrimento de outras.
O estudo de Romano
e Aguilera (2008) sobre as variantes lexicais obtidas nas respostas para a
questão 039, para tangerina,
apresentadas nas 25 capitais, permitiu tecer as seguintes considerações:
“(i) tangerina é a forma mais produtiva e
mais freqüente que se distribui diatopicamente por quase todas as regiões,
embora não apareça como a primeira resposta em algumas delas, sobretudo em
capitais onde prevalecem as formas dialetais, como tanja, bergamota, laranja-cravo e mimosa;
(ii) as variantes
distribuem-se de modo muito próximo ao que preconizou Nascentes (1958) ao
propor a divisão dialetal do Brasil em falares do Norte e do Sul, de modo que tangerina se realiza como variante mais
produtiva no Norte e mexerica no
Sul/Sudeste/Centro-Oeste;
(iii) nem todas as
variantes regionais constam dos seis dicionários consultados, como ocorre com laranja-cravo, poncã, mimosa e tanja;
(iv) os dicionários
elegem a forma laranja + a variante como a forma padrão: laranja-tangerina, laranja-mimosa, laranja-cravo que depois, na
linguagem oral e informal, se reduz ao segundo termo;
(v) a maioria dos
lexicógrafos faz referência às variantes regionais, embora não as localizem nas
respectivas regiões.
(vi) dicionários
mais antigos não trazem as formas regionais, como mimosa, que vão aparecer somente nas edições mais recentes como
Houaiss (2001) e Ferreira (2004);
(vii) destaca-se a
importância dos estudos geolingüísticos como fonte segura para os
lexicógrafos”.
Considerações
finais
Neste artigo
trouxemos à luz alguns resultados obtidos pelo Projeto do Atlas Lingüístico do
Brasil - ALiB, nos dados coletados em vinte e cinco capitais brasileiras. Para
tal, desenvolvemos a análise em três tópicos: os estudos fonéticos que precedem
a elaboração das cartas dessa natureza, a serem publicadas nos primeiros
volumes do atlas; os estudos realizados sobre as Questões Metalingüísticas que
envolvem a temática das crenças e atitudes lingüísticas; e a preparação de
cartas lexicais em caráter experimental. Embora os estudos fonéticos e os
lexicais aqui apresentados tragam resultados preliminares e provisórios, é
possível verificar, pela distribuição diatópica, as diferenças que se
estabelecem na língua portuguesa falada nas diversas regiões brasileiras. A
variedade se afirma devido aos fatores lingüísticos e extralingüísticos (sexo,
faixa etária, escolaridade) mas também e, principalmente, por razões sócio-histórico-econômicas
que determinam o uso de variantes de róticos e de itens lexicais distribuídos
espacialmente. Por outro lado, a unidade lingüística permanece preservada pelas
instituições responsáveis pelo seu controle, como a escola, por exemplo.
Finalmente, o estudo dos dados procedentes das Questões Metalingüísticas coloca
para a comunidade científica os embates das crenças e das atitudes gerados
pelos contatos de grupos e, com certeza, com repercussões significativas sobre
o ensino e a aprendizagem.
Referências
AGUILERA, Vanderci de Andrade. Crenças e atitudes
lingüísticas: o que dizem os falantes das capitais brasileiras. Texto apresentado
ao 55° Seminário do GEL. Franca: UNIFRAN, 2007a.
AGUILERA, Vanderci de Andrade. Crenças e atitudes lingüísticas:
quem fala a língua brasileira? In: RONCARATI, Cláudia; ABRAÇADO, Jussara
(orgs.). Português brasileiro II: contato
lingüístico, heterogeneidade e história. Niterói: EdUFF, 2008.
AGUILERA, Vanderci de Andrade. O que um atlas lingüístico
nacional pode revelar sobre as crenças e atitudes de falantes das regiões
Centro-Oeste e Sul do Brasil. Texto apresentado ao I Fórum Internacional da
Diversidade Lingüística, Porto Alegre: UFRGS, 2007b.
COMITÊ
Nacional do projeto ALiB. Atlas lingüístico do Brasil: questionário
2001. Londrina: Ed. UEL, 2001.
PASTORELLI, Daniele Silva; AGUILERA,
Vanderci de Andrade. Estudos lexicais sobre o campo semântico do corpo
humano em capitais brasileiras. Relatório de IC.
Londrina: UEL, 2007.
ROMANO,
Valter Pereira; AGUILERA, Vanderci de
Andrade. Um estudo lexicológico
sobre as variantes lexicais para a tangerina. Trabalho apresentado na
UNOPAR. Londrina: UNOPAR, 2008.
PAINEL OS
CAMINHOS DO ALiB
A CARTOGRAFIA DOS DADOS DO
PROJETO ALIB
Ana Regina Teles e
Silvana Ribeiro
(Universidade
Federal da Bahia)
Durante a 1ª
reunião da Comissão de Informatização e Cartografia do ALiB, promoveu-se uma
ampla discussão sobre cartografia e a experiência dos lingüistas sobre o tema
subsidiada por uma apresentação introdutória na mesma temática. Diante da
necessidade de nivelar lingüistas e pessoas de outras áreas do conhecimento
(engenheiros e analistas de sistemas) e promover uma perfeita integração da
equipe de característica multidisciplinar, o conteúdo da apresentação foi organizado
no artigo Apresentando a cartografia aos
lingüistas: o Projeto ALiB, publicado em Documentos 2 - Projeto Atlas Lingüístico do Brasil, cujos dados
estão em parte retomados e descritos neste trabalho. Destacam-se os seguintes:
conceito de atlas, mapa temático e carta lingüística; preparação de base
cartográfica como ponto de partida para as cartas-base do mapa nacional e dos
regionais, bem como outras cartas-base específicas para confecção de mapas de
conteúdos especiais (mapas de isoglossas, mapas de síntese ou mapas
comparativos, por exemplo) e, sobretudo, vantagens na utilização de um Sistema
de Informações Geográficas - SIG. Ainda durante a 1ª reunião da Comissão,
discutiu-se amplamente a natureza dos mapas do próprio ALiB, optando-se pelas
versões analógica (em papel) e digital. Estão em estudo as possibilidades de
incorporar os dados sonoros dos informantes, no que se refere às respostas
obtidas para o questionário fonético-fonológico - QFF. Buscam-se também formas
de divulgação do produto final, na versão digital. As opções já pesquisadas
são: mídia do tipo DVD e internet.
Atualmente a
Comissão de Informatização e Cartografia (CIC) trabalha na modelagem do banco
de dados e na forma de entrada dos dados lingüísticos e na elaboração das
cartas-base a serem utilizadas. A constituição de banco de dados informatizado
bem estruturado tem como vantagem proporcionar a divulgação mais imediata e
rápida dos resultados da pesquisa em andamento. É possível iniciar a publicação
de mapas e cartas lingüísticas de parte dos dados coletados e transcritos,
organizando-se a publicação em volumes. Devido
ao caráter continental do Brasil, da densidade de pontos em algumas regiões e
do tempo necessário para a realização integral da pesquisa, serão organizados
volumes com informações contendo resultados já disponíveis referentes a
estágios intermediários da pesquisa (estudo com as capitais dos estados, estudo
por regiões etc). O volume introdutório contará ainda com cartas gerais que
apresentarão informações etnográficas, sociais e ou culturais além de mapas de
localização da região pesquisada (estado, micro-regiões etc).
Um software específico para o ALiB, que
está em desenvolvimento, prevê a alimentação do banco de dados por todos os
grupos de pesquisadores distribuídos pelo Brasil através da internet. O uso da mesma ferramenta
pelos diversos grupos de pesquisa no país implicará na redução do índice de
erros e falhas na carga dos dados. A ferramenta permitirá consultas aos
registros pelas equipes regionais, facilitando circulação da informação e
servirá de matriz para o uso do software de cartografia.
Para realizarmos a
cartografia dos dados lingüísticos, as etapas de Coleta, Transcrição, Análise e
Tratamento dos dados lingüísticos devem estar concluídas assim como as que envolvem
a preparação e definição das cartas-base.
A elaboração de um
mapa de qualquer natureza requer planejamento e várias perguntas devem ser
respondidas antes do início da sua execução. As respostas a elas norteiam a
definição do projeto cartográfico propriamente dito.
Da mesma forma que
a delimitação do corpus (com a
definição da rede de pontos e do perfil dos informantes), a escolha da
metodologia aplicada à pesquisa de campo e à organização do material foram
respostas a questionamentos feitos durante a etapa preparatória do projeto sob
a ótica lingüística, há necessidade de dar outras respostas, desta feita sob a
ótica cartográfica, quanto ao Atlas a ser elaborado, enquanto documento
cartográfico: a forma de apresentação, o formato (dimensões), se uso de cores,
definição dos documentos associados (tabelas, encartes), formas de
disponibilização dos resultados e temas agregados (vegetação, hidrografia,
circulação) já que, dados geográficos não existem sozinhos no espaço - tão
importante quanto localizá-los é descobrir e representar as relações entre
eles.
A contribuição da Cartografia
enquanto ciência se dá, basicamente, em propiciar a representação espacial dos
objetos de estudo dos pesquisadores (no caso, os lingüistas), aos quais compete
analisar os problemas, elaborar as sínteses e construir as teorias.
Com o desenvolvimento dos
modernos procedimentos e com as novas concepções, o avanço e aprimoramento
tecnológico dos equipamentos de medição e recursos gráficos e computacionais, o
papel científico da Cartografia assume uma nova dimensão. O mapa deixa de ser
apenas uma simples ilustração para ser, também, um meio de armazenar e de
tratar uma documentação espacial.
O termo Cartografia foi
criado em 1839 pelo historiador português Manuel Francisco de Barros e Sousa
(1791-1856), o Visconde de Santarém, que enviou uma carta a Francisco Adolfo
Varnhagem (historiador brasileiro), indicando a idéia de um traçado de mapas e
cartas, na qual se lia: “... invento esta palavra já que aí se tem inventado
tantas.”
O desenvolvimento da Cartografia, desde épocas remotas até hoje,
acompanhou o próprio progresso da civilização, experimentando-se novas técnicas
na aquisição e tratamento de dados, no armazenamento e manipulação destes dados
e na suas representações, chegando nos dias atuais a configurar-se como um
verdadeiro sistema de informação geográfica, compreendendo seus próprios bancos
de dados, suportes lógicos de aplicação e equipamentos. Os SIG (Sistemas de
Informações Geográficas) revolucionaram os conceitos e as técnicas de pesquisa,
de análise e de manipulação dos dados, permitindo coletar, armazenar,
atualizar, manipular, analisar e apresentar visualmente todas as formas de
informações georeferenciadas. Para tal, envolvem equipamentos de computação (hardware), programas aplicativos (softwares), dados georeferenciados e
pessoal especializado (peopleware).
Os SIG, portanto, são
sistemas que têm recursos de análise e funções de busca no espaço a partir de dados
alfanuméricos, relações topológicas (relações espaciais entre os objetos
geográficos) e operações de sobreposição temática. Dependem de uma base de
dados de características alfanuméricas (tabelas) e espaciais (arquivos de
características gráficas - mapas).
A cartografia automatizada
associada a um SIG, permite a produção de forma bem rápida de um grande número
de documentos variados a partir de um mesmo elenco de dados registrados e
armazenados. Os dados obtidos das recolhas dos inquéritos do ALiB
e não cartografados num primeiro momento, mesmo após muitos anos estarão
disponíveis à comunidade lingüística e permitirão, além da geração de novas
cartas, outras formas de representação e análises decorrentes de novos dados
sócio-econômicos que poderão ser, a qualquer época atualizados e novamente
agregados.
Um Atlas pode ser definido
como um conjunto de mapas ou cartas geográficas, de um conjunto de dados sobre
determinado assunto, sistematicamente organizados e servindo de referência para
a construção de informações de acordo com a necessidade do usuário.
Um mapa
temático (ou uma carta temática) é a representação dos fenômenos
localizáveis de qualquer natureza e de suas correlações, não se limitando
apenas à representação do terreno. Permite, dessa forma, que sejam feitas
análises sobre o tema (ou assunto) cartografado e que estas possam ser
relacionadas a outras informações obtidas através de outros instrumentos (por
exemplo, dados de Censos ou de outros tipos de cadastros, simplesmente). Já um cartograma, é definido pelo IBGE
(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) como sendo um esquema
representativo de uma superfície ou parte dela, sobre a qual são apresentadas
informações quantitativas e qualitativas, de eventos geográficos, cartográficos
e socioeconômicos.
Com isso percebe-se, assim, que a maioria dos atlas lingüísticos até o
momento publicados são conjuntos de cartogramas, já que lhes faltam informações
essenciais para que possam ser enquadrados como conjuntos de mapas ou cartas:
orientação, sistema de projeção, sistema de referência para as coordenadas e
escala. Nestes casos, sem invalidar o mérito científico do estudo lingüístico,
apenas o tema pode ser analisado, sem que se possa usá-los nem para a extração
de outras informações importantes tais como distâncias, direções, altitudes e
localizações geográficas exatas nem para o cruzamento com dados obtidos de
outras fontes e que usem referências distintas.
Desse modo, hoje, busca-se,
acima de tudo, a possibilidade de obtenção de múltiplas respostas e
alternativas a partir de um mesmo conjunto de dados, aliando-se aos requisitos
básicos que conferem o grau de qualidade das cartas, outros fatores que,
atualmente, têm grande peso nas decisões que envolvem a escolha de técnicas e
métodos de levantamentos para a geração e atualização de bases cartográficas
(custo baixo, rapidez na execução e retorno rápido e eficiente tanto das
informações quanto dos investimentos feitos).
O ALiB será, portanto,
um Atlas temático composto por cartas lingüísticas e destas poderão ser feitas
medições, avaliações quantitativas e qualitativas do tema lingüístico sobre uma
base cartográfica gerada para esse fim. Principalmente pelo tempo despendido na
sua elaboração (incluindo-se neste desde as primeiras reuniões preliminares até
o momento presente) como também pelo grande número de pesquisadores e recursos
públicos envolvidos, o ALiB será desenvolvido segundo os conceitos mais
modernos de cartografia e banco de dados, limitado apenas por questões de cunho
financeiro, visto que as instituições envolvidas dependem de recursos públicos
e estes podem não vir a atender plenamente às demandas.
A principal
característica da versão analógica do AliB será a de não se tratar de um
conjunto de cartogramas e sim, de conjunto de cartas que conterão, além das
informações lingüísticas, todas as informações necessárias ao reconhecimento e
à recuperação, em qualquer época, das informações geográficas e
sócio-econômicas nele representadas.
A novidade é que
esta versão será resultante do seu desenvolvimento num ambiente SIG, conforme
citado anteriormente. O fato de já ser desenvolvida neste ambiente, permitirá a
disponibilização de uma versão digital e, a depender das decisões dos gestores
do Projeto, o acesso ao banco de dados e a manipulação monitorada destes dados.
Num SIG os dados e
informações são espacializados, têm referência física (são georeferenciados),
além de possuírem atributos. Como sem a base cartográfica digital o
geoprocessamento torna-se inviável, a base cartográfica deve se adequar a estas
novas necessidades.
Definindo base cartográfica e carta-base
A qualidade de uma
carta é determinada basicamente pela precisão,
pela exatidão e pela fidelidade. Além destas, para cumprir
com plenitude o seu papel de comunicação o mapa deve apresentar expressividade (quando atrai convenientemente a atenção
do leitor para os mais significativos aspectos do tema tratado), legibilidade (quando permite que
uma informação procurada possa ser facilmente encontrada, diferenciada entre
outras e memorizada sem esforço) e eficácia
(quando é perfeitamente adaptado ao seu objetivo, nos limites de sua escala e
de seu sistema de projeção).
Um mapa deixa de ser
legível quando não se consegue, no nível dos detalhes, isolar à primeira vista
a informação desejada nem captar, no nível do conjunto, as relações existentes
entre as manchas elementares. Para ser eficaz deve ser conciso, completo e verdadeiro.
Em relação à qualidade
da base de dados, os indicadores são, conforme definidos por Teixeira e
Christofoletti (1997): a acurácia (proximidade dos resultados em relação aos valores aceitos
como reais), a confiabilidade (grau
de confiança que o usuário demonstra com relação aos seus dados, programas e
equipamentos), a consistência (grau
de precisão, atualização e segurança) e a integridade
(confiabilidade dos dados armazenados ou processados, no sentido de não haver
perda ou distorção na qualidade da informação).
Diante de tudo que foi apresentado
até o momento, depreende-se que o processo cartográfico é o conjunto de
atividades realizadas sobre dados e informações de uma determinada área, com o
objetivo de produzir uma representação gráfica da realidade através da
associação de símbolos e outros recursos gráficos que caracterizam a linguagem
cartográfica.
Como a clareza e
legibilidade, dentre outras, são condições essenciais em um mapa, não é
aconselhável que o tema seja colocado sobre a carta topográfica, já que esta é
rica em informações de detalhes do terreno e poderia tornar confusa a sua
leitura. A partir dela, suprimem-se algumas informações dando origem a uma base
cartográfica que é essencial para todo e qualquer tipo de mapeamento temático.
A este processo dá-se o nome de generalização que consiste, dessa forma, em distinguir entre
o essencial e o não essencial, conservando-se o útil e se abandonando o
dispensável. A simplificação da base cartográfica dá origem à carta-base, elaborada para receber um
tema específico, só apresentando as informações relevantes e necessárias à
representação do tema.
No Brasil, o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística - IBGE se constitui no principal provedor de dados e informações do
país, que atendem às necessidades dos mais diversos segmentos da sociedade
civil, bem como dos órgãos das esferas federal, estadual e municipal,
oferecendo uma visão completa e atual do País, através do desempenho de suas
principais funções, dentre elas: a produção e análise de informações estatísticas e
a coordenação e consolidação destas informações, a produção e análise de
informações geográficas e a coordenação e consolidação destas informações, a
documentação e disseminação de informações e a coordenação dos sistemas
estatístico e cartográfico nacionais.
Deste modo,
foram tomadas decisões no sentido de trabalhar com base nas informações
fornecidas pelo IBGE, já que, desta forma, todas
e quaisquer alterações ocorridas - tanto nas questões relativas à formação territorial
quanto nas questões referentes às normas cartográficas - são integralmente
controláveis.
Foi escolhida como base
cartográfica a Base Cartográfica Digital Integrada ao Milionésimo - bCIMd - v.
2.0, no formato compatível para utilização no software ArcGis - ESRI - v. 8.2.
Os procedimentos iniciais
consistiram na identificação das 250 localidades com base na escolha feita
quando da elaboração do Projeto e a associação destas mesmas localidades aos
topônimos oficiais registrados na Base Territorial Brasileira do IBGE. Em
seguida, foi feita a localização dos 250 pontos na bCIMd, todos associados ao
geocódigo adotado pelo IBGE.
A partir daí, passou-se a
trabalhar na generalização desta base, com a eliminação das informações
desnecessárias, a redução nas informações apresentadas e a definição dos
elementos a serem representados.
A base cartográfica apresenta
vários níveis de informação, sendo que para a elaboração da carta-base foram
usados, inicialmente, os níveis de limites - estaduais e internacionais,
localidades e hidrografia.
De todos os três níveis
citados foram suprimidas informações de forma que: os limites remanescentes
fossem os estaduais e parte dos internacionais (apenas dos países limítrofes),
as localidades fossem restringidas aos 250 pontos ALiB e a hidrografia só
representasse as massas d´água representativas no contexto nacional. Para os
mapas regionais ou estaduais, outras cartas-base serão criadas e adequadas às
novas necessidades.
Outras decisões devem ainda
ser tomadas:
·
no
formato analógico, o formato para impressão (tamanho) que implica diretamente
na definição da escala (ou a escolha da escala, que condiciona o tamanho do
mapa), a forma de apresentação (encadernado ou em folhas soltas), o uso de
cores ou não, a inserção de encartes, a quantidade de volumes e a forma de
arquivamento, dentre outros;
·
no
formato digital, o formato da mídia (CD, DVD), o uso de software (de domínio público ou de uso restrito), a
disponibilização ao usuário (visualização apenas, acesso aos dados e tabelas),
se suporta recursos de som, imagem, tabelas e banco de dados e a quem compete a
gestão da informação;
·
inserção
de encartes, tabelas e gráficos;
·
representação
das variáveis sociais;
·
escolha
das convenções cartográficas, inserção de legendas e informações marginais.
A toponímia merece atenção especial e nem
sempre é fácil o estudo de topônimos. No caso brasileiro, a maior dificuldade
está nos nomes de origem indígena e, numa escala um pouco menor, nos de origem
africana.
É importante, do ponto
de vista toponímico, que toda a nomenclatura, antes de entrar para o mapa, seja
submetida a uma análise, com o exame das origens de cada vocábulo (ibérica,
tupi-guarani, africana, religiosa, etc.), bem como o significado de cada um, a
fim de chegar-se, finalmente, ao ponto decisivo de sua ortografia. Deve-se
consultar o Índice de Topônimos da Carta do Brasil ao Milionésimo, de 1970,
publicação do IBGE já que não existe outra publicação oficial mais recente,
embora este órgão esteja desenvolvendo o Banco de Nomes Geográficos.
O posicionamento
dos topônimos num mapa deve ser feito de forma a não cobrir outros detalhes
importantes.
Definida então a
carta-base, retoma-se a questão da representação do tema, que irá envolver,
conjuntamente, os especialistas da cartografia e da lingüística, num trabalho
de contínuas discussões e ponderações até se chegar ao objetivo: representar os
fenômenos lingüísticos a contento da sua comunidade de especialistas sem fugir
dos princípios científicos e normatizados da cartografia.
Antes de se abordar
a questão do conteúdo, resta apresentar algumas observações complementares e
imprescindíveis para que a expressividade, a legibilidade e a eficácia sejam
conquistadas.
Condicionada pela
escala e pela generalização feitas, a simbologia (convenções cartográficas) é
de extrema importância. Os elementos gráficos normalmente usados na
representação são os pontos, círculos, traços, polígonos, cores, hachuras, etc.
A variedade e a quantidade estão em função da escala.
Uma convenção deve ser
simples e também distinta, pequena e fácil de desenhar e permitir a redução sem
que se torne ilegível. O uso de cores ajuda muito a se distinguir as
convenções. Como se pode deduzir do que foi exposto, a carta final apresentará
sempre múltiplas e variadas convenções que devem ser listadas e explicadas ao
leitor, de forma que as informações nela contidas possam ser lidas e
interpretadas sem dúvidas.
Como então
representar os fenômenos identificados na análise de modo a permitir uma ampla
e boa leitura da carta? As cartas deverão se ater ao fenômeno lingüístico
estudado, podendo ser enriquecidas com informações adicionais indicadas no
verso delas. Por exemplo, pode-se optar por: indicar a forma lingüística
através de símbolos e apresentar a transcrição fonética no verso ou indicar na
carta apenas a primeira resposta, remetendo para o verso as demais. Outras
informações que podem constar no verso são: gráficos, tabelas e notas.
As convenções são
normalmente representadas na legenda (ou quadro de convenções), dentro de uma
moldura, na parte inferior da carta. Na legenda de uma carta temática a
representação tem que reproduzir a convenção da forma exata de como está
representada na carta e somente aquelas que nela aparecem.
Além da legenda,
outras informações importantes são inseridas nas cartas com o intuito de
completar e esclarecer: são as informações marginais. As mais comuns são: o
título, a projeção cartográfica usada e os dados a ela associados, fontes das
informações usadas na execução, data, escalas (gráfica e numérica), diagrama de
articulação das folhas (se for o caso) e um mapa de localização da área em
relação a uma área maior ou hierarquicamente mais importante contendo os
principais limites administrativos nela contidos.
A depender da
escala e do sistema de coordenadas adotado, poderão ainda ser representadas as
redes de meridianos e paralelos ou quadriculado das coordenadas
plano-retangulares.
As informações
listadas acima correspondem àquelas que devem aparecer nas cartas de um modo
geral. No caso da cartografia temática, como a ênfase está no tema
representado, muitas delas são dispensáveis, a exemplo da escala gráfica e da
articulação das folhas.
Por fim, é
fundamental que seja definido o formato que o mapa terá, principalmente se o
produto final for impresso.
O formato de um mapa depende da forma da área
a representar, o que pode apresentar problemas, já que existem convenções e
normas para inserção de informações complementares, letreiros, legendas e
molduras, dentre outras.
O Brasil, pelas suas dimensões nos sentidos
Norte-Sul e Leste-Oeste (aproximadamente
Retomam-se adiante
as questões relativas ao conteúdo. De posse da carta-base (pré-determinada e
caracterizada anteriormente), iniciaram-se as tentativas e experiências de
representação, uma vez que os dados lingüísticos a serem cartografados possuem
características lingüísticas diferentes. No processo de trabalho surgiram
algumas perguntas.
1) Que representar nas cartas lingüísticas?
Considerando que o AliB possui um questionário composto por perguntas agrupadas
em subtipos (Questionário Fonético-Fonológico - QFF, Questionário
Semântico-Lexical - QSL, Questionário Morfossintático - QMS além de questões
referentes à pragmática, ao registro de discursos semi-dirigidos, ao registro
de natureza metalingüística e de um texto para leitura), podemos de antemão
prever algumas possibilidades.
a) Agrupamento por variáveis
§ lingüísticas:
*
Variáveis fonéticas
*
Variáveis morfossintáticas
*
Variáveis semântico-lexicais
*
Outros dados
§ sociais
*
Variável gênero
*
Variável faixa etária
*
Variável escolarização
Para as varáveis
fonéticas, elaboração de cartas baseada em fenômenos fonéticos, agrupando
respostas a várias perguntas numa mesma carta, como por exemplo:
§ /S/ em coda silábica
§ /l/ em coda silábica
§ Róticos
§ /t, d/ em contextos
de palatais (seguido de /i/ ou precedido de /j/)
§ Iotização do / nh /
§ Iotização do / lh /
§ Vogais pretônicas
*
Anteriores
*
Posteriores
§ Vogais postônicas
*
Finais
*
não
finais
§ Ditongação em
sílaba terminada por sibilante
§ Monotongação
b) Agrupamento por respostas às perguntas do questionário
Em um agrupamento
desta natureza, seriam organizados os dados a partir do questionário,
produzindo-se cartas com o resultado das respostas fornecidas pelos informantes
para cada pergunta. Um agrupamento deste tipo é pouco recomendável.
Independentemente
do agrupamento escolhido, também será necessário definir se a cartografia será
feita com base na primeira ocorrência encontrada, na associação com as demais
ocorrências fornecidas pelo informante, na ocorrência de maior número ou de
todas as ocorrências. Isto só será possível diante da análise dos dados. Para
formas diferentes poderão ser adotados critérios diferentes.
Se uma forma for
categórica no país e não apresentar variação, não será necessário expressá-la
em cartas, mas se as formas encontradas em cada localidade, mesmo que em
segunda ocorrência, forem reveladoras de variação (diatópica, diageracional,
diagenérica, diastrática etc.) deverão ser cartografadas. Por exemplo, no
Brasil, ocorre a forma estilingue a
propósito da pergunta 157 do QSL (Como se chama o brinquedo feito de uma
forquilha e duas tiras de borracha, que os meninos usam para matar
passarinho?), mas também ocorrem as formas badoque,
baladeira, funda, setra. O
levantamento de todas as ocorrências nas 250 localidades poderá revelar outras
formas e também poderá, se contabilizadas as ocorrências em segunda e terceira
respostas, revelar que uma delas é categórica em todo o país.
2) Quais serão os tipos de cartas a serem preparadas?
Sobre a
representação dos dados em mapas, pode-se ter, como apresentado por Altenhofen (2008), os seguintes tipos de
mapas:
“Tipos de mapas:
Mapas ponto-símbolo (fenotípicos etc.)
Mapas ponto-dado transcrito
Mapas ponto-dado sonoro
Mapas pluridimensionais
Mapas sintéticos simples ponto-símbolo
Mapas sintéticos com traçado de isoglossas
Mapas poligônicos
Mapas em série (princípio do filme)”
3) Como demostrar a variação em gênero, faixa etária e
escolarização? isoladamente? em conjunto?
Um desafio que se
apresenta para a cartografia dos dados lingüísticos é a definição sobre a forma
de representar a variação social. Encontra-se nos atlas publicados e em
trabalhos monográficos a apresentação de dados através de cruz.
Para o ALiB estão
consideradas três variantes sociais: gênero, faixa etária e escolarização. As
variantes representadas em forma de cruz
e consideradas em sua totalidade gerariam mapas praticamente ilegíveis. Um
estudo de cada fenômeno poderá definir que o uso de representação em cruz se dará apenas para fenômenos
específicos e para variantes isoladas. O cruzamento de todas as variantes
poderá ser expresso em gráficos que devem ser apresentados no verso das cartas,
quando necessário.
Referências
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WORKALiB - Workshop do Projeto AliB - Atlas Lingüístico do Brasil. UFBA,
2008. (apresentação em mesa-redonda).
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GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Noções Básicas de Cartografia. Manuais Técnicos
em Geociências. n. 8. Rio de Janeiro: IBGE, 1999. 130 p.
TEIXEIRA, A.; CHRISTOFOLETTI,
A. Sistemas de Informação Geográfica. (Dicionário Ilustrado). São Paulo: Hucitec, 1997. 244 p.
TELES, A. R. T. F. Noções de Cartografia. Departamento de Transportes da Escola Politécnica,
Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2001. 64 p. (Apostila).
TELES, A.
R. T. F. A cartografia do ALiB. VI WORKALiB - Workshop
do Projeto AliB - Atlas Lingüístico do Brasil. UFBA, 2008. (apresentação em
mesa-redonda).
TELES, A.
R. T. F
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ALiB. In: CARDOSO, Suzana e MOTA, Jacyra (orgs.) Documentos 2 - Projeto Atlas Lingüístico do Brasil. Salvador:
Quarteto Editora, 2006. p. 207-226.
PAINEL OS
CAMINHOS DO ALiB
O ESTÁGIO ATUAL DO
PROJETO ALiB
Jacyra Andrade Mota
(Universidade
Federal da Bahia/CNPq/Brasil)
1.
O que é o Projeto
Atlas Lingüístico do Brasil
O projeto
Atlas Lingüístico do Brasil (ALiB) é um projeto interinstitucional que tem por meta
a realização de um atlas geral no Brasil no que diz respeito à língua
portuguesa. Iniciou-se em novembro de 1996, por ocasião da realização, em
Salvador, no Instituto de Letras da Universidade Federal da Bahia, do seminário
Caminhos e Perspectivas para a
Geolingüística no Brasil.
É coordenado por um
Comitê Nacional que envolve, atualmente, nove pesquisadores[14], de diferentes
universidades brasileiras, a saber: Suzana Alice Marcelino Cardoso (Presidente)
e Jacyra Andrade Mota (Diretora Executiva), ambas da Universidade Federal da
Bahia; Abdelhak Razky (Universidade Federal do Pará), Ana Paula Antunes Rocha
(Universidade Federal de Ouro Preto), Aparecida Negri Isquerdo (Universidade
Federal de Mato Grosso do Sul), Cléo Altenhofen (Universidade Federal do Rio
Grande do Sul), Maria do Socorro Silva Aragão (Universidade Federal da Paraíba
e Universidade Federal do Ceará), Mário Roberto Lobuglio Zágari (Universidade
Federal de Juiz de Fora), Vanderci de Andrade Aguilera (Universidade Estadual
de Londrina), Diretores Científicos.
Além das universidades a
que pertencem os membros do Comitê, mais oito instituições participam do
Projeto ALiB mediante a assinatura de convênio: Universidade Federal do
Maranhão, Universidade Estadual do Ceará, Universidade Estadual de Campinas,
Universidade Potiguar, União Metropolitana de Educação e Cultura, Centro de
Ensino Atenas Maranhense, Centro Federal de Educação Tecnológica da Paraíba e
Fundação Casa de José Américo.
Do ponto de vista
metodológico, o Projeto ALiB pauta-se pelos pressupostos da Geolingüística
Pluridimensional Contemporânea, contemplando, de modo sistemático, não só a
dimensão diatópica, característica dos trabalhos dessa natureza, mas também
outras dimensões como a diagenérica ou diassexual, a diageracional e a diastrática.
Para atender a essa pluridimensionalidade, os informantes distribuem-se
igualmente pelos dois gêneros, por duas faixas etárias e, nas capitais de
Estado, por dois graus de escolaridade. Os diferentes tipos de questionário
permitem, ainda, a análise diafásica e diarreferencial das amostras de fala,
registradas em 250 localidades brasileiras.
2.
Etapas do
desenvolvimento do Projeto ALiB
·
Primeira etapa - iniciada em
novembro de 1996, com a implantação e estruturação do Projeto. Nessa etapa
fixou-se a metodologia a ser seguida e foram desenvolvidos os instrumentos
necessários à pesquisa de campo, especialmente os questionários, cuja última
versão foi publicada em 2001.
·
Segunda etapa - iniciada com a realização
do 1º. inquérito lingüístico, no ponto de número 126 da rede do ALiB
(Quirinópolis, Goiás), em 1º de junho de 2001[15]. Essa etapa
compreende a realização dos inquéritos lingüísticos em todo o território
nacional e, apesar de bastante adiantada, ainda se encontra em andamento,
devendo estender-se até 2009.
·
Terceira Etapa - iniciada em 2004
e prevista para terminar em 2009, essa etapa compreende a preparação das
amostras coletadas para a análise lingüística, com transcrição grafemática e
fonética, e a própria análise desses dados, assim como a constituição de um
banco informatizado de dados.
·
Quarta etapa - prevê a
preparação de cartas lingüísticas, editoração e divulgação dos resultados, com
apresentação gráfica (em cartas lingüísticas) e sonora (em CDs, DVDs e via internet), devendo estender-se até 2009.
3.
Estágio
atual do Projeto
Vencida a etapa inicial, desenvolvem-se, hoje, no Projeto ALiB três
fases, concomitantemente, relacionadas aos itens abaixo relacionados:
O registro “in loco” para a constituição do corpus do Projeto ALiB conta, presentemente, com a recolha integral
em 144 das 250 localidades previstas, o que corresponde a um percentual de
57,6%.
Vale destacar que, nesse percentual, incluem-se 08 Estados com a
documentação concluída, alguns deles representados por apenas duas localidades
(como Acre e Amapá) e outros com um significativo número de pontos, como São
Paulo, estado em que, em razão de sua grande densidade demográfica, se
concentra o maior número de pontos (38) da rede do ALiB.
Os Estados com documentação concluída são: Acre, Alagoas, Amapá, Mato
Grosso do Sul, Paraná, Roraima, São Paulo e Sergipe.
Em vista da decisão tomada na XIII
reunião do Comitê Nacional (Recife, 16-17 de julho de 2003) de dedicar às
capitais de Estado o volume 1 do ALiB, deu-se prioridade ao registro nessas
capitais, tendo-se completado, em todas elas, o trabalho de campo.
Considerando o número de informantes (08, nas capitais e 04, nas demais
localidades), chega-se a um total de 676 informantes dos 1.100 previstos, o que
representa um percentual de 61,45% do total.
As equipes regionais coordenadas pelos membros do Comitê Nacional vêm
realizando, sistematicamente, a transcrição grafemática e fonética dos dados
referentes à documentação coletada por cada grupo. Após a transcrição, em geral
a cargo de graduandos, bolsistas de Iniciação Científica, os inquéritos passam
por duas revisões, atendendo a critérios previamente fixados em reuniões
nacionais.
De acordo com os relatórios apresentados durante o VI Workshop do ALiB, que ocorreu em
Salvador, em abril passado, as amostras das capitais já se encontram
transcritas, assim como grande parte dos inquéritos das demais cidades.
A revisão final da parte fonético-fonológica dos inquéritos realizados
nas capitais, distribuída entre os coordenadores das equipes regionais, deve
ficar pronta até o fim de 2008.
A análise vem se desenvolvendo, paralelamente ao levantamento e à
transcrição dos dados, atendendo, prioritariamente, aos fatos fônicos
referentes às capitais de Estado, para elaboração do fascículo 2 do 1º volume
do ALiB, dedicado às cartas fonético-fonológicas.
Em cumprimento a um dos principais objetivos do Projeto ALiB e de acordo
com decisão tomada na XI reunião do Comitê Nacional (Londrina,
3.3.1. Fatos
fonético-fonológicos
São os seguintes os
fatos fonético-fonológicos em análise:
·
Vogais
pretônicas
·
Vogais
postônicas finais
·
Vogais
postônicas não finais
·
Ditongação em sílaba terminada por sibilante
·
Monotongação
·
/S/ em
coda silábica
·
/l/ em
coda silábica
·
Consoantes
palatais laterais e nasais
·
Iotização
do -lh
·
Róticos
·
/t, d/ em contextos de palatais (seguido de /i/ ou
precedido de /j/)
·
Diferenças
prosódicas das assertivas
Resultados
preliminares, referentes a algumas áreas brasileiras, têm sido discutidos em Workshops do ALiB e em outros seminários
e congressos, como, entre outros: (a) Mota (2007a), Mota e Santos (2007) e Mota
e Souza (2007), a respeito das diferenças entre os falares identificados por
Nascentes (1953) como baiano e nordestino, a partir das realizações do / t, d /, diante da vogal alta palatal (/i/),
em vocábulos como tio, tarde, e depois da semivogal palatal
(/j/), como em muito, doido, em Salvador, Aracaju, Recife,
Maceió e Teresina; (b) Mota (2007b) e Mota e Oliveira (2007), com a análise do
valor estilístico de variantes estigmatizadas no português do Brasil, como a
realização despalatalizada ou iotizada da consoante lateral palatal, em mulé, véio (em lugar da pronúncia padrão mulher, velho), e a
ausência dessa mesma consoante, em fia
(por filha), variantes que, em certas
elocuções, adquirem um valor estilístico, em seis capitais do Nordeste brasileiro (Salvador, Aracaju, Maceió, Recife,
Teresina e João Pessoa); (c) Mota e Jesus (2007), com o estudo do /S/ em coda
silábica no Nordeste, em formas como estrada,
caspa, luz, fato que distingue subáreas sibilantes e chiantes, no
português do Brasil; e (d) Aragão (2008), com o estudo da “Variação diatópica e
diastrática na língua portuguesa do Brasil”.
3.3.2. Fatos
morfossintáticos ou léxico-semânticos
Apesar da
prioridade dada aos fatos fonéticos, outros níveis vêm sendo analisados, no
sentido de preparar os fascículos seguintes do 1º volume do ALiB. A título de
exemplo, podem-se citar Cardoso (2007), com “A expressão existencial do
português do Brasil: Ter, Haver e Existir”; Cardoso e Correia (2007), com “O estudo do léxico de
capitais brasileiras a partir de dados do Projeto Atlas Lingüístico do Brasil”,
em que se analisam as denominações para arco-íris;
e Isquerdo (2007), com “Traços de ruralidade no vocabulário de homens de
grandes centros urbanos: uma tentativa de caracterização”.
3.3.3. Questões
Metalingüísticas
A percepção que os
falantes têm da diversidade lingüística brasileira, que se busca apurar através
de 06 questões de natureza metalingüística que integram os questionários do ALiB,
foi objeto de análise realizada por
Vanderci Aguilera, na Universidad de Alcalá de Henares, Espanha, em 2006, em nível de pós-doutorado. Nesse
trabalho, intitulado “Crença e atitudes lingüísticas: um estudo no
português brasileiro”, a autora procura descrever como os 200 informantes das
25 capitais brasileiras julgam a fala de outras áreas do País.
Os resultados dessa
análise têm sido divulgados em comunicações a congressos e outras reuniões
científicas, como, por exemplo, em “O que um Atlas nacional pode revelar sobre
crenças e atitudes de falantes das regiões Centro-Oeste e Sul do Brasil”,
“Crenças e atitudes lingüísticas: o que dizem os falantes das capitais
brasileiras sobre os que falam diferente na localidade” e “Crenças e atitudes
lingüísticas: o que dizem os falantes das capitais brasileiras”. (Cf. Aguilera,
2007a, 2007b, 2007c, respectivamente).
A constituição de
um Banco de Dados e os procedimentos necessários para a preparação de originais
para publicação estão a cargo da Comissão Nacional de Informatização de
Cartografia (CIC), presidida por Silvana Ribeiro. Essa Comissão, instalada em
Salvador, na Universidade Federal da Bahia, em 1º de setembro de 2005, teve
como objetivos:
·
Reunir um grupo de
pesquisadores de diferentes instituições universitárias, com experiência em
informatização de dados lingüísticos e produção de cartas lingüísticas a partir
de Banco de Dados;
·
Definir os pressupostos para
o tratamento informatizado dos dados do ALiB;
·
Discutir preliminares para a
produção de mapas lingüísticos.
·
Na ocasião, foram também
apresentados programas anteriormente utilizados na elaboração de atlas
lingüísticos, como o Atlas Lingüístico
Sonoro do Pará (Razky, 2004) e o Atlas Lingüístico-Etnográfico da Região Sul
do Brasil (Koch; Klassman;
Altenhofen, 2002).
Os procedimentos cartográficos e sua adequação a trabalhos de natureza
lingüística discutidos durante o V Workshop
Nacional do Projeto ALiB, em Salvador, de
Atualmente, os pesquisadores que integram a Comissão Nacional de
Informatização de Cartografia vêm-se
reunindo semanalmente no Centro de Processamento de Dados da UFBA, com vistas à
apresentação de uma proposta de Banco de Dados que atenda às necessidades de um
projeto da dimensão e complexidade do ALiB, considerando-se a extensão do país,
a densidade demográfica de algumas áreas, o número de dados e de variáveis a
considerar, etc.
Ao lado disso, a proposta da base cartográfica que deverá receber os
dados lingüísticos, a cargo de Ana Regina Teles, encontra-se em fase adiantada
de elaboração.
Decorridos mais de 10 anos de sua implantação, o Projeto ALiB pode
contabilizar, hoje, saldos altamente positivos tanto do ponto de vista de um
maior conhecimento do português do Brasil, quanto do desenvolvimento da área de
estudos geolingüísticos no País, com o surgimento de diversas equipes voltadas
para essa área, a elaboração de inúmeros atlas regionais - alguns publicados,
outros apresentados sob a forma de teses de Doutorado - reuniões científicas
voltadas ao estudo da diversidade do português do Brasil com base em dados
empíricos e mesmo o apoio (embora ainda insuficiente) das instituições
nacionais financiadoras de pesquisa.
O quadro que hoje se delineia no Brasil, com relação à Dialectologia, e,
mais especificamente, à Geolingüística, justifica, segundo Cardoso e Mota
(2006) a proposição de uma 4ª. fase no desenvolvimento da Dialectologia
brasileira, que se somaria às três fases já propostas por Cardoso e Ferreira
(1994), tendo como marco divisor o ano de 1996, ano em que se iniciou o Projeto
ALiB.
Referências
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VARIANTES
HISPÂNICAS NO PORTUGUÊS RURAL DA REGIÃO
SUL
DO BRASIL - EMPRÉSTIMOS LEXICAIS[16]
Patrícia Graciela da Rocha
(PGL - Universidade Federal de
Santa Catarina)
1.
Introdução
A divisão do
português brasileiro em áreas lingüísticas tem sido proposta por bom número de pesquisadores,
especialmente a partir da primeira metade do século XX, quando até decreto
oficial houve para a elaboração de um “Atlas Lingüístico do Brasil”. Nessa
época destacaram-se os estudos de Antenor Nascentes[17], nos quais o autor
divide o “falar brasileiro em seis subfalares”, reunidos em dois grupos: “falar
do norte” e “falar do sul”. Desde então, vários pesquisadores se dedicaram a
estudos geolingüísticos para testar empiricamente as hipóteses de Nascentes.
Alguns desses estudos, como os de Cardoso (1986, 1996) no centro-nordeste, têm
apontado fortes coincidências de resultados com as linhas traçadas por
Nascentes.
No entanto, não é
intenção aqui discutir a validade da divisão do falar brasileiro proposta por
Nascentes, mas deter-nos no falar da Região Sul, mais diretamente ligado à área
de estudo do ALERS no eixo da arealidade, priorizado pelos geolingüistas, ou
seja, uma descrição da variação diatópica.
De acordo com
Altenhofen (2002, p. 121), ao delimitarmos áreas lingüísticas, delimitamos,
também, hipoteticamente, fatores extralingüísticos determinantes dessas áreas,
em virtude da possibilidade de correlação existente entre a “variante do
português em estudo” e “os traços extralingüísticos do meio geográfico”, tais
como origem e etnia da população, atividades econômicas, densidade demográfica
e redes de comunicação, migrações históricas, grau de isolamento e de
urbanização, características do espaço em termos de relevo, vegetação e
hidrografia, entre outros.
A Região Sul do
Brasil tem uma pluralidade social, cultural e geofísica rara, que lhe confere
um status particular no estudo do
português brasileiro. Koch (2000, p. 59) destaca quatro fatores que seriam os
principais determinantes externos das variantes do português falado na Região
Sul: 1) a presença de açorianos no leste de Santa Catarina; 2) a existência de
fronteiras políticas com países de fala hispânica no extremo sul e o contato
português-espanhol derivado dessa situação; 3) o contato entre paulistas e
gaúchos em dois fluxos migratórios opostos e o papel das rotas dos tropeiros
paulistas no comércio do gado; e 4) a existência de áreas bilíngües
expressivas, originadas da instalação, nas (antigas) zonas de floresta, de
imigrantes europeus não lusos a partir do século XX.
Além disso, podemos
acrescentar a ocupação da área norte do Paraná por paulistas e a relevância das
migrações internas no processo recente de ocupação da região.
Altenhofen (2002,
p. 133) levanta algumas hipóteses evidenciadas pelas fotografias
geolingüísticas do ALERS[18] e delimita oito
áreas lingüísticas principais na configuração diatópica do português falado na
Região Sul do Brasil. Nessa delimitação, o autor distingue, além de áreas
bilíngües e de transição, três “corredores de projeção de traços” e três “zonas
laterais”: 1) área de transição (Leque
Catarinense, postulado por KOCH, 2000); 2) corredor central de projeção
paranaense; 3) corredor oeste de projeção riograndense; 4) corredor leste de
projeção riograndense (feixe riograndense,
na interpretação de KOCH, 2000); 5) zona lateral açoriano-catarinense; 6) zona
lateral do Paraná do norte (feixe
paranaense, na interpretação de KOCH, 2000); 7) zona lateral da fronteira
sul-rio-grandense; e 8) áreas bilíngües de português de contato.
Mais
especificamente, a fronteira sul do Rio Grande do Sul com o Uruguai, de acordo
com Altenhofen (2002, p. 128), guarda traços de momentos históricos diversos de
ocupação da área e oscilações das fronteiras históricas com o espanhol. Isso se
observa mais nitidamente no léxico, como atestam Koch (1995), Bunse &
Klassmann (1969) e Rodriguez (1998), os quais registram uma série de
hispanismos antigos que podem ser caracterizados como formas de preservação de
marcas de substrato por terem sobrevivido à dominação posterior pelo português.
De acordo com esses autores, são exemplos dessa preservação as palavras jugo = canga, planchar = passar a ferro,
piola = barbante, esquilar =
tosar, dentre outros. Além do nível léxico, os autores apontam preservação nos
planos fonéticos e morfossintáticos, pois a maioria das isoglossas[19] analisadas por
eles estende-se até o centro-norte do Estado, não se limitando apenas à zona
lateral fronteiriça, como acontece no caso de ê e é diante de /s/
em final de sílaba, como em três e dez, que nessa zona oferecem maior
resistência à ditongação.
Nesse sentido, esse
trabalho é parte de uma pesquisa vem dar seqüência a uma série de trabalhos
geolingüísticos e sociolingüísticos que vem sendo desenvolvidos através do
banco de dados do ALERS, do Varsul, do BDSPampa, entre outros, os quais têm
explorado aspectos fonéticos e morfossintáticos, na sua maioria, no espaço
geográfico da Região Sul do Brasil. Neste trabalho, pretendemos estudar
variantes lexicais do português falado no Sul do Brasil que se concretizam como
empréstimos do espanhol nessa região.
2. Metodologia
de análise
O método utilizado
para o levantamento e apresentação dos dados é o da geolingüística tradicional,
utilizado pelo ALERS.
As variantes
apresentadas a seguir percorreram a seguinte trajetória de análise: 1)
Verificação visual dos mapas a fim de verificar se havia alguma arealização dos
itens que se aproximasse das regiões de fronteira do Sul do Brasil com os
países hispânicos vizinhos; 2) Verificação dos significados das variantes no
Dicionário da Real Academia Espanhola (DRAE); 3) Verificação dos significados
das variantes no Novo Dicionário Aurélio de Língua Portuguesa; 4) Verificação
dos significados encontrados em outros dicionários regionalistas brasileiros
e/ou hispânicos com comentários relevantes para a descrição mais apurada de
algumas variantes (Dicionário Gaudério;
Vocabulário Pampeano - pátrias - fogões - legendas; Dicionário de Regionalismos
do Rio Grande do Sul; “Doctus” Nuevo Diccionario Castellano; El Habla del Pago;
Diccionario Lunfardo[20] entre outros) e,
por fim, 5) Verificação dos fatores culturais, históricos, sociais, econômicos,
étnicos que podem ter influenciado a arealização ou a existência dessas
variantes hispânicas em determinados lugares, além de comentários de nativos
hispanofalantes sobre os itens referidos[21].
Para que pudéssemos
sugerir que, neste trabalho, uma palavra usada na Região Sul do Brasil (falante
de português brasileiro) é empréstimo ou não do espanhol, seja ele platino,
americano ou europeu, elegemos alguns critérios, são eles: 1) Formar uma
arealização geolingüística clara na Região Sul do Brasil em direção à fronteira
com os países hispanofalantes vizinhos (Uruguai, Argentina e Paraguai); 2)
Estar registrada nos dicionários espanhóis e 3) Constar na bibliografia consultada
como empréstimos do espanhol.
Como mencionado
anteriormente, são consideradas variantes hispânicas, neste trabalho, aquelas
palavras que formam uma arealização diatopicamente clara e relevante na Região
Sul do Brasil em direção à fronteira com os países hispanofalantes vizinhos
(Uruguai, Argentina e Paraguai) e que são encontradas em dicionários espanhóis
e/ou aparecem na bibliografia consultada como originárias do espanhol platino
ou europeu, ou como empréstimos dessa língua.
A literatura
consultada apontava, entre outros vocábulos, as palavras coxilha, sanga, planchar, piola, esquilar, cerro,
rastilho e jugo como tomados do
espanhol platino. De fato, podemos afirmar que encontramos, nos dados do ALERS,
outras variantes hispânicas que são, além de cerro, coxilha, sanga, rastilho e jugo já descritas pela
literatura, galpão, bagual, coiúdo
(colhudo), pastor, borrego, guampudo, aspa, guampa, cola, garrão, chicochoelo,
rengo, lunanco, bolita, bodoque, pandorga (pandolga, bandorga), rinha de galo,
carreira, jogo da/de tava, guisado, borracho e bolicho, consideradas, nesse trabalho, como indícios claros de
empréstimos do espanhol. Além dessas palavras acima mencionadas, encontramos
outras variantes supostamente hispânicas e cognatas, ou seja, palavras que já
estão largamente difundidas no português brasileiro, ou então, palavras que
pertencem aos dois idiomas e que resistem (ou não foram substituídas por outras
variantes lusas), nas regiões de fronteira, pela semelhança. São elas: ladeira (ladeirão), taipa (de pedra),
bergamota, lavrar, carreta (de duas rodas), apear (pear, apinhar), machorra,
corvo, jugo, pêlo (cabelo duro), caloteiro, repouso (materno), raia, crioulo,
corpinho (corpim), carpim, chibo (chibarro), astilhar, rengo, bidu e pucho.
No entanto, devido
ao pouco espaço destinado a artigo, analisamos mais detalhadamente apenas o
item lexical Jogo de/da tava.
3.1
O caso do Jogo de /da tava
Com a intenção de
levantar variantes lexicais usadas para designar jogo do osso, o ALERS fez a seguinte pergunta: O jogo em que se atira um osso para ver quem tem sorte?
Como pode ser
examinado no mapa do ALERS n°
No entanto, o que chama a atenção na
configuração desse mapa é a distribuição das variantes jogo de/ do osso e jogo de/
da tava no espaço que delimita o Estado do RS, pois é possível traçar uma
isoléxica clara que parte do extremo sul do Estado,
Quanto à origem do
termo, jogo de/ da tava (taba), o
DRAE sugere que taba é do árabe hispânico ká‘ba e este do árabe clássico ka‘bah que significa jogo em que se
atira ao ar una taba de carneiro, ou outro objeto similar, e se ganha ou se
perde segundo a posição em que caia aquela.
O Aurélio considera
tava, variante de taba, vindo do espanhol platino taba. Brasileirismo do Rio Grande do Sul
que constitui o osso do jarrete da rês vacum e é ao mesmo tempo um jogo gaúcho,
que consiste em se atirar ao ar o tava
com um lado chato e outro redondo, vencendo aquele que fizer tombar a parte
chata (sorte) para baixo.
Garcia (1953)
afirma que taba, em espanhol, é o mesmo que astrálago e também, o jogo do
osso. Além disso o autor traz expressões como menear taba (na América, Argentina, quer
dizer charlar, dar à trela) e menear
(uno) las tabas (no sentido figurado significa andar com muita pressa).
Braun (1998) acrescenta ainda que Jogo da tava é o mesmo Jogo
de osso, conhecido, em toda a vasta campanha. É o mesmo jogo de tava, ou carnicol
[...] trazido ao
solo pampeano pelos andejos da Espanha, que o guasca, cheio de manha, agauchou
com perícia dando mais arte e malícia no chão de nossa campanha. E o guasca o
levou consigo às rudes tabas
selvagens, onde os índios, personagens barbarescas deste chão, o fizeram
diversão nas suas disputas brabas, Talvez daí o nome tabas dado ao osso do garrão. E o astrágalo da rês foi sendo
chamado taba que o selvagem
falquejava desquinando cada lago, um deles bem achatado, outro com reintrância
forte, é a cara chamada sorte e o culo é o lado aplainado (coroa).
Consiste o jogo em lançar a tava no
ar, girando, duas ou três voltas dando na direção da “raia” conforme o lado que
caia o jogador perde ou ganha. É o jogo que, na campanha dá peleia a la
gandaia. Houve um tal de João das Pedras, no meu pago Missioneiro, indiosito
carpeteiro, mais feio do que um macaco, mas que na tava era taco. Que eu vi, num dia de olada, botar quarenta
“clavada” dentro do mesmo buraco. (BRAUN, 1998, p. 206-207).
Nunes & Nunes
(2003) confirmam a versão de Braun (1998) e acrescenta que o Jogo
da tava é um jogo muito usado na fronteira, principalmente pela baixa
camada social. O autor descreve ainda mais detalhadamente as regras e o espaço
destinado ao jogo
Vancê sabe como se
joga o osso? / Ansim: / Escolhe-se um chão parelho, nem duro, que faz saltar,
nem mole, que acama, nem areento, que enterra o osso. / É sobre o firme macio
que convém. A cancha com uma braça de largura, chega, e três de comprimento; no
meio bota-se uma raia de piola, amarrada em duas estaquinhas ou mesmo um risco
no chão, serve, de cada cabeça da cancha é que o jogador atira, sobre a raia do
centro: este atira daqui pra lá, o outro atira de lá pra cá. / O osso é a taba,
que é o osso do garrão da rês vacum. O jogo é só de culo ou suerte. / Culo é quando a taba cai com o lado arredondado pra baixo: quem atira assim perde
logo a parada. Suerte é quando o lado
chato fica embaixo: ganha logo e sempre. / Quer dizer: quem atira culo perde, se é suerte ganha logo e arrasta a parada. / Ao lado da raia do meio
fica o coimeiro que é o sujeito
depositário da parada e que a entrega logo ao ganhador. O coimeiro também é que
tira o barato - para o pulpeiro. Quase sempre é algum aldragante velho e
sem-vergonha, dizedor de graças. / É um jogo brabo, pois não é? / pois há gente
que se amarra o dia inteiro nessa cachaça e parada a parada envida tudo: os
bolivianos, os arreios, o cavalo, o poncho, as esporas. O facão nem a pistola,
isso, sim, nenhum aficionado joga; os fala-verdade é que têm de garantir a
retirada do perdedor sem debocheira dos ganhadores ... e, cuidado ... muito
cuidado com o gaúcho que saiu da cancha do osso de marca quente!...” (LOPES
NETO apud NUNES & NUNES, 2003, p. 253-254).
Vê-se nessas descrições
que jogo da tava/taba se refere a um
jogo de gaúchos, os quais podem ser os homens do campo de qualquer país da
América do Sul, pois vejamos o que dizem dois hispanofalantes sobre esse item:
“a taba é um jogo de gaúchos, se usa um osso do joelho da vaca, se lança ao ar
e deve cair em ‘cara ou coroa’” (Informante 1, argentino de Buenos Aires). Jogo
da tava é o “jogo de gaúchos chilenos do sul, se joga com ossos de bois
(Informante 2, chileno de Concepción).
Dessa forma, é
perfeitamente compreensível que em quase toda a área do estado do Paraná e em
algumas áreas de Santa Catarina e Norte do Rio Grande do Sul, esse item não
tenha sido registrado, ou seja, as pessoas que responderam ao inquérito do
ALERS não conhecem esse jogo e por isso não o nomearam. Trata-se então de uma
palavra que representa uma cultura de um povo, de uma determinada região, que
não é constatada em outro.
4. Áreas
lexicais de influência hispânica
A partir dessa pesquisa
foi possível delimitar áreas lexicais e isoléxicas na Região Sul do Brasil que
se distribuem em áreas junto às fronteiras com o Uruguai e Argentina e que, ora
avançam do Sul do Rio Grande do Sul em direção ao Oeste de Santa Catarina e
Paraná (acompanhando a rota de migração dos gaúchos rumo à exploração do
Centro-Oeste do país) e ora avançam do sul em direção ao Centro de Santa
Catarina e Paraná (acompanhando a rota estabelecida pelo caminho dos
tropeiros).
Quanto ao grau de
interferência do espanhol no português devemos
concordar com Thun (2000), quando afirma que, no Uruguai, a influência do
contato com o português é heterogênea, pois na faixa imediatamente limítrofe à
fronteira o português segue se fortalecendo graças ao contato contínuo com o Brasil
ao passo que, mais longe da fronteira, na zona distante, a vitalidade do
português diminui. Sendo assim, podemos afirmar que o mesmo se aplica ao
português de contato com o espanhol, nas áreas limítrofes aos países
hispânicos, já que, quanto mais longe das fronteiras, menor é a interferência
das variantes de origem hispânica.
No entanto, era
esperado que, nos lugares de contato mais intenso, ocorresse maior influência
da língua espanhola no léxico do português, formando áreas lexicais mais
homogêneas. Nessa perspectiva, imaginava-se que na fronteira de Santa Catarina
com a Argentina, houvesse pouca influência, assim como em algumas regiões do
RS. Mais uma vez nossa hipótese se confirmou, porém, em parte, pois, embora a
fronteira de Santa Catarina tenha pouco contato (geográfico, comercial,
turístico etc.) ela sofre a influência dos migrantes gaúchos que se deslocam em
direção ao Centro-Oeste do país.
5. Considerações finais
É possível concluir
que a difusão de empréstimos do espanhol varia quanto ao modo e quanto à
intensidade. Há casos cuja diatopia se restringe a áreas de fronteira, em
particular às fronteiras meridionais com o Uruguai e Argentina: rastilho, coiúdo (colhudo), chicochoelo,
borracho, jogo da tava. Outras variantes, além de serem largamente usadas
nas regiões próximas às fronteiras, alcançaram grande difusão, ocorrendo,
inclusive, em regiões de baixo ou nenhum contato com o espanhol, entre as quais
estão: galpão, bolita e bodoque.
Há também casos de
variantes registradas em alguns pontos de fronteira, mas não em outros,
avançando, ás vezes, pelo território, em áreas afastadas da fronteira, como é o
caso de sanga, coxilha, garrão, aspa.
As causas da maior ou menor difusão são diversas, mas o deslocamento de
populações na Região Sul, seja em razão do comércio de gado, seja devido a
migrações internas em busca de novas terras, tem alta relevância, pois com os
falantes, também desloca-se a língua, ou deslocam-se as línguas.
No entanto, devemos admitir que podem ter escapado aos nossos olhos muitos
vocábulos de influência espanhola, pois é comum ao pesquisador se acostumar aos
dados e imaginar que eles não servem, ou então que eles são perfeitos. Sendo
assim, acabamos sendo subjetivos embora tenhamos que ser objetivos. Porém, não
temos a intenção de acabarmos aqui com todas as discussões acerca dos
empréstimos lexicais do espanhol no português brasileiro, pelo contrário, nos
sentimos quase pioneiros na área e acreditamos que discussões mais aprofundadas
sobre o tema enriqueceriam muito a dialetologia brasileira.
Como se sabe, o português falado no Sul do Brasil e, mais especificamente
nas regiões de fronteira, onde o contato com o espanhol é mais intenso,
apresenta centenas de outras palavras atribuídas a esse contato. Isso é
facilmente comprovado na interação lingüística com habitantes desses lugares e
na literatura, tanto em textos em prosa (ver, por exemplo, Rapa de tacho v. I, II e III de Silva Rilho), quanto em poemas e
letras de música gauchesca. Todavia, sem o método geolingüístico de investigação,
pouco se pode dizer sobre a distribuição diatópica e sobre os grupos sociais
responsáveis pela difusão.
Há ainda que ressaltar que, as conseqüências lingüísticas atribuídas ao
contato português-espanhol no Sul do Brasil não se restringem aos empréstimos
lexicais. Muitos outros aspectos, tanto gramaticais quanto
pragmático-discursivos, caracterizam essa variedade de português existente
nessa região. Nesse sentido, nosso estudo é uma pequena e inicial contribuição
na descrição desse português.
Devemos mencionar, também, que, devido às limitações do banco de dados do
ALERS não podemos fazer afirmações categóricas acerca do assunto em questão, já
que são entrevistados apenas um indivíduo por ponto de inquérito conforme o
modelo da geolingüística tradicional. No entanto, isso não invalida a pesquisa
já que a recorrência de um item em cidades próximas reafirma o uso do mesmo
naquela região.
Por fim, esperamos despertar nos futuros leitores um interesse no assunto
e desejamos ter contribuído, ao menos modestamente, com os estudos em
dialetologia no Sul do Brasil, principalmente os sobre o contato do português
com o espanhol, já que os estudos continuam sendo escassos nessa área.
6.
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[1] O Prof.
Valter Koch faleceu em fevereiro passado.
[2] Confira a
esse respeito Isquerdo (2006).
[3] A
primeira edição da obra “Formação do Brasil Contemporâneo”, de Caio Prado
Júnior é de 1942. Para este trabalho consultamos a 9ª impressão da 23ª edição,
de 2006.
[4] As
informações históricas acerca das capitais brasileiras foram buscadas
fundamentalmente no site oficial do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística): http://biblioteca.ibge.gov.br/
.
[5] “Cada
uma de uma série de expedições, particulares ou oficiais, de penetração do
território brasileiro na época colonial (sXVI a XVIII), que ger. partia da
capitania de São Vicente (atual SP) e tinha como objetivos fundamentais a
captura de indígenas e a detecção de jazidas de pedras e metais preciosos”
(HOUAISS, 2001).
[6] “Qualquer das expedições que, descendo e subindo os rios das
capitanias de São Paulo e Mato Grosso, nos sXVIII e XIX, mantinham as comunicações
entre os vários pontos dessas capitanias” (HOUAISS, 2001).
[7] Palmas, a capital do estado de
Tocantins, e Brasília, atual capital
do Brasil, não serão focalizada aqui por não integrarem a rede de pontos do
[8] A
respeito da terminologia de classificação de topônimos, confira Dick (1992).
[9]
MARROQUIM, M. A língua do Nordeste. Curitiba: HD Livros, 1996, p. 9.
[10] Os dados
aqui contidos foram retirados de CARDOSO, S.A.M. et al. Projeto Atlas Lingüístico do
Brasil -AliB. Salvador: UFBA, 2000.
[11] MARROQUIM, M. A
[12] TARALLO, F. A
[13] CARDOSO,
S A. M. et al. Op. cit. p. 13.
[14] O
professor Walter Koch, que esteve no Comitê Nacional desde a sua implantação,
em 1996, faleceu em fevereiro do corrente ano.
[15] Inquérito
realizado por Vanderci de Andrade Aguilera.
[16] Este
trabalho é baseado na minha dissertação de Mestrado (ROCHA, 2008) com algumas
modificações.
[17] Esboço(s)
para a elaboração do Atlas Lingüístico do Brasil I (1958) e II (1961) e d’ O
linguajar carioca (1953).
[18] ALERS:
Atlas Lingüístico-Etnográfico da Região Sul do Brasil.
[19]
Entende-se por Isoglossa a linha virtual que marca o limite, também virtual, de
formas e expressões lingüísticas.
[20] Por Lunfardo entende-se: “Ladrón 2. Jerga del ladrón porteño
(‘En el lunfardo [palabra que designa
al mismo tiempo a la jerga y los que se valen de ella] de los ladrones
bonaerenses, se nota muchas locuciones cuyo empleo a todas luces revela la
necesidad de recurrir en ciertos casos a una jeringoza especial…’, Drago, Los
hombres…, 66). 3. Lenguaje que emplea en Buenos Aires la gente de mal vivir […]
4. Lenguaje popular de Buenos Aires y sus
aledaños.” (OLIVEIRA, 2005.p.1240125).
[21] Esses
comentários serão retirados dos questionários aplicados aos nativos, via
e-mail.