S12. Linguística do Texto e Análise da Conversação  (Comunicações)

CARTA DE LEITOR EM JORNAIS PAULISTAS DO SÉCULO XIX: O ESCREVENTE E O(S) DESTINATÁRIO(S)
CLÉLIA CÂNDIDA ABREU SPINARDI JUBRAN 1
1. UNESP - Universidade Estadual Paulista/São José do Rio Preto, 2. UNESP/SÃO JOSÉ DO RIO PRETO - Universidade Estadual Paulista
cleliaj@uol.com.br



O objetivo do trabalho é mostrar que a repetição de processos linguísticos usados para a representação do escrevente e do(s) destinatário(s) em Cartas de Leitores de jornais paulistas (BR), do século XIX, constitui uma Tradição Discursiva (TD), que particulariza essas Cartas. O fundamento teórico é o do modelo de Tradição Discursiva, desenvolvido pela Linguística Românica Alemã, que implica a relação de um texto com outros, estabelecida pela repetição total ou parcial deles, de elementos formais ou de conteúdo, que filiam um texto a uma família de textos com características comuns. A repetição tem que evocar um dado padrão textual ou elementos linguísticos peculiares de uma maneira de falar ou escrever em determinadas situações concretas de interação. Com base nessa noção de TD, o procedimento metodológico para a análise das Cartas foi a observação de repetições de procedimentos lingüísticos referenciadores do escrevente e do(s) destinatário(s), que mostrassem graus de convencionalidade evocadores de TD. Quanto ao escrevente, sua identificação é feita por um epíteto relacionado com o teor da carta, tendo por procedimento linguístico recorrente a substantivação de adjetivos, que integram o núcleo de um SN, de modo que o escrevente é referenciado pelos atributos a ele predicados. Quanto ao destinatário, ele é invariavelmente nomeado pela expressão Senhor redactor, sempre no Vocativo, manifestando função fática, pela qual o escrevente estabelece contato com o profissional do jornal, ou para solicitar a publicação das cartas, ou para interpelá-lo a fim de que assuma um papel opinativo crítico sobre o problema manifestado na Carta. Como a Carta de Leitor tem como público-alvo o leitor do jornal, ela os incorpora como destinatários, envolvendo-os por meio de perguntas retóricas com teor crítico e do pronome pessoal nós e possessivos correlatos, que funcionam interacionalmente como captadores da adesão do leitor.


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